Entrevista

RONNIE NOGUEIRA, PUBLISHER E DIRETOR EDITORIAL, REVISTA RI

UMA HISTÓRIA DE VISÃO, PIONEIRISMO E PAIXÃO
O publisher da Revista RI fala sobre sua trajetória de 25 anos a frente da principal e mais longeva revista do mercado de capitais brasileiro.

25 anos é um marco! Demonstra consistência, perseverança, propósito, foco e resiliência. Quando esse feito é comemorado no mercado editorial, ganha ainda mais relevância, dados todos os altos e baixos do cenário econômico e social nessas duas décadas e meia. Em 2023, a Revista RI celebra seu jubileu de prata. Não se chega até aqui sem um comandante forte e determinado. Alguém que segura firme no timão quando as ondas ficam altas demais e sabe ligar o piloto automático, para refletir sobre o próximo destino, quando as águas estão calmas. Esse “capitão” se chama Ronnie Nogueira, publisher, diretor editorial e idealizador, junto com seu pai Ronaldo Nogueira, da principal e mais longeva revista da história do mercado de capitais brasileiro.

Nessa entrevista histórica, Ronnie Nogueira nos conta como tudo começou, curiosidades, bastidores, desafios. Sem querer ser óbvia, e já sendo, essa prata tem sabor de ouro. Ouro de campeão. A seguir, acompanhe a história deste vencedor.

Sonia Consiglio: A Revista RI foi lançada em março de 1998, sendo a mais longeva publicação mensal do Mercado de Capitais brasileiro. Com ampla circulação - e distribuição nos formatos impresso e digital - é leitura obrigatória para profissionais e organizações do mercado. Vamos começar do começo. Como surgiu a RI? De onde veio a ideia?

Ronnie Nogueira: Para contar como surgiu a Revista RI, preciso viajar no tempo, retrocedendo até 1985, quando - junto com meu pai Ronaldo Nogueira - fundamos a IMF Editora, com o objetivo de editar guias e diretórios voltados à disseminação de informações ao mercado financeiro e de capitais. Na época, com 22 anos, estudante de economia, eu trabalhava na mesa de operações de uma corretora de mercadorias (Link Commodities), tendo antes estagiado no departamento técnico, e posteriormente na mesa de operações da Open Corretora. Meu pai, um economista visionário do Mercado de Capitais, sempre com várias idéias e projetos “na manga” – idealizou e participou, entre outras iniciativas, do grupo de trabalho que formulou, em 1965, a Lei do Mercado de Capitais (Lei no. 4.728/65); da criação em 1970 da então ABAMEC – Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais (atual Apimec Brasil) – e, naquele ano de 1985, era representante do European Banking Company na América Latina. Uma dessas idéias e projetos, que descobri pesquisando em seus arquivos, era lançar no Brasil um diretório - inspirado no “Who is Who” editado pela Standard & Poor`s - contendo dados e informações completas sobre todos os participantes do mercado financeiro brasileiro, onde, na primeira parte, apresentava dados completos dos Intermediários Financeiros e, na segunda, dos Investidores Institucionais. E assim nasceu em 1985 a IMF Editora, criada especificamente para lançar o guia IMF - Instituições do Mercado Financeiro. O lançamento foi um sucesso, o que nos animou a lançar mais dois anuários, previstos no projeto: Em 1986, o Guia IMF – Companhias Abertas, editado anualmente de 1986 até 2012, contendo o perfil e o balanço de todas as companhias abertas registradas na CVM; e, de 1987 à 2012, o Brazil Company Handbook, editado em inglês, contendo o mesmo perfil de informações, das 100 principais companhias listadas na Bolsa brasileira, com o objetivo de divulgar nossas empresas e o nosso mercado de ações para o resto do mundo.

