Ética

LEI ANTICORRUPÇÃO: FLEXIBILIDADE ÉTICA & RISCOS DE PESSOAS. QUAL O PAPEL DO RH?

Dois meses após a entrada em vigor da Lei de Combate à Corrupção (no 12.846), pesquisas de mercado deixam dúvidas se as empresas estão preparadas para assegurar o comportamento ético de seus colaboradores. Olhar para fatores comportamentais, como “a flexibilidade ética” e o perfil de executivos torna-se crucial para as organizações. Entretanto, a realidade é diferente: as áreas de recursos humanos das organizações, muitas vezes, mostram-se despreparadas para lidar com a gestão de riscos.

A lei prevê que as empresas devem responder como pessoa jurídica por atos cometidos por seus funcionários contra a administração pública nacional ou estrangeira. As corporações serão punidas mesmo que não tenham autorizado nenhum ato ilícito por parte de seus funcionários ou terceirizados. “Se antes falávamos em ética como virtude e princípios, agora teremos que responder sobre a instância jurídica que eleva significativamente a responsabilidade das empresas pela conduta de seus profissionais”, observa a CEO da HSD Recursos Humanos, Susana Falchi. As penas da lei vão de multas de 0,1% a 20% do faturamento bruto e podem provocar até o fechamento da empresa.

A realidade é que muito se fala de risco nas organizações, mas poucos gestores se dão conta que o problema é mais grave e deve ser abordado pela ótica da gestão de pessoas, pois o fato é que uma empresa é feita de pessoas e o perfil dos executivos implica diretamente no risco organizacional. “A quebra do mito de que a delegação da gestão da ética aos gestores é suficiente para mitigar riscos operacionais na organização é fundamental, pois as empresas precisam considerar que os interesses dos gestores não necessariamente estão alinhados com os dos acionistas”, alerta o gerente executivo da consultoria de gestão de riscos ICTS, Renato Santos.

O risco fator humano na condução das empresas tem tido pouca atenção por parte dos empresários, acionistas e conselhos de administração. No entanto, o papel das áreas de recursos humanos deve deixar de ser apenas operacional para tornar-se mais estratégico. Isso significa que a tendência é de aumento da responsabilidade na contratação de executivos e no gerenciamento dos riscos. “A grande responsabilidade de RH, que ainda não está integralmente em seu escopo, é o comportamento organizacional, ou seja, o comportamento de seus funcionários e administradores dentro de toda a sua abrangência e complexidade”, afirma Susana.

ÉTICA
A questão torna-se ainda mais crucial, quando é analisado o perfil ético dos profissionais nas organizações sob a ótica de Fraude e Compliance. Levantamento realizado pela consultoria ICTS mostra uma realidade preocupante: metade dos profissionais tende a adotar atalhos antiéticos para atingir suas metas. A pesquisa envolveu 3.211 entrevistados em 45 empresas brasileiras e apontou que, com relação ao Perfil de Aderência Ética Organizacional, mostrou-se que 11% não está aderente; 69% tem flexibilidade e somente 20% é aderente. “O que percebemos é que a maior parte das pessoas não entram na empresa para cometer atos antiéticos”, afirma Santos. “Mas por outro lado, o que impera é uma ética flexível, ou seja há uma conformidade para o bem ou para o mal. A menor parte do universo que pesquisamos (os 20% aderentes), agem sob princípios éticos, considerando, em alguns casos, sua saída da empresa por não compactuarem com certas diretrizes”, diz o executivo.


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