A notícia de que, em 2023, o número de CEOs mulheres superou o de CEOs chamados John, publicada pela The CEO Magazine, no Dia Internacional da Mulher em 2024, pode parecer quase absurda. Mas, ao olharmos mais de perto, esse dado é uma prova irrefutável das desigualdades ainda presentes no mundo corporativo, onde, apesar dos avanços, as mulheres continuam sendo sub-representadas em posições de liderança.
Esse número, que infelizmente deveria ser comemorado como uma vitória, esconde a dura realidade de que a disparidade de gênero no mercado de trabalho continua sendo um obstáculo significativo. O fato de que as mulheres ocupam apenas 5% das posições de CEO ao redor do mundo (“Gender 3000 in 2021: Broadening the diversity discussion" do Credit Suisse Research Institute) e cerca de 20% dos cargos em conselhos de administração ("Women in the Boardroom: A Global Perspective" da Deloitte) é um reflexo claro desta desigualdade.
Dito isso, esses números, embora desanimadores, não devem nos paralisar. Eles precisam nos motivar a criar mudanças tangíveis e duradouras.
A importância das alianças masculinas no combate à desigualdade
As mulheres têm se tornado cada vez mais empreendedoras e liderando negócios ao redor do mundo, especialmente em países em desenvolvimento. Na África Subsaariana, por exemplo, elas representam cerca de 60% da força de trabalho na agricultura. No entanto, apesar dessa crescente participação no mercado de trabalho, a liderança empresarial feminina ainda é escassa, principalmente em companhias de grande porte.
A chave para acelerar a mudança nesse cenário está em forjar alianças masculinas poderosas dentro das organizações. Isso significa que os homens, especialmente aqueles que ocupam posições de poder, devem assumir um papel ativo na promoção da igualdade de gênero. A iniciativa “HeForShe”, da ONU Mulheres, tem sido um exemplo de como os homens podem atuar como aliados no avanço das mulheres no ambiente corporativo.
A parceria com os homens não deve ser vista como um ato de concessão ou benevolência, mas sim como uma ação estratégica, que traz benefícios não apenas para as mulheres, mas para toda uma instituição.
Diversidade de gênero e desempenho financeiro: evidências que não podem ser ignoradas
Há uma crescente confirmação de que a presença de mulheres nos conselhos de administração não só promove a inclusão, mas também gera um impacto positivo no desempenho financeiro das empresas. O estudo da McKinsey & Company “Diversity Wins: How Inclusion Matters” aponta que as organizações com maior diversidade de gênero em suas lideranças são 25% mais propensas a ter um desempenho financeiro acima da média de suas indústrias.
Além disso, a pesquisa do Credit Suisse “The CS Gender 3000: The Reward for Change” revelou que instituições com maior representação feminina nos conselhos de administração apresentam melhores retornos sobre o patrimônio líquido (ROE) e valorização de mercado em comparação com concorrentes com maior predominância masculina.
Esses dados são reforçados por outra avaliação realizada pelo Peterson Institute for International Economics, que descobriu que corporações com, pelo menos, 30% de mulheres em posições de liderança têm um retorno sobre o patrimônio líquido 15% superior ao de empresas com menor presença feminina. Ou seja, a diversidade de gênero não é apenas uma questão de justiça social, mas uma estratégia inteligente de negócios.
O valor da maturidade e a diversidade de gênero nas organizações
Embora a diversidade de gênero tenha se mostrado um fator crucial para o desempenho empresarial, há outro elemento que potencializa ainda mais seus efeitos: a maturidade. Companhias que promovem não apenas a igualdade de gênero, mas também a diversidade etária, criam um ambiente mais equilibrado e resiliente. A combinação de diferentes perspectivas e vivências resulta em soluções mais criativas e inovadoras.
A maturidade, além de gerar um valor significativo para as empresas, também é um reflexo de uma cultura corporativa que valoriza o tempo, a experiência e o aprendizado contínuo. Quando as mulheres alcançam posições de liderança e as organizações abraçam a diversidade como um valor central, o seu desempenho global tende a se destacar de forma notável.
O caminho para um futuro mais igualitário
Embora os dados sobre a sub-representação feminina em cargos de liderança ainda sejam desanimadores, os progressos em algumas áreas nos dão esperança. Países como Ruanda, onde mais de 60% dos assentos no parlamento são ocupados por mulheres, mostram que é possível alcançar uma representação política significativa e, quem sabe, replicar esse modelo no mundo corporativo.
No entanto, a transformação real só acontecerá quando homens e mulheres trabalharem juntos, lado a lado, para construir um futuro corporativo mais inclusivo e equitativo. Como sociedade, precisamos continuar a pressionar por mudanças, mas também abraçar as alianças que podem acelerar o processo de transformação. O objetivo final não é apenas aumentar a presença feminina nas empresas, mas criar um ambiente de trabalho mais justo e próspero para todas as pessoas.
Se quisermos um futuro corporativo mais inclusivo, devemos agir agora. A inclusão de mulheres em posições de liderança não é apenas uma questão de justiça social, é uma estratégia comprovada para melhorar o desempenho financeiro dos negócios.
Que possamos aproveitar essa oportunidade para construir um mundo mais igualitário, onde as mulheres possam finalmente ocupar o lugar que merecem no topo das empresas.
Ana Paula Candeloro
é Head do Comitê de Educação do 30% Club, Conselheira Certificada (CCA/CCF IBGC), Mestre em Sustainability Leadership pela Universidade de Cambridge.
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