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Opinião

DESAFIOS DO TRABALHO REMOTO PARA RELAÇÕES COM INVESTIDORES

No final de 2019, quando normalmente apresento o plano estratégico de relações com investidores (RI) para a diretoria, eu não poderia imaginar que, apenas três meses depois, todo o meu planejamento teria que ser reestruturado, fosse em termos de “road shows”, conferências e reuniões de atualizações com investidores, ou em relação ao Dia do Investidor e visitas aos escritórios regionais.

Da noite para o dia, tivemos que nos recolher e nos adaptar à nova realidade do trabalho remoto. De certa forma, o trabalho de RI já possibilitava parcialmente isso, devido ao grande número de viagens e reuniões fora do escritório. Mas como adaptar agenda, incertezas e impactos financeiros com a chegada de uma pandemia que nos fez repensar, inclusive, nossos conceitos e prioridades?

Estamos na “Era da Inovação” e sempre ouvi colegas de outras áreas dizerem que era muito difícil inovar em RI. Está aí um bom momento para que as áreas quebrem seus tabus e utilizem a tecnologia a seu favor. As viagens foram substituídas por road shows virtuais, que se tornaram mais produtivos e assertivos, permitindo conectar, em questão de minutos, investidores de todos os continentes. Sim, você leu corretamente... o tempo gasto em aeroportos e deslocamentos passou a ser utilizado como tempo “produtivo”.

Apesar de todo o cenário de incerteza, a pandemia aproximou RIs, executivos e investidores, pois fez com que muitas pessoas que não tinham acesso a CEOs, CFOs e COOs passassem a conhecer um pouco mais sobre as companhias, seus desafios e estratégias. Em especial, podemos destacar os investidores pessoa física, cujo número, desde o início da pandemia, cresceu 28%, segundo dados da B3. O “novo normal” no início parecia um pouco estranho e, hoje, mais de 90 dias depois, percebemos que veio para ficar e trouxe mudanças muito positivas para o dia a dia, com destaque para a maior visibilidade e inserção dos RIs nas pautas estratégicas das companhias, além da “chuva” de lives e webinars que entregam conteúdo permanente e constante para o público.

Entretanto, todo esse uso de inovação e tecnologia não substituirá totalmente as reuniões presenciais, uma vez que o relacionamento entre investidores e companhias vai muito além de histórias contadas em slides de powerpoint. Ele vem da construção de uma relação de confiança e fidelidade, que é estabelecida a partir de sinais físicos, como um aperto de mão. A confiança e o comprometimento assumidos em uma reunião presencial não podem ser substituídos por telas de computadores, que muitas vezes ficam com as câmeras desligadas, deixando a impressão de que falamos com a máquina, sem termos a certeza de que a pessoa do outro lado conseguiu captar a mensagem desejada

Na minha opinião, o modelo ideal será híbrido, composto por otimização de viagens, que passarão a ser mais bem aproveitadas, a fim de fidelizar os investidores, e uma parcela substancial de encontros será feita por meio de road shows virtuais, que passarão a ser mais frequentes e demandados para follow-up de informações. Além disso, lives e webinars temáticos serão cada vez mais cruciais para entendimento e imersão nos negócios de atuação. E, se preparem, porque grande parte do orçamento das áreas de RI será capturado pela área de controladoria em 2021.  

Marilia Nogueira
é diretora de comunicação e eventos do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI) e gestora executiva de relações com investidores da EDP Energias do Brasil.
marilia.nogueira@edpbr.com.br


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