Opinião

“GRC” NAS EMPRESAS FAMILIARES

Os termos Governança, Risco e Compliance (GRC), que ocupam posição privilegiada nos padrões internacionais de gestão empresarial, estão ganhando espaço na mídia, nas faculdades e em eventos no Brasil. Isso pode ser demonstrado, por exemplo, com a reação frente aos escândalos envolvendo a Petrobras e o anúncio pela empresa da “implementação de uma diretoria de governança, risco e conformidade”. Entretanto, pelas dimensões dos modelos de GRC serem consideradas recentes, muitos administradores desconhecem seu significado e sua importância para as organizações no Brasil, especialmente nas empresas familiares.

O conceito de Governança Corporativa já vem sendo divulgado há mais tempo e está associado ao sistema como são dirigidas as empresas, ou seja, à condução da atividade empresarial. Os princípios da governança estão baseados na transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade corporativa. A adoção das chamadas boas práticas de governança tem como principal objetivo otimizar o valor das companhias e contribuir para a sua longevidade. A gestão de risco, por sua vez, envolve adoção de procedimentos que visam minimizar a incidência de responsabilidade à empresa, gestores e terceiros.

O termo “Compliance”, que por muitos tem sido traduzido como “conformidade”, está relacionado em o quanto uma organização está adequada às normas, procedimentos e práticas recomendáveis ou obrigatórias pela lei. A partir da compliance, realiza-se um monitoramento proativo do cumprimento de exigências legais, a efetiva adoção de medidas que minimizem os riscos e evitem suas penalidades, aumentando a proteção da empresa e dos gestores, além de preservar danos à imagem e melhorar o relacionamento com colaboradores. Isso significa que os programas de compliance promovem a integridade da empresa na medida em que lhe confere o potencial de prevenção de infrações à lei. É uma forma de concretizar a governança e gerir com mais inteligência os riscos de responsabilização.

Os modelos de GRC visam a perpetuidade de uma organização e a melhoria dos seus resultados, o que por si já seriam motivos suficientes para determinar a sua importância e a adoção em todas as organizações. Na empresa familiar esta preocupação é reforçada pela própria característica desse tipo de organização, visto que, em muitos casos, é a principal fonte de renda da família empresária e o local de desenvolvimento profissional de diversos familiares.

A mobilização e pressão por mudanças de tornam mais intensas à medida que as pessoas compreendem que o não cumprimento de obrigações legais pode implicar no fim de uma empresa, assim como no comprometimento da carreira profissional.

Não se preocupar com a perenidade do negócio familiar é um risco muito temeroso e que nenhum empresário está confortável em assumir. No entanto, algumas empresas familiares ainda correm riscos em situações que consideram usuais, tais como, por exemplo, a existência de uma estrutura informal ou a adoção de políticas inadequadas de brindes e presentes, que podem inclusive acarretar em responsabilização diante da nova lei anticorrupção.

Outros fatores também contribuem para que as empresas familiares se interessem na adoção de modelos de GRC. A complexidade de uma sociedade familiar transcende os problemas operacionais relacionados com o mercado, a concorrência, os colaboradores e outros fatores intrínsecos ao negócio. Incluem desafios adicionais tais como a sucessão, a necessidade de equilibrar e conciliar o interesse de familiares atuantes na gestão com outros que são apenas sócios, a preocupação em tomar decisões considerando a forte associação da imagem da empresa com a família, dentre muitos outros. O interesse em implementar mecanismos de GRC nas empresas familiares envolve práticas como uma boa comunicação, a melhoria na tomada de decisões estratégicas e o gerenciamento de riscos.

A compreensão e a adoção de mecanismos de Governança, Risco e Compliance podem oferecer soluções sustentáveis às organizações, sobretudo nas empresas familiares, preservando o patrimônio familiar e melhorando o relacionamento com todos os envolvidos (stakeholders).

(*) Artigo escrito em parceria com Eduardo Saad-Diniz, professor doutor da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) e organizador do Brazilian Center for Business Center & Corporate Liability.



Pedro Podboi Adachi
é especialista em empresas familiares, sócio diretor da Societàs Consultoria e consultor de empresas, com ênfase em planejamento sucessório, governança corporativa e governança familiar.
www.societas.com.br


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