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Criação de Valor

PETROBRAS E O NECESSÁRIO AJUSTE NA ESTRATÉGIA E CULTURA

O VEC - Criação de Valor mostra como os Investimentos/Capex levaram a destruição da riqueza da Petrobras, e pode ser a chave para ajustar o foco de seu novo planejamento estratégico.

A Petrobras fez investimentos expressivos nos últimos 20 anos, mas que não se traduziram em um aumento equivalente de produção e resultados. Com isso, as peers globais - British Petroleum, Chevron, Exxon Mobil e Shell - deixaram a estatal brasileira para trás.

A análise a seguir vai mostrar que esses investimentos cresceram muito no período: no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (1999-2002), por exemplo, ficaram em tímidos US$ 2,8 bilhões; já nos oito anos sob Lula, subiram a impressionantes U$S 251 bilhões; Dilma e Temer se equivaleram (US$ 40 bilhões e US$ 43 bilhões, respectivamente); e Bolsonaro, no ano passado, investiu US$ 13 bilhões (a nova estratégia da estatal prevê também desinvestimentos entre US$ 20 bi e US$ 30 bi). A análise considera valores na moeda norte-americana, aplicando a metodologia VEC-Valor Econômico Criado / Criação de Valor / EVA / VBM-Value Based Management.

Criação de Valor - VEC
Lucro não é valor e não é caixa, assim, Criar Valor ao Acionista é no mínimo manter e preservar seu Capital Investido. Significa superar a expectativa do Custo de Capital da Cia, ou seja, representa obter retorno sobre capital investido-ROIC superior ao custo de capital-WACC. Em resumo:

  • VEC Positivo ou Índice VEC > 1 = ROIC > WACC = Criação de Valor
  • VEC Negativo ou Índice VEC < 1 = ROIC < WACC = Destruição de Valor.

Em termos de estratégia: até aqui e a partir daqui
De 2006 a 2019, a estratégia da Petrobras esteve em constante mudança. No primeiro ano do intervalo considerado (na gestão Lula), o foco da Petrobras estava na expansão do refino no Brasil – o que agregaria valor à produção doméstica crescente. A previsão de retorno do capital investido era de 16%. Um ano depois, duas mudanças estruturais são feitas no plano estratégico: divisão por segmento (não mais por áreas de negócios); e foco em disciplina de capital, recursos humanos, responsabilidade social, mudança climática e tecnologia. Foram mantidas as metas agressivas de crescimento, de olho na exploração do pré-sal.

Em 2009, a Petrobras manteve o programa de investimentos – a estratégia corporativa então era expandir todos os negócios da companhia com base em crescimento integrado, rentabilidade e responsabilidade social e ambiental. Já no ano seguinte, começa a operação do pré-sal na baía de Santos: a estatal, querendo aumentar ainda mais seus investimentos para elevar produção e reservas de petróleo, gás natural e do pré-sal, capta R$ 115 bilhões, na maior oferta pública de ações já realizada no mundo.

Avançando até 2017, já durante a presidência de Michel Temer, a mudança de gestão na companhia levou à adoção de três novas estratégias: economia de baixo carbono; transformação digital; e gestão financeira e de riscos. O foco operacional estava em redução de acidentes e da dívida líquida da empresa, enquanto o foco de geração de valor teria 4 pilares: preços competitivos; eficiência de investimentos (Capex); eficiência de gastos operacionais (Opex); e programa de parcerias e desinvestimentos.

Chega 2019, primeiro da presidência de Jair Bolsonaro, e com o novo presidente vem uma nova estratégia – está com base em 5 pilares:

  1. Maximizar retorno sobre o capital empregado;
  2. Reduzir custo do capital;
  3. Buscar incessantemente custos baixos;
  4. Meritocracia e respeito às pessoas e ao meio ambiente;
  5. Segurança das operações. 

O Plano Estratégico 2020-2024 adicionou às metas um foco em EVA – métrica de criação de valor que permite identificar ineficiências e viabilizar melhorias na gestão, que também será usada para remunerar executivos. O Plano ainda prevê uma forte política de desinvestimentos, com concentração nos anos de 2020 e 2021.