Para isso, contamos com o apoio da Financial Analysts Federation e do Institute of Chartered Financial Analysts, que cederam seus “mailings” dos membros associados, o que nos permitiu distribuir - via correio internacional - a publicação para mais de 25.000 analistas de investimentos do mercado de capitais em todos os cantos do mundo. Esse projeto do “Company Handbook” deu tão certo, que fomos contactados pelo IFC - International Finance Corporation – “braço” do Banco Mundial, voltado para o desenvolvimento do setor privado de países em desenvolvimento – para replicar o projeto para outros países da América Latina. E assim foi... em 1989 lançamos o México Company Handbook; em 1991 o Venezuela Company Handbook; em 1995 o Argentina Company Handbook; tendo também neste ano, em parceria com a Euromoney, editado o Latin America Company Handbook, contendo o mesmo formato de dados das principais empresas de todos os países da América Latina. O trabalho de divulgação destes mercados emergentes, nos levou a perceber que era necessário preparar nossas empresas e profissionais para melhor se relacionar com esse grande contingente de analistas e investidores globais, que começavam a se interessar pelo nosso mercado, através das melhores práticas de Relações com Investidores. Neste sentido, Ronaldo Nogueira, com grande penetração no mercado de capitais internacional - na época, também atuava como Diretor Internacional da ABAMEC - contactou o NIRI - National Investor Relations Institute (entidade criada em 1970, que congrega os profissionais de Relações com Investidores norte-americanos), através de seu presidente e CEO, na época, Louis M. Thompson Jr. para conjuntamente promover no Brasil um seminário com o objetivo de apresentar aqui as melhores práticas dessa atividade. E assim foi. Em 1994, promovemos em São Paulo, o “1º. Seminário Internacional de Relações com Investidores”, onde além do CEO do NIRI, vieram também executivos de Relações com Investidores de empresas estrangeiras listadas na Bolsa de Nova York, com características semelhantes às companhias abertas brasileiras, com controle familiar e capital pouco pulverizado; além de profissionais de finanças e comunicação para esclarecer melhor sobre a importância estratégica da atividade, até então pouco conhecida e praticada no Brasil. Após o evento, ao organizar todo o material coletado ao fim do seminário, de maneira casual, tomamos conhecimento de um livro trazido pelo CEO do NIRI Louis Thompson. Era o livro “best seller” do expert em Relações com Investidores: William F. Mahoney: “Investor Relations: The Professional’s Guide to Financial Marketing and Communications”. O pensamento de Mahoney “caiu como uma luva” no que se discutia no Brasil. Então, contactamos a editora norte-americana e adquirimos os direitos autorais do livro, para traduzi-lo e publicá-lo no Brasil. Neste momento, já começava a nascer a ideia de criar no Brasil uma entidade nos moldes do NIRI, para congregar os profissionais de Relações com Investidores que, na época, a idéia do nome seria ABRI (Associação Brasileira de Relações com Investidores), que chegou inclusive ser registrado no INPI. A “semente” do projeto do hoje IBRI, nasceu na sede da IMF Editora no Rio, onde traduzimos os “estatutos” do NIRI, adaptando-o para o Brasil. Na sequência, enviamos cartas para 30 empresas brasileiras explicando a proposta de criação do Instituto. O retorno foi imediato. A White Martins e, principalmente, o Banco do Brasil deram total apoio para o projeto, tendo sofrido inicialmente uma pequena resistência por parte da ABRASCA, que tinha na mesa uma proposta de criar um departamento próprio de Relações com o Mercado, dentro da Associação. Após termos enviado as cartas, o diretor financeiro do Banco do Brasil na época, Gilberto Caetano, ligou dando total apoio à iniciativa de se formar o Instituto, e marcou uma reunião. Patrocinaram o lançamento da versão em português do livro do William F. Mahoney, houve um acordo com a ABRASCA e criou-se então o IBRI - Instituto Brasileiro de Relações com Investidores. Quando o IBRI foi fundado, em junho de 1997, foi realizado um seminário no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, sobre Relações com Investidores com a participação de William F. Mahoney, onde foi por nós lançada a versão em português do livro: “Relações com Investidores: O Guia dos Profissionais para Marketing Financeiro e Comunicação”. Aproveitamos a oportunidade e convidamos Mahoney para passar o final de semana em nossa casa em Nogueira, Petrópolis, onde, na varanda - tomando “Bloody Mary” - discutimos a oportunidade da criação do que viria ser a Revista RI, que, inicialmente, seria no formato de newsletter, semelhante a publicação do NIRI, que na época era editada pelo próprio Mahoney. A partir daí, passados nove meses de “gestação”, em março de 1998, nascia o primeiro número da Revista RI, tendo a frente: Ronaldo Nogueira, como publisher; eu, Ronnie Nogueira, como diretor executivo; Sonia Araripe, como editora responsável; e William Mahoney como editor internacional. Hoje, passados exatos 25 anos, contamos, orgulhosamente, com um precioso acervo de 269 edições mensais “ininterruptas” da Revista RI. O resto é história...

