Em Foco

GRUPO X: ASCENSÃO E QUEDA

"A diferença entre eu e vocês é que quando chego no fundo do poço, acho petróleo"
Eike Batista, fundador do Grupo EBX

A trajetória do Grupo EBX começou no início da década de 80, com um empreendimento concebido e executado por Eike Batista: a Novo Planeta, primeira planta aurífera aluvial mecanizada da Amazônia. Ao longo dos anos 80, Eike se tornou presidente do Conselho de Administração e o principal executivo da TVX Gold. Foi a partir dessa empresa, listada na Bolsa de Valores de Toronto, no Canadá, que o empreendedor iniciou ao seu relacionamento com o mercado de capitais global.

Eike Batista criou US$ 20 bilhões em valor entre 1980 e 2000 com a implantação e operação de 9 minas de ouro e prata no Brasil e no Canadá (Amapari, Casa Berardi, Crixás, Musselwhite, New Britania, Novo Astro, Novo Planeta e Paracatu), além de uma mina no Chile (La Coipa). Nos anos 2000, começou a operar 3 minas de ferro no Brasil (Mina 63, Tico Tico e Ipê). Eike estruturou e abriu o capital de 6 companhias, no período entre 2004 e 2012, todas listadas no Novo Mercado da BOVESPA, segmento com os mais elevados padrões de governança corporativa: OGX (petróleo), MPX (energia), LLX (logística) , MMX (mineração), OSX (indústria naval offshore) e CCX (mineração de carvão). Assim o Grupo EBX iniciou a operação e construção de seus empreendimentos com US$ 15,7 bilhões em investimentos entre 2011 e 2012, com geração de 20 mil postos de trabalho e previsão de investir US$ 50 bilhões nos 10 anos seguintes.

O Grupo EBX esteve presente em 9 estados brasileiros, no Chile e na Colômbia e com escritório em Nova York (EUA). Contando com parceiros estratégicos e desenvolvendo empreendimentos estruturantes, com foco em tecnologia estado da arte e geração de riqueza, a EBX investiu, principalmente, nos setores de infraestrutura e recursos naturais. Também liderou iniciativas nos setores imobiliário, de tecnologia, entretenimento, esporte, mineração de ouro e catering aéreo e ferroviário. Arbitrou ineficiências no País e atuou na eliminação de gargalos para estimular o crescimento econômico nacional. (Fonte: Wikipedia).

Atualmente a situação das empresas do "Grupo X" é bastante diferente. O fundador Eike Batista tem participação minoritária diluída em novos arranjos societários em benefício dos credores ou pela venda de ativos em 3 empresas do antigo grupo: petroleira OGX, empresa naval OSX e mineradora MMX, todas em recuperação judicial. A antiga MPX (atual ENEVA) de energia e a antiga LLX (atual PRUMO) de logística que tem como principal ativo o Porto de Açu em São João da Barra, RJ, tiveram o controle vendido a empresas estrangeiras.

Veja agora o que o nosso Banco de Dados SABE tem a mostrar sobre a situação atual das principais empresas do antigo "Grupo X": ENEVA (ex MPX), MMX Miner, OGX Petróleo (ex OGX), OSX BRASIL e PRUMO (ex LLX): desempenho das ações nos últimos 5 anos e quadro resumo da situação atual das companhias.

Radar de Desempenho das Ações do "Grupo X" | 30/Mar/2012 à 30/Jan/2017



Fonte: APLIGRAF - Elaboração: SABE

Resumo da Situação Atual das Empresas do Antigo "Grupo X" 

Obs.: AT = Ativo Total, PL = Patrimônio Líquido, Valorização = variação % da cotação ajustada de fechamento de Mar/2012 a Jan/2017.
Fonte: SABE

Os gráficos e o quadro acima apresentam um resumo da situação atual das empresas do antigo "Grupo X". As 3 empresas que não foram vendidas a investidores – (MMX, OGX Petroleo e OSX Brasil) – encontram-se em recuperação judicial e ainda enfrentam grave crise financeira por passivo a descoberto (leia-se patrimônio líquido negativo). Por outro lado, as ações de todas as 5 empresas derreteram desde o seu lançamento em bolsa (IPO). No mesmo período observado (Mar/2012 a Jan/2017) o Ibovespa subiu míseros 0,25%, usando o jargão do mercado "andou de lado".