Baixas por impairment
Parte desses investimentos foi afetada pelos casos de corrupção que predaram a empresa, amplamente noticiados e investigados a fundo pela Polícia Federal. A partir de 2012, a Petrobras reconheceu nada menos que US$ 48,7 bilhões em baixas por impairment, assim distribuídos:

Baixa por Impairment 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Baixa Impairment - em US$ Bi 0,1 0,6 21,6 14,3 5,8 1,2 2,1 2,9

Analisando a Petrobras
Agora olhe-se a produção, em mbpd (milhares de barris/dia): 1.812 em 2002; em 2010 foram 2.583; em 2015, sobe a 2.786; em 2018, recuo a 2.628; e no ano passado, sobe a 2.770. A produção nesses 20 anos cresce 53%; já os Investimentos/Capex aumentam 1.049%. Isso deixa evidente que o que houve nesse período foi uma excessiva destruição de valor na aplicação dos investimentos operacionais.

Veja-se ainda que de 2002 a 2010, a produção cresce 43%, enquanto o barril fica 218% mais caro e as vendas liquidas crescem 416%; de 2010 a 2016, há tombos na produção (-8%), no preço (-43%) e nas vendas (-33%); de 2016 a 2018, a produção cai 4%, o barril sobe 56% e as vendas caem 18%; e em 2019, a produção sobe 4%, o barril fica 8% mais barato – mas as vendas líquidas caem 20%.

Quadro 1 - Produção, preço de barris e indicadores tradicionais de análise financeira: 2002 a 2019

Indicadores e KPIs 2002 2003 2007 2010 2012 2015 2016 2018 2019
1.0-Produção em barris (Mbpd)* 1.812 2.037 2.301 2.583 2.598 2.786 2.790 2.669 2.770
1.1-Preço Barril Petróleo
(Brent) – em US$
25,34 28,43 74,68 80,65 111,55 54,40 46,00 71,64 66,00
1.2-Vendas Líquidas –
em US$ Bi
23,3 30,8 87,6 120,3 144,0 96,6 81,0 95,7 76,6
1.3-Lucro Bruto – em US$ Bi 7,6 12,9 34,0 43,3 35,5 29,6 25,8 34,1 29,4
1.4-EBITDA – em US$ Bi 7,0 10,3 24,2 34,0 27,4 21,9 24,5 31,8 26,0
1.5-Lucro Líquido – em US$ Bi 2,7 6,4 12,5 20,4 10,7 -10,6 -3,7 7,3 10,4

 *Mbpd – milhares de barris/dia.

No quadro 2 vemos a evolução desproporcional entre receitas e lucro operacional, se comparados ao expressivo crescimento dos Investimentos/Capex. Isso destaca as ineficiências dos investimentos efetuados. O giro do capital investido, de 1,6x em 2002, chegou a cair em 2010 a 0,6x e foi piorando (nos últimos 5 anos, gravitou em torno de 0,4x).

Quadro 2 - Vendas, Investimentos, ROIC, Índice VEC e VEC - KPIs de Criação de Valor-VEC: 2002 a 2019

Indicadores e KPIs
de Criação de Valor
2002 2003 2007 2010 2012 2015 2016 2018 2019
2.0-Vendas Líquidas – em US$ Bi 23,3 30,8 87,6 120,3 144,0 96,6 81,0 95,7 76,6
2.1-Capital Investido – em US$ Bi 14,9 20,8 78,5 187,5 253,4 211,0 188,8 183,6 174,2
2.2-Giro Capital Investido 1,6x 1,5x 1,1x 0,6x 0,6x 0,5x 0,4x 0,5x 0,4x
2.3-Margem NOPAT (LOLIR) 15,3% 20,0% 14,6% 16,1% 8,4% 7,2% 8,7% 13,9% 14,9%
2.4-ROIC 23,9% 29,7% 16,3% 10,3% 4,8% 3,3% 3,7% 7,2% 6,6%
2.5-Índice VEC 1,4x 2,9x 1,7x 0,9x 0,5x 0,3x 0,4x 0,7x 0,7x
2.6-VEC – em US$ Bi 1,0 4,0 5,1 -0,3 -14,0 -17,2 -10,1 -6,9 -4,1

Consequentemente, o ROIC (retorno sobre capital investido, na sigla em inglês) caiu de 29,7% em 2003 para 3,3% em 2015. Já o índice VEC® (que representa o quanto o ROIC supera o custo do capital-WACC), foi superior a 1,0x até 2007 – mas a partir de 2010 recua para 0,9x e desaba para 0,3x em 2015 (entre 2018 e 2019 sobe para 0,7x); os valores vistos desde então são negativos e o rombo cresce (em 2016 fica US$ 17,2 bilhões no vermelho). Em 2019 a situação melhora (negativo em US$ 4,1 bilhões), mas, como se vê, ainda um pouco distante do patamar de criação de valor. No gráfico 1 apresenta-se o comportamento citado.

