Imagine que, para um mercado imprevisível, você é a voz de uma True Corporation. Quando o valor das ações oscila como em uma montanha-russa, quem tem o poder de comunicar a mensagem certa? Quem tem a habilidade de traduzir decisões complexas em palavras que acalmam ou empolgam os investidores, em um mundo repleto de emoções e reações imprevisíveis do mercado? A resposta é simples: o profissional de Relações com Investidores (RI), cuja função não é só apresentar números ou relatórios financeiros, mas saber ouvir, saber entender as dores e os anseios, manter o controle e dialogar com o mercado, principalmente em tempos de crise.
Vamos embarcar nessa jornada, e entender a importância do profissional de RI quando o controle da companhia é pulverizado e os riscos de conflitos de agência são potencializados.
Vamos iniciar no século XVI, onde Corporations eram tão raras quanto um diamante. E, quando surgiram, eram grandiosas! A Companhia das Índias Ocidentais – uma gigante do comércio global – foi pioneira em criar a primeira empresa de capital aberto. Imagine que, em 1602, um grupo de comerciantes holandeses decidiu abrir sua empresa para o mundo, permitindo que qualquer um comprasse ações e se tornasse co-proprietário da companhia. “Quer saber, vou investir nessa coisa de exploração de riquezas do Oriente!” – pensaram os investidores, ignorando que isso significaria embarcar em um navio recheado de piratas, tempestades e confusão.
Mas, aqui está o truque: os investidores compraram ações, mas o poder sobre o que acontecia dentro da empresa ficava com os gestores. Esses gestores, claro, tinham o controle e eram o elo entre o dinheiro dos investidores e as aventuras comerciais no mar. Mas, o que acontece quando os gestores e os investidores têm ideias diferentes? Exatamente, o famoso conflito de agência!
O conflito de agência é um daqueles temas que fazem qualquer um suar frio. Isso ocorre quando quem detém o capital (os investidores) não está no comando da empresa e os gestores tomam decisões por eles, nem sempre alinhadas com os interesses dos donos do dinheiro. Lembra da Companhia das Índias Ocidentais? Era uma verdadeira bagunça entre os interesses dos acionistas e os administradores, que estavam mais interessados em ampliar seus próprios portfólios do que garantir que os acionistas ficassem ricos.
Esse problema foi crescendo ao longo dos séculos. O tal controle difuso, com um bando de acionistas espalhados pelo mundo e sem nenhum controle direto sobre as operações da empresa, gera um terreno fértil para o conflito de agência se espalhar. E é aqui que o herói entra: o Relações com Investidores.
Fast forward para o século XXI, e a história se repete. As empresas modernas podem ter escritórios luxuosos e tecnologia de ponta, mas o conflito de agência continua sendo um desafio gigante. O que acontece quando a gestão decide que é hora de fazer um novo investimento em um projeto arriscado, mas os investidores preferem uma abordagem mais conservadora? Quem sai perdendo? Todos – o valor das ações cai, a confiança dos investidores se esvai, e os gestores acabam criando uma verdadeira tempestade financeira.
E o pior de tudo: uma empresa pode se tornar menos eficiente e mais arriscada por causa dessa falta de alinhamento. Como impedir que isso aconteça? Aqui entra o Relações com Investidores, aquele profissional que tem que usar toda sua habilidade de comunicação para impedir que a empresa afunde por causa de um simples mal-entendido entre os gestores e os acionistas.
As True Corporations são um espetáculo à parte. Elas possuem uma fórmula mágica: transparência e alinhamento de interesses entre os gestores e os acionistas. Nada de segredos, nada de joguinhos políticos. Se uma True Corporation vai tomar uma decisão importante, ela vai comunicar isso de forma clara e eficiente para seus investidores.
Agora, o que faz uma True Corporation ser tão boa em mitigar os danos do conflito de agência? O Segredo: A Comunicação é Tudo!
E, claro, quem ajuda a garantir que tudo isso aconteça de forma fluída? O profissional de Relações com Investidores. Ele é o mestre em traduzir números e decisões corporativas complexas para um público que, muitas vezes, só quer saber se seu dinheiro está bem aplicado.
O profissional de Relações com Investidores é, no fundo, um desbravador de crises. Se você acha que o papel desse profissional é apenas enviar e-mails com relatórios trimestrais, pense de novo. Em momentos de turbulência no mercado, quando os investidores estão pulando da cadeira e a imprensa está à porta, o Relações com Investidores é quem segura as pontas. Ele é o escudo entre a empresa e os possíveis desastres financeiros.
Mas não é só: o papel do RI vai muito além de números e relatórios. Ele é também um estrategista de comunicação que mantém o equilíbrio entre as partes interessadas da empresa. Ele trabalha com analistas, agências de rating, investidores institucionais e órgãos reguladores para garantir que a empresa não apenas sobreviva a uma crise, mas saia ainda mais forte.
Em um mundo corporativo globalizado, as regulações surgem como uma espécie de árbitro. Nos Estados Unidos, por exemplo, temos a Lei Sarbanes-Oxley (SOX), que obriga as empresas a serem totalmente transparentes em suas práticas financeiras. A famosa Regulação Fair Disclosure (FD) impede que uma empresa revele informações importantes a um grupo seleto de investidores, dando a todos os acionistas a mesma chance de ganhar dinheiro. Imagine uma grande True Corporation operando em um mercado onde todos têm as mesmas oportunidades de investir nas ações. Parece justo, não?
Mas e se as regras não forem cumpridas? O pesadelo começa: multas pesadas, ações judiciais e até mesmo responsabilidade criminal para os executivos que descumprirem as normas. Sem contar que a perda de credibilidade pode ser irreversível. O que os investidores pensam sobre uma empresa que está envolvida em um escândalo financeiro? Sim, provavelmente vão procurar outro lugar para investir e a empresa vai perder valor de mercado, vai se tornar alvo de aquisição, com consequente troca do comando.
É aqui que entra o Relações com Investidores. Ele é o guardião da ética e da transparência. Ele é quem garante que todos os dados financeiros estejam em conformidade com as regulamentações e que os investidores não sejam pegos de surpresa.
No Brasil, o profissional de Relações com Investidores também deve se alinhar às normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Isso inclui garantir que os fatos relevantes sejam divulgados corretamente, como determinam as instruções CVM nº 358/2002 e nº 480/2009. Ou seja, transparência total, sem margem para surpresas.
A Lei das Sociedades Anônimas (Lei nº 6.404/1976) e o Código Brasileiro de Governança Corporativa também são referências no Brasil, ajudando a moldar o comportamento das empresas e a proteger os acionistas.
Em uma True Corporation, o profissional de Relações com Investidores é muito mais que um elo entre a empresa e seus investidores. Ele é o guardião da transparência e da confiança no mercado. Através de uma comunicação clara e da gestão estratégica de crises, o RI assegura que os investidores se sintam seguros, mesmo nas situações mais desafiadoras.
E, no final, quando o mercado está à beira do caos, são as empresas que têm uma boa comunicação e governança sólida que saem na frente. E quem garante que isso aconteça? O profissional de Relações com Investidores, sempre pronto para mostrar a verdade por trás dos números e reforçar a confiança no futuro.
Marcos Tisser
é Vice Presidente do CE de Mercado de Capitais da ACRJ, Mestre em Finanças pelo IBMEC/RJ.
tisser.mo@gmail.com