Matéria de capa da revista Exame (edição 1.045): Histórias de sucesso inspiram e histórias de fracasso ensinam. Se fôssemos fazer um julgamento dos "7 Erros de Eike Batista", poderíamos dizer:

  1. "Não protegeu a empresa de seus próprios defeitos": empreendedores, em geral, impregnam a cultura da empresa com traços marcantes de sua personalidade violando o princípio contábil da Identidade. Todo o seu "espírito animal" capaz de transformar a EBX num gigante foi atropelado pela fraca capacidade de gestão, otimismo exagerado e indisciplina financeira. Para Eike o Conselho de Administração tinha apenas efeito decorativo;
  1. "Diversificou, mas concentrando riscos": a arquitetura organizacional de várias empresas interligadas feitas para auxiliar umas às outras é genial quando tudo dá certo, mas basta um nó da "cadeia" falhar para jogar a rede chão abaixo;
  1. "Guiou-se pelo mercado acionário, e não pela dinâmica de cada setor de negócio": com sua extrema habilidade de captar recursos, Eike criou um Grupo "viciado em Bolsa", ou seja, desde a criação da estratégia até a remuneração dos executivos as decisões eram guiadas pelo preço das ações e não por produtividade ou resultado operacional;
  1. "Desenhou uma estratégia 'TUDO OU NADA'." Acreditando na capacidade de criar empresas e vendê-las em curto espaço de tempo, Eike criou um "monstro" de companhias entrelaçadas com dívidas elevadas, nenhuma geração de caixa, investimentos ousados e premissas otimistas para o preço das commodities;
  1. "Enriqueceu executivos sem enriquecer a empresa": os pacotes de remuneração generosos foram construídos com base na valorização das ações, isto é, se os papéis valorizassem todos sairiam ganhando. Além disso, os bônus não eram atrelados a indicadores de longo prazo incentivando ganhos rápidos. Tentando driblar o paradigma de incentivos de curto prazo versus projetos de longo prazo, o Grupo permitiu que de 2010 a 2015 cinco executivos embolsassem R$129 milhões, vendendo ações próximas do preço recorde sem uma gota de petróleo extraída do fundo do mar;
  1. "Confundiu ambição com pressa": ignorando os especialistas que recomendam diversificar quando o negócio principal estiver maduro para sustentar negócios iniciantes, o Grupo EBX fez tudo ao mesmo tempo para aproveitar o dinheiro farto dos investidores estrangeiros;
  1. "Promoveu apenas os otimistas": como todo empreendedor que acredita cegamente no "sucesso", Eike não gostava de ser contrariado ao tomar decisões. Escolheu "a dedo" executivos com postura "Yes Man" e demitiu um diretor financeiro que recomendou evitar captações de recursos com garantia de produção futura da OGX. O resto você sabe…

COMENTÁRIOS FINAIS
Eike Batista foi "do céu ao inferno" em muito pouco tempo. Executivos e empresários de qualquer setor podem aprender com a incrível ascensão e a fulminante queda de Eike Batista! Em apenas 2 anos passou de candidato a mais rico do mundo a fracasso na Bolsa.

Em 2012 teve sua fortuna ampliada em US$10,1 bilhões por causa de cláusulas da venda de parte da EBX para o fundo Mubadala Development, tornando-se a 3ª pessoa mais rica do Brasil, com uma fortuna avaliada em US$12,4 bilhões. Em 2013, segundo o ranking da Bloomberg, sua fortuna diminuiu para US$200 milhões, perdendo mais de 99% de seus ativos em 1 ano. Em 2014, seu patrimônio foi reduzido, segundo suas contas, a US$1 bilhão negativo.

Em 2015, seus bens e de seus familiares, como a ex-mulher e filhos, foram bloqueados.

Em janeiro deste ano, tornou-se foragido da justiça brasileira e teve seu nome incluído na lista da Interpol, após ter o mandado de prisão preventiva decretada pela Justiça do Rio. Finalmente, no dia 30 de janeiro de 2017, Eike foi preso pela Polícia Federal ao desembarcar no Aeroporto Internacional do Galeão no Rio de Janeiro.

Aguardemos os próximos capítulos...

Luiz Guilherme Dias 
é sócio-diretor da SABE Consultores, consultor de empresas e conselheiro certificado.
lg.dias@sabe.com.br


Continua...