Gráfico 1 - Comportamentos: Capital Investido, Vendas Líquidas, NOPAT (LOLIR) e ROIC: 2002 a 2019
Gráfico 1 - Comportamentos: Capital Investido, Vendas Líquidas, NOPAT (LOLIR) e ROIC: 2002 a 2019

No quadro 3 vê-se que o endividamento oneroso passou de US$ 8,7 bilhões em 2002 a estrondosos US$ 126,2 bilhões em 2017 – alta de nada menos que 1.351% (no ano passado estava em US$ 63,3 bilhões). A relação entre endividamento líquido e EBITDA (lucro antes de juros, impostos e depreciações) subiu de 0,6x em 2007 a 4,6x em 2015 (ficando em 2,1x em 2019).

O valor de mercado das ações cresce de US$ 14,3 bilhões em 2002 para US$ 228,2 bilhões em 2010 – evolução de 1.497%. Entretanto, constata-se que em 2010 ocorreu a maior oferta pública de ações (OPA) realizada na história global até então, representando um expressivo aumento de capital de US$ 68 bilhões – mas em 2015, com as investigações da Lava Jato, o valor de mercado despenca para US$ 26 bilhões – reduzindo em 89%, restando só 11% do visto em 2010. Em 2019 o valor cresceu 25%, para US$ 101 bilhões.

O MVA (Valor Adicionado pelo Mercado, na sigla em inglês) também é uma métrica de criação de valor, que mede a expectativa do mercado. Foi positivo até 2010 – a partir de 2012, no entanto, entra no vermelho – chega a US$ 40,1 bilhões negativos em 2015. Em 2019, volta ao azul em US$ 24,5 bilhões.

Quadro 3 - Endividamento, Endividamento Líquido/EBITDA, Valor das Ações, de Mercado e MVA

Indicadores e KPIs
de Criação de Valor
2002 2003 2007 2010 2012 2015 2016 2018 2019
3.0-Endividamento Oneroso - em US$ Bi 8,7 14,6 21,6 69,6 96,1 126,2 118,4 84,4 63,3
3.1-Endividamento Líquido / EBITDA 0,7x 0,5x 0,6x 1,1x 2,6x 4,6x 3,9x 2,2x 2,1x
3.2-Valor das Ações em 30/12* - em US$ 3,50 4,76 13,75 17,49 9,56 1,99 4,93 6,25 7,75
3.3-Valor de Mercado das Ações- em US$ Bi 14,3 30,7 120,7 228,2 124,8 26,0 64,3 81,6 101,0
3.4-Patrimônio Líquido – em US$ Bi 9,5 17,6 67,8 185,9 161,9 66,1 77,6 73,2 67,5
3.5-MVA - em US$ Bi 4,7 13,0 52,8 42,3 -37,2 -40,1 -13,3 8,4 24,5

 *Ajustado pela quantidade de ações em 31/12/2018

O gráfico 2 evidencia o comportamento dos indicadores de Criação de Valor acima.

Gráfico 2 – Comportamentos: Valor de Mercado das Ações, MVA,
Patrimônio Líquido e Endividamento Oneroso
Gráfico 2 – Comportamentos: Valor de Mercado das Ações, MVA, 
Patrimônio Líquido e Endividamento Oneroso

Peers Globais comparadas com a Petrobras
Essa análise considera a comportamento histórico de 2002 a 2019 da Petrobras com as peers globais, British Petroleum, Chevron, Exxon e Shell.

O quadro 4 mostra a análise do comportamento das vendas líquidas das peers globais comparadas com o da Petrobras. Percebe-se que esta, embora grande, não demonstra o mesmo nível de vendas da concorrência:

  • A Petrobras no período apresenta evolução maior: crescimento de 229%, contra 68% (em média) das globais;
  • A partir de 2015, com a queda do preço do barril, o setor como um todo teve queda acentuada nas vendas (em 2016 o nível foi o mais baixo desde 2002);
  • Em 2018, porém, observa-se retomada das receitas no setor como um todo. As peers cresceram em média 32% em 2018, na comparação com 2015. Na Petrobras, no mesmo período, o que se vê é estabilidade, não crescimento;
  • Em 2019, nova queda do preço do barril puxa nova queda de receitas – mas enquanto nas peers esta foi de 8% sobre 2018, na Petrobras foi de 20%.