Sonia Consiglio: Quem é o Ronnie Nogueira, como foi a formação da cabeça por trás da Revista RI?

Ronnie Nogueira: Sou um curioso, tenho prazer de ouvir boas histórias e desde muito novo já gostava de ler jornal. Sempre tive interesse por assuntos diversos, o que, a princípio, dificultou minha decisão sobre qual carreira seguir. Curiosamente, lembro que a primeira escolha, ainda pré-adolescente, foi o jornalismo. Praticamente por toda minha infância, e início da adolescência, subíamos “religiosamente” para Petrópolis para passar os finais de semana. No caminho, passávamos por um prédio imponente, no início da Av. Brasil, e eu lembro que sempre dizia: um dia vou trabalhar aí! Era o edifício sede do Jornal do Brasil, editora do jornal que eu lia todas as manhãs. O tempo passou e, aos 15 anos, cursando o ensino médio, um ano antes de fazer o Vestibular, comecei a trabalhar como fotógrafo, a partir de umas fotos que fiz “informalmente” da irmã mais nova de minha mãe, Maria, na época com 19 anos, que queria fazer um mural de fotos em seu quarto. As amigas dela viram as fotos, gostaram e em pouco tempo já tinha uma lista grande querendo ser fotografada por mim. Com esse sucesso, montei um “estúdio fotográfico” na sala de jantar da casa de minha tia avó Nina. Trabalhava sem parar. Estudava de manhã, e a tarde fotografava no estúdio. Meu trabalho começou a ter grande repercussão, e tive a minha primeira foto publicada “em destaque” em jornal, na lendária coluna social do Zózimo Barrozo do Amaral no Jornal do Brasil! Não cheguei a ser “funcionário”, mas fui colaborador por um bom tempo do JB com diversas fotos publicadas na coluna do Zózimo, assim como de outros destacados colunistas sociais de outros jornais: Ibrahim Sued, Carlos Swann, Nina Chaves, Hildegard Angel etc... tendo o meu nome sempre em destaque: “Fulana de Tal fotografada por Ronnie Nogueira”. Com o estúdio estabelecido, e já ganhando meu próprio dinheiro, era chegada a hora de decidir qual faculdade fazer. Deixei a opção do jornalismo de lado, e decidi seguir outro caminho: resolvi prestar para Arquitetura e Desenho Industrial. Passei nas duas. Arquitetura no primeiro semestre e Desenho Industrial no segundo. Em março de 1980, com apenas 16 anos, entrei na Faculdade Bennett de Arquitetura. Nas férias de julho daquele ano, passei um mês em Nova York, com o dinheiro que ganhei com a fotografia. Foi uma experiência fantástica, onde torrei quase tudo que ganhei... No segundo semestre, acumulei com a Faculdade de Desenho Industrial na PUC. Na PUC, na Gávea, estudava de 7hs as 12hs, almoçava, e das 13hs ás 16:30hs dava “expediente” no estúdio, em Copacabana, fotografando. As 17hs lá estava eu no Bennett assistindo as aulas de Arquitetura. Por dois anos e meio essa “loucura” foi a minha rotina. Em 1982, ainda trabalhando com a fotografia, mas bem mais devagar, decidi que não eram essas as carreiras que queria seguir e resolvi trancar a duas faculdades, e seguindo os passos de meu pai, decidi fazer Economia. Prestei novo Vestibular e passei para a Cândido Mendes. Em 1983, iniciei na Faculdade de Economia, fui aos poucos deixando a fotografia de lado e comecei a trabalhar no mercado financeiro, estagiando no departamento técnico da Open Corretora. Em seguida, minha carreira profissional segue descrita na resposta anterior. Como na vida nada se desperdiça, minha formação acadêmica nestas três cadeiras, apesar de não ter efetivamente concluído nenhuma, foram fundamentais para me trazerem até aqui. Curioso é que dei todas essas voltas para chegar na minha vocação original: o jornalismo. E, sem falsa modéstia, somando tudo, considero que estes 25 anos a frente da Revista RI me conferem “simbolicamente” um mestrado e doutorado em jornalismo econômico.

