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Relações com Investidores

RI: DUAS DÉCADAS DE CONTRIBUIÇÃO PARA O MERCADO DE CAPITAIS BRASILEIRO

O ano de 2016 foi turbulento em muitas áreas no Brasil e no mundo. Para 2017 espera-se que a inflação caminhe para o centro da meta. Quanto a Selic, a expectativa é de queda, já verificada na última reunião do Copom. Uma retomada consistente da economia e, por consequência, do consumo e investimento, deve vir pela forma com que o governo irá encaminhar as reformas política, previdenciária, tributária e trabalhista.

O Ibovespa deve passar dos 70 mil pontos, patamar alcançado 10 anos atrás. O ano de 2017 terá muitos feriados prolongados. Temos ainda os impactos da eleição nos EUA. O tempo é curto, pois em 2018 teremos eleição e aí o jogo começa do zero novamente. A Lava-Jato continuará a produzir efeitos no campo político e empresarial por mais alguns anos.

Em cenários desafiadores como esse, a estreita comunicação com o mercado costuma ajudar no entendimento do modelo de negócio e nos impactos que as mudanças de cenário causam no negócio. Uma comunicação bem estruturada gera um clima de confiança junto aos agentes do mercado, especialmente naqueles que detêm os recursos. Em processos de capitalização via IPO, por exemplo, a estruturação de uma área de relações com investidores é um dos pontos a se considerar no planejamento, no mínimo dois anos antes da efetiva abertura de capital.

No relacionamento com a instituição financeira para solicitar um empréstimo ou mesmo ao ser questionada por fornecedores ou comunidade local, é importante a empresa possuir uma comunicação corporativa bem estruturada, em que os controles internos e sistemas de gestão consigam capturar as informações contábeis e de outras naturezas de maneira precisa e tempestiva. Empresas bem estruturadas sob esse aspecto conferem vantagens em momentos adversos. Aos gestores cabe a função de sempre estarem preparados para contar a história corporativa, seus fundamentos e realizações. Mesmo que o momento não seja favorável, uma comunicação franca gera credibilidade e boa análise.

O IBRI - Instituto Brasileiro de Relações com Investidores completa 20 anos de atuação no Brasil. A Revista RI está celebrando 19 anos com esta edição comemorativa. Nesse período, avanços como a certificação para o profissional de relações com investidores e outras tantas contribuições para o mercado como um todo colocam o Brasil como referência em boas práticas, regulação e autorregulação. Não por acaso, avanços puderam ocorrer também no que diz respeito à facilidade de acesso para empresas de menor porte, com o segmento Bovespa Mais. A proposta de reforma dos segmentos de listagem traz consigo a maturidade do mercado de capitais brasileiro para discutir e implementar alguns assuntos.

Uma queda consistente da taxa de juros permitirá, como já está ocorrendo, que outras empresas acessem o mercado buscando recursos de longo prazo para implementar seus projetos de crescimento. Para isso, há que se buscar um relacionamento proativo com o mercado por meio de uma comunicação estruturada. Informação é o cerne do mercado e matéria-prima para tomada de decisão. A atividade de RI é, portanto, fundamental nesse processo. Bons casos de abertura de capital de algumas empresas podem ser atribuídos também pelo fato de que esses emissores tinham uma área de RI há 4 ou 5 anos antes do IPO.

Outro fato que deve ser considerado é que sempre haverá divergências entre as percepções da própria administração das empresas e seus investidores quanto à criação de valor. Porém, uma comunicação franca costuma reduzir o gap de entendimentos, aproximando ambas as visões para um ponto ótimo.

O profissional de relações com investidores tem função estratégica dentro das organizações, ou pelo menos deveria ter. Sua importância vai desde capturar as opiniões do mercado até contribuir de forma proativa no planejamento estratégico e melhoria das práticas de governança, especialmente no que diz respeito aos minoritários e na prestação de contas.

Em duas décadas a Revista RI e o IBRI discorreram sobre assuntos como comunicação corporativa, sustentabilidade, governança corporativa, branding, criação de valor, legislação societária, mercado global, ativismo etc., assim como divulgaram experiências de empresas brasileiras e estrangeiras que serviram de exemplo ou modelo no campo das relações com investidores. Não há como desenhar um bom programa de RI sem que se busque estudar o que se discutiu por esses dois jovens ao longo desses anos.

 

Rafael S. Mingone
é sócio-diretor da RMG Capital, empresa que desenvolve soluções de governança corporativa com foco em alternativas de capitalização. Autor do livro "Capitalização de pequenas e médias empresas: como crescer com o mercado de capitais" (Ed. Trevisan). É, também, professor convidado da Trevisan Escola de Negócios, FIA, BI International, Unisa e Instituto Educacional BM&FBOVESPA.
rafael@rmgcapital.com.br


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