Quadro 4 - Vendas Líquidas: Peers Globais comparadas com Petrobras - em US$ bilhões

Empresa

2002

2003

2007

2010

2012

2015

2016

2018

2019

BRITSH PETROLEUM

178,7

232,6

284,4

297,1

375,8

222,9

183,0

298,8

278,4

CHEVRON CORP

91,7

112,8

204,0

189,6

222,6

122,6

103,3

158,9

149,6

EXXON MOBIL

178,9

213,2

358,6

341,6

419,1

236,8

200,6

279,3

260,3

SHELL

166,6

198,4

355,8

368,1

467,2

265,0

233,6

388,4

344,9

MÉDIA GLOBAL

154,0

189,2

300,7

299,1

371,1

211,8

180,1

281,3

258,3

PETROBRAS S.A.

23,3

30,8

87,6

120,3

144,0

96,6

81,0

95,7

76,6

No quadro 5 vemos que a produtividade demonstrada pela Petrobras, principalmente entre 2009 e 2012, é muito baixa – de fato, é a empresa menos eficiente entre as peers.

No giro do capital investido, as peers sempre apresentaram (em média) desempenho superior a 1,0x (exceto por 2016), enquanto o da Petrobras circunda o 0,5x desde 2010.

Quadro 5 – Giro de Capital Investido: Peers Globais comparadas com Petrobras

Empresa 2002 2003 2007 2010 2012 2015 2016 2018 2019
BRITSH PETROLEUM 2,0x 2,0x 2,1x 1,9x 2,1x 1,2x 1,1x 1,7x 1,5x
CHEVRON CORP 2,6x 2,6x 3,2x 1,7x 1,5x 0,6x 0,5x 0,7x 0,7x
EXXON MOBIL 1,9x 2,1x 3,2x 2,0x 1,8x 0,9x 0,7x 1,0x 0,9x
SHELL 2,3x 1,9x 2,6x 2,0x 2,1x 1,1x 0,9x 1,3x 1,2x
MÉDIA GLOBAL 2,2x 2,1x 2,8x 1,9x 1,9x 1,0x 0,8x 1,2x 1,1x
PETROBRAS S.A. 1,5x 1,5x 1,5x 0,7x 0,6x 0,4x 0,4x 0,5x 0,4x

O quadro 6 mostra que é significativo o nível superior de margem operacional apresentada pela Petrobras: 21% entre 2018 e 2019 – contra 7,3% na média global em 2019.

Contudo, embora a estatal tenha vantagem nesse indicador, a relevante ineficiência dos investimentos operacionais não permite melhorar os resultados da operação.

Quadro 6 – Margem Operacional: Peers Globais comparadas com Petrobras

Empresa 2002 2003 2007 2010 2012 2015 2016 2018 2019
BRITSH PETROLEUM 5,1% 6,9% 10,8% -1,5% 4,8% -3,8% -0,5% 6,2% 3,9%
CHEVRON CORP 5,2% 12,0% 15,9% 16,9% 20,7% 3,9% -2,0% 13,3% 11,3%
EXXON MOBIL 10,4% 8,8% 18,6% 14,9% 15,5% 8,7% 2,9% 10,1% 6,5%
SHELL 10,7% 9,7% 12,6% 9,3% 11,1% 1,6% 3,5% 8,3% 7,7%
MÉDIA GLOBAL 7,9% 9,4% 14,5% 9,9% 13,0% 2,6% 1,0% 9,5% 7,3%
PETROBRAS S.A. 22,8% 28,0% 21,3% 21,4% 11,3% 10,7% 13,0% 20,7% 21,0%

No quadro 7 evidencia-se o comportamento do ROIC das peers comparados com a Petrobras:

  • A Petrobras somente em 2002 e 2003 conseguiu ROIC elevado e superior as peers. Embora o Relatório Anual de 2006 definia o retorno sobre o capital investido previsto para os próximos anos de 16%, essa meta só foi alcançada em um único ano, em 2007;
  • A partir de 2007, o distanciamento da Petrobras em relação às peers fica evidente, motivado principalmente pelo considerável valor dos investimentos ao longo do período (item 2.1 do quadro 2). Constata-se a gritante diminuição para 4,8% em 2012, a redução para 3,3% em 2015 e de 3,7% em 2016;
  • Com a baixa do preço do barril de petróleo, o ROIC do setor foi muito baixo nos anos de 2015 e 2016, entretanto, as empresas globais conseguem iniciar uma recuperação rápida, já em 2018. 