Sonia Consiglio: Como nasce uma edição da Revista RI? Explica para a gente o processo de criação de um novo número. Como você decide o conteúdo e quanto tempo leva desde a concepção até o lançamento? Como é formado o time desse sucesso editorial?

Ronnie Nogueira: Cada edição é um novo desafio e tem uma história particular. O mercado de capitais é muito dinâmico e buscamos sempre tentar antecipar tendências e trazer idéias e soluções. Têm pautas que entram praticamente no fechamento da edição, como foi o caso recente do “Escândalo Americanas”, publicada na edição passada (Fev. 2023, no. 267) e outras que levam tempo para serem maturadas, como foi a matéria de capa da edição de maio de 2022 (no. 261), sobre a “Síndrome de Burnout”, um sério transtorno ocupacional que vem impactando o mundo corporativo, e que teve grande repercussão, trazendo luz para esse grave problema comportamental. Contamos com um time de experientes jornalistas e colaboradores antenados a tudo que está acontecendo e que possa ter impacto no mercado. Também temos o privilégio de contar com um Conselho Editorial formado por notáveis profissionais do mercado, que participam dando idéias e também através de artigos onde expressam suas percepções. Posso dizer, com muito orgulho, que contamos com um verdadeiro “dream team”, composto só por craques. Temos também as seções fixas das entidades parceiras, como: IBRI, ABRASCA, IBGC, APIMEC, AMEC - que a cada edição abordam questões relacionadas aos temas que impactam as suas atividades e de seus membros associados, fazendo da Revista RI um verdadeiro fórum de discussões, trazendo para o debate propostas que muitas vezes surgem em nossas páginas e acabam resultando em resoluções e melhorias para o arcabouço e melhores práticas no nosso mercado.

Sonia Consiglio: O que me impressiona na Revista RI é que vocês antecipam movimentos ou os cobrem com muita agilidade, como quando deram capas para: o então recém-lançado Twitter (edição 136, de setembro de 2009); uma possível fusão entre BM&FBOVESPA e Cetip (edição 202, de abril de 2016); e para o Ricardo Amorim desenhado em inteligência artificial (edição de dezembro de 2022), quando as redes sociais começavam a ser invadidas por esse recurso. Como isso acontece? Você fica ligado no mundo 100% do tempo?

Ronnie Nogueira: É uma honra ouvir isso de você, que é uma referência nas questões de Sustentabilidade e ESG, e que há anos vem atuando incansavelmente nestas questões e também antecipando tendências. Como disse anteriormente, sou curioso e, sim, fico ligado 100% em tudo que acontece no mundo, procurando sempre estar antenado nas novidades que possam gerar boas matérias que de alguma forma vão impactar o mercado. Acredito que isso acaba refletindo diretamente no ineditismo de nossas pautas. Vivemos hoje num mundo cibernético, altamente dinâmico e disruptivo, onde a cada momento surge uma novidade, que buscamos sempre trazer em primeira mão para os nossos leitores.

Sonia Consiglio: Você deve ter muitas histórias para contar desse longo período. Qual foi o momento mais desafiador e o mais gratificante na jornada da Revista RI?

Ronnie Nogueira: O momento mais desafiador é todo mês, quando fechamos a edição e já começamos a trabalhar na próxima. É um desafio constante, não só em relação às pautas e matérias, mas sobre como manter a nossa revista sempre relevante, com ampla circulação, chegando cada vez mais a um maior número de leitores e, consequentemente, atraindo um maior número de anunciantes. Estes são, sem dúvida, peça fundamental para nos manter independentes, e com recursos suficientes para continuar investindo na qualidade de nossa publicação. Acredito que temos conseguido, mas confesso que não tem sido fácil. Aproveito aqui para registrar o agradecimento ao inestimável apoio de nossos anunciantes, que permitem que a cada mês possamos “botar nosso bloco na rua”. Por outro lado, não saberia destacar apenas um “momento mais gratificante”, pois são muitos. Destacaria, os prêmios que a revista recebeu ao longo desses 25 anos; os elogios vindos de leitores a cada edição; a satisfação dos anunciantes de verem suas mensagens sendo bem divulgadas; o reconhecimento de pessoas como você, que muito admiramos, sem dúvida nos incentivam a levar adiante essa nossa trabalhosa, mas gratificante empreitada.