Quadro 7 – ROIC – Retorno do Capital Investido: Peers Globais comparadas com Petrobras - em (%)

Empresa 2002 2003 2007 2010 2012 2015 2016 2018 2019
BRITSH PETROLEUM 5,5% 8,9% 14,2% -1,8% 6,1% -3,2% -0,4% 8,3% 4,7%
CHEVRON CORP 6,8% 20,0% 27,4% 16,0% 18,6% 2,1% -0,6% 7,8% 6,6%
EXXON MOBIL 12,7% 12,6% 37,5% 17,6% 17,5% 5,5% 1,3% 7,6% 4,5%
SHELL 15,5% 10,9% 20,7% 10,1% 13,5% 1,5% 2,4% 7,6% 5,9%
MÉDIA GLOBAL 10,1% 13,1% 24,9% 10,5% 13,9% 1,5% 0,7% 7,8% 5,4%
PETROBRAS S.A. 23,9% 29,7% 16,3% 10,3% 4,8% 3,3% 3,7% 7,2% 6,6%

O quadro 8 mostra o valor do FCF (Fluxo de Caixa Livre): os valores projetados destes comportamentos definem o Valuation, o quanto vale uma empresa no mercado, dado que os fluxos de caixa da operação representam as expectativas quanto à evolução das futuras atividades operacionais. Os valores foram reunidos em dois períodos comparativos: o primeiro de 2002 a 2014; e de 2015 até 2019. O que se vê é:

  • Entre 2002 e 2014, o comportamento de FCF da Petrobras é o pior dentre todas empresas. Isso mais uma vez evidencia o impacto e confirma a ineficiência dos investimentos operacionais efetuados;
  • Já entre 2015 a 2019, o FCF da Petrobras é o maior dentre as peers – resultado já dá maior austeridade na política de investimentos da companhia (principalmente após a operação Lava-Jato).

Quadro 8 – FCF Acumulado nos períodos: Peers Globais comparadas com Petrobras - em US$ bilhões

Empresa 2002-14 2015-19
BRITSH PETROLEUM 133,9 20,9
CHEVRON CORP 88,0 62,9
EXXON MOBIL 240,3 42,4
SHELL 93,1 13,7
MÉDIA GLOBAL 138,8 35,0
PETROBRAS S.A. -78,6 112,9

No quadro 9, vemos o comportamento do Índice VEC® das peers comparado com o da Petrobras. Lembrando que o índice VEC® demonstra a criação de valor da empresa, ou seja, quando seu valor é superior a 1,0x, a empresa cria valor.

Sendo assim:

  • A diminuição do Índice VEC® da Petrobras a partir de 2007 em relação às peers fica evidente – motivado principalmente pelo representativo valor dos investimentos operacionais iniciados em 2003;
  • A Petrobras criou valor até 2010, quando seu índice VEC® ainda é superior a 1,0x – mas ele já vem em declínio em relação a anos anteriores, dados os expressivos investimentos feitos de 2003 a 2010 (US$ 251 bilhões);
  • O que se vê é a destruição de valor para a Petrobras – reflexo da improdutividade e da falta de crescimento dos resultados operacionais compatíveis e proporcionais. Esses fatores explicam o giro do capital investido ser inferior a 1,0x desde 2009, mais a incapacidade de remunerar o capital investido. Desde então, o índice VEC® sempre foi inferior a 1,0x;
  • De novo, destacam-se negativamente 2015 e 2016, devido à queda do preço do barril (nesse período, o setor teve os piores níveis já registrados no índice VEC);
  • A nova queda do preço do barril de petróleo em 2019 teve impacto negativo nas empresas globais, com o índice VEC do setor caindo de 1,5x para 1,0x. A Petrobras, no entanto, mantém o seu em 0,7x em 2018 e 2019. 