Sonia Consiglio: Nessas duas décadas e meia, vocês entrevistaram as principais personalidades do mercado financeiro e de capitais; pessoas inspiradoras, visionárias, polêmicas. Fazendo um retrospecto rápido, quais as primeiras cinco que vêm à sua mente e por quê?

Ronnie Nogueira: É difícil, num universo de 269 edições, selecionar cinco entrevistas. Mas vamos lá. Seguindo uma ordem cronológica, em primeiro lugar, me vem a cabeça a entrevista que fizemos na edição no. 01, com o mentor e então editor internacional da Revista RI, William F. Mahoney, um dos maiores experts do mundo em Relações com Investidores, autor de livros que se tornaram verdadeiras “bíblias” para os RIs. Nesta entrevista, apesar de já passados 25 anos, ele traça as diretrizes que até hoje configuram a essência das relações com investidores, e ainda serve de guia para as nossas edições. Em segundo, sem querer ser “filho coruja”, mas já sendo, destacaria a entrevista que fiz, na edição no. 55 (setembro de 2002), com meu pai Ronaldo Nogueira, que para mim, e para muitos, sempre foi uma referência e inspiração, onde ele aborda a importância primordial da “Educação” para o fortalecimento do mercado de capitais no Brasil. Em terceiro, sem dúvida, uma entrevista também inspiradora - matéria de capa da edição no. 185 (Junho 2014) - que fiz com o grande ícone do mercado, e que foi ativo Conselheiro Editorial da nossa revista, Raymundo Magliano Filho, um dos maiores batalhadores para o desenvolvimento do nosso mercado, onde ele faz um retrospecto de sua trajetória, dando verdadeira aula, uma “master class”, com a força de suas idéias para um capitalismo saudável. A quarta entrevista que me vem, é com o economista Ricardo Amorim, que chamo de “guru”, entrevistado por mim em março de 2009 (edição no. 130), onde ele fez diversas previsões para a economia global, que vieram a se confirmar. Essa edição teve enorme repercussão, sendo inclusive destaque no programa “Manhattan Connection”, da GloboNews. A partir daí, ficamos amigos e ele passou a compor o Conselho Editorial da Revista RI, e foi, entre outras participações, matéria de capa de mais quatro edições da RI: edições: 159 (Dez.2011); 204 (Jun.2016); 242 (Jun.2020); e 267 (Dez.2022). E, last but not least, destaco a entrevista que fiz com o ativista social Edu Lyra, fundador e CEO da Gerando Falcões, na edição 255 (Out.2021). Considero ele um dos nomes mais importantes hoje no mundo, nas questões de combate a pobreza, e que vem fazendo um trabalho incrível de conscientização da sociedade neste sentido. Certamente, poderia citar, pelo menos, mais uma centena de entrevistas - com pessoas inspiradoras e visionárias - que fizemos ao longo desses 25 anos, mas isso fica para o futuro. Quem sabe, um dia, conto em um livro?

Sonia Consiglio: Eu tive a honra de ser capa da edição 265 (Out.2022), e até agora tento absorver esse fato. Conta para a gente os bastidores da definição de uma capa. Tem “finalistas”? Como se dá a decisão final?

Ronnie Nogueira: O processo de escolha da capa é intuitivo. Uma vez fechada as matérias que vão compor a edição, seleciono as que têm mais apelo no momento para figurar nas chamadas de capa. As vezes pode ser um tema específico ou uma personalidade de destaque entrevistada. Na leitura final de todas as matérias sempre tem uma que mais se destaca. E ai, “habemus capa”!

Sonia Consiglio: Alguma capa que te marcou especialmente? Qual foi e por quê?

Ronnie Nogueira: Sem dúvida, a capa que mais marcou, e considero a mais bela de todas nestes 25 anos, foi a da Gisele Bündchen (Out.2007). Não só pela beleza espetacular da modelo, mas também pelo contexto de ter a “uber model” estampada na capa da Revista RI. Explico. Em 2007, a Revista RI recebeu o Prêmio APIMEC de “Veículo de Comunicação do Ano”, por votação direta dos analistas associados. Estimulado pelo importante reconhecimento, achei que era um bom momento para ampliar a circulação e penetração da revista para um universo mais amplo de leitores. Neste sentido, a idéia era iniciar o processo de distribuição também em bancas e livrarias, pois até então a revista só era disponível através de assinatura e distribuição dirigida. Para tanto, julguei que era importante dar uma repaginada no projeto gráfico, pois a RI era reconhecida pela qualidade de seu conteúdo editorial, mas precisava ter um “layout” mais moderno e atraente. Aí, tive a idéia de selecionar quatro das principais empresas “top” de branding e design no Brasil e propor a elas uma “concorrência”, onde o melhor projeto gráfico criado para Revista RI receberia como “prêmio” três anúncios de página dupla nas edições seguintes e a oportunidade de divulgar seus serviços de design para todo nosso público especializado de leitores que incluía um grupo expressivo de profissionais de comunicação. Três das empresas selecionadas toparam participar da “concorrência”, e a vencedora foi a Selulloid AG, com um projeto gráfico sensacional assinado pelo designer Rodrigo Rodrigues, que assina até hoje o design da revista, agora pela sua empresa DuatDesign. O tema da pauta escolhido para essa edição de estréia do novo projeto gráfico era: “O Poder do Branding no Mercado de Ações”. Para isso, pedi para o nosso colaborador na época, expert em branding, Eduardo Tomiya, escrever um artigo sobre o tema, e ele preparou um estudo amplo e minucioso sobre “Branding & Investidores”. Tínhamos aí nossa matéria de capa. Quando estávamos prestes a fechar a edição, tomei conhecimento, pela Bloomberg, de um estudo de um professor da Universidade da Califórnia, Fred Fuld, que tinha criado um índice de ações: “Gisele Bündchen Stock Índex”, composto por ações de 10 empresas – negociadas na Bolsa de Nova York - as quais a modelo participava das campanhas com seu endorsement. E comparava sua evolução com o índice Dow Jones. Seu estudo comprovava que a imagem da modelo era imbatível... o “índice Gisele” superava o Dow Jones! Estava aí confirmada a tese do poder do branding no mercado de ações. Na mesma hora, consegui, via Google, o e-mail do criador do índice, Fred Fuld, encaminhei uma mensagem solicitando uma entrevista, e ele prontamente me ligou. Um hora depois a matéria estava pronta! Só faltava agora a “cereja do bolo”, uma bela foto da Gisele para estampar na capa... A história de como consegui isso é longa, mas, resumindo, em 24 horas eu estava nas mãos com uma fantástica foto “inédita”, aprovada pela própria Gisele, assinada pelo super fotógrafo Bob Wolfenson. Resultado: a revista estreou seu “novo layout”, com a musa na capa, nas bancas e revistarias do Brasil inteiro, vendendo mais de 20 mil exemplares. A capa da edição seguinte, foi uma entrevista com Al Gore, que tinha acabado de receber o Prêmio Nobel da Paz. Mas essa é uma outra história...

Sonia Consiglio: Agora vamos falar de ESG, tema na Revista RI bem antes dessa sigla surgir. Qual a importância de a revista cobrir a agenda da sustentabilidade?

Ronnie Nogueira: As questões hoje denominadas ESG, que já tiveram outros nomes como Responsabilidade Social Corporativa, Responsabilidade Socioambiental, etc, estiveram presentes na RI, praticamente, desde início da publicação. Estes são temas que sempre fiz questão de abordar em nossas edições, por acreditar que sem uma economia sustentável, com meio ambiente preservado e em equilíbrio, com indivíduos tendo seus direitos e necessidades básicas garantidas, e com empresas éticas, íntegras e bem governadas, não há chance de evoluirmos de forma sustentável como sociedade. A edição de julho de 2002 (no. 53), já trazia na matéria de capa a chamada: “Responsabilidade Social, Ambiental e Direitos Humanos: o resultado dessas iniciativas nas Empresas, no Mercado e na Sociedade”. É nisso que hoje acredito, e seguirei acreditando. Assim, esses temas terão sempre destaque nas pautas da RI.