Quadro 9 – Índice VEC - Peers Globais comparadas com a Petrobras

Empresa 2002 2003 2007 2010 2012 2015 2016 2018 2019
BRITSH PETROLEUM 0,7x 1,1x 2,0x -0,3x 1,1x -0,6x -0,1x 1,5x 0,8x
CHEVRON CORP 1,0x 2,7x 3,6x 2,5x 3,0x 0,4x -0,1x 1,4x 1,2x
EXXON MOBIL 1,7x 1,7x 5,1x 2,9x 3,1x 1,0x 0,2x 1,4x 0,8x
SHELL 1,9x 1,5x 2,8x 2,0x 2,7x 0,3x 0,5x 1,6x 1,2x
MÉDIA GLOBAL 1,3x 1,8x 3,4x 1,8x 2,5x 0,3x 0,2x 1,5x 1,0x
PETROBRAS S.A. 1,4x 2,9x 1,7x 1,0x 0,5x 0,3x 0,4x 0,7x 0,7x

O comportamento do valor de mercado das peers globais com a Petrobras fica evidente no quadro 10:

  • Como já vimos, o valor de mercado das ações da Petrobrás cresce de US$ 14,3 bilhões em 2002 para US$ 228,2 bilhões em 2010, evoluindo 1.497%. No mesmo período a média do mercado foi de um crescimento de 46%;
  • Em 2015, devido aos escândalos de corrupção envolvendo a empresa, à queda do preço do petróleo e a forte variação cambial (47% em 2015), esse valor de mercado cai para U$S 26 bilhões (recuo de 89% em relação a 2010);
  • O mercado internacional também foi afetado naquele ano – mas a desproporção em relação à Petrobras é espantosa: o valor médio das peers sofreu redução de 15% em 2015 (frente a 2010);
  • O período de 2016 a 2019 é turbulento para o setor: no geral, houve crescimento nos valores de mercado das empresas, com pequenas oscilações – mas as incertezas quanto ao preço do barril levaram desconfiança aos mercados;
  • Em 2019 o valor de mercado da Petrobras reagiu, apresentando a maior valorização dentre as peers: crescimento de 25% - contra 2% (em média) das concorrentes globais.

 Quadro 10 - Valor de Mercado das Ações das Empresas: Peers Globais comparadas com Petrobras - em US$ bilhões

Empresa 2002 2003 2007 2010 2012 2015 2016 2018 2019
BRITSH PETROLEUM 153,9 178,7 230,7 136,4 132,0 95,9 122,3 127,1 126,5
CHEVRON CORP 71,0 92,4 195,1 183,2 210,5 169,4 222,6 207,0 226,8
EXXON MOBIL 234,1 269,3 504,2 364,1 389,6 324,0 374,4 288,9 295,4
SHELL 150,2 179,0 265,5 205,3 221,6 167,9 225,8 240,9 233,6
MÉDIA GLOBAL 152,3 179,8 298,9 222,2 238,4 189,3 236,3 216,0 220,6
PETROBRAS S.A. 14,4 30,7 120,7 228,2 124,8 26,0 64,3 81,6 101,0

A partir do novo planejamento estratégico de 2020 a 2024, com a inclusão da metodologia de gestão EVA, o desafio à frente da Petrobras agora, é cumprir as metas estabelecidas e melhorar seus resultados, potencializando a criação de valor. No entanto, o cenário da crise da pandemia da Covid19 e a queda do preço do petróleo em 2020, irão impactar negativamente seus resultados em 2020.

Para isso, uma saída é aprofundar o uso dos conceitos da Criação de Valor-EVA/VEC, que tornarão mais claros e definidos os drivers de valor da Cia. Com isso, o ROIC poderá voltar a ficar acima do custo de capital de forma mais rápida. Melhorando seus resultados operacionais e redirecionando investimentos mirando na melhora dos retornos econômicos, a empresa poderá realizar, por assim dizer, mais com menos.

Com foco na Criação de Valor, a Petrobras, além de aumentar o valor de mercado, proporcionará uma transformação relevante na cultura e gestão da companhia. Pode vir a ser um benchmark nacional e global. 

Oscar Malvessi
é fundador da Oscar Malvessi Consultoria em Criação de Valor-VEC e Professor de Finanças da FGV EAESP.
oscar@oscarmalvessi.com.br


Continua...