Sonia Consiglio: 2030 é uma data marcante. É o ano em que faremos o balanço do atingimento dos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, definidos por todos os países-membros da ONU em 2015. Você acha que a imprensa vem cobrindo competentemente essa importante pauta?

Ronnie Nogueira: Sim, acredito que a nossa imprensa vem fazendo um importante papel cobrindo e divulgando essa pauta. Vejo veículos de destaque como: Valor Econômico / Valor Investe, O Estado de São Paulo, Revista Exame, Plurale, Capital Reset, entre outros, fazendo um belíssimo trabalho neste sentido. Acho que o papel da mídia é fundamental para conscientizar a sociedade da importância de atingirmos, o mais próximo possível, os 17 ODS, tornando o mundo um lugar melhor para vivermos. Neste sentido, é com muito orgulho que registro que a nossa Revista RI foi reconhecida em 2022, junto com os cinco veículos citados, por uma ampla Pesquisa realizada pela LLYC, como um dos principais Influenciadores em ESG do Brasil.

Sonia Consiglio: Uma característica marcante sua é a generosidade. Quando penso em você, penso em parceria. Qual é na sua opinião a importância de se constituir e manter uma boa rede de relacionamentos nos dias de hoje?

Ronnie Nogueira: Fico muito lisonjeado de ouvir isso. Acredito que a generosidade é uma das mais importantes virtudes do ser humano, de dispor de si de um jeito feliz, livre, desinteressado e transformador. Ninguém faz nada sozinho. A vida é uma via de mão dupla. Um dia eu ajudo você, amanhã você me ajuda... e assim se forma um ciclo virtuoso. Manter uma boa rede de relacionamentos é um grande facilitador para atingirmos de forma mais ágil e eficaz nossos objetivos. Para chegar até aqui, contei com a ajuda de muita gente. Assim como acredito que ajudei outros tantos também.

Sonia Consiglio: O mercado editorial vem passando por profundas transformações nos últimos tempos. Editoras fecharam, títulos sumiram, novos formatos surgiram. Como você analisa o setor hoje e como vislumbra o seu futuro?

Ronnie Nogueira: Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia...
Sem dúvida, esse é um dos nossos maiores desafios. Como já disse, vivemos uma era de grande disrupção. Na área editorial esse desafio se faz ainda mais presente no dia a dia. A pandemia acelerou esse processo, e estamos vivendo um mundo cada vez mais digitalizado. A revista vem acompanhando esse processo. Nossos assinantes da edição física hoje representam 20% do total dos assinantes digitais. Esse percentual se inverteu. Há quatro, cinco anos era o contrário. Por outro lado, a maior disseminação do formato digital nos permitiu atingir um público cada vez maior a cada edição. As redes sociais, em questão de segundos, “viralizam” o link para download da íntegra das edições que disponibilizamos, fazendo a revista chegar a um público cada vez maior... em numa progressão “cibernética”. Isso faz com que a nossa circulação aumente exponencialmente, dando visibilidade ao nosso conteúdo, assim como das mensagens dos nossos anunciantes - que são os “parceiros” que tornam viável todo esse processo.

Sonia Consiglio: Todo bom comandante, programa as próximas viagens. Que mares você ainda quer navegar, quais seus sonhos e quimeras?

Ronnie Nogueira: Para concluir, no início da resposta anterior citei um trecho de uma música do Lulu Santos, agora cito outros dois artistas que gosto muito: Paulinho da Viola: “Faça como o velho marinheiro, que durante o nevoeiro leva o barco devagar...”, e Zeca Pagodinho: “Deixo a vida me levar, vida leva eu...”. E, que Deus siga me ajudando sempre...


Sonia Consiglio
é especialista em sustentabilidade, palestrante, conselheira de administração e SDG Pioneer pelo Pacto Global das Nações Unidas.
bysonia.consiglio@gmail.com


Continua...