Cias. abertas pagaram R$ 94,33 bilhões em proventos no 1T25, maior valor desde 2022, e isso vai continuar... Descubra quem são as líderes em proventos!
Um dos fundamentos da teoria econômica é a relação inversa entre juros da economia e dividendos das empresas. Faz sentido. Quando os bancos centrais apertam a política monetária para conter a inflação, a meta é desacelerar a economia. Isso encarece o crédito e reduz o consumo, com efeitos negativos nos resultados das empresas e nas cotações das ações.
Essa é a regra geral. No entanto, há exceções. Em um levantamento especial para a Revista RI, a consultoria Elos Ayta analisou em profundidade a valorização e o Dividend Yield (DY) de todas as ações do Ibovespa descobriu um grupo seleto de ações resilientes na rentabilidade e, em sua maioria, pagadoras de dividendos generosos. Mesmo com a volatilidade do mercado e os sobressaltos do cenário macroeconômico, algumas ações do Ibovespa tiveram rentabilidades consistentemente positivas ao longo do tempo. E essas ações também remuneraram os acionistas com bons proventos – dividendos e Juros sobre Capital Próprio (JCP).
Apesar dos solavancos da macroeconomia e do desempenho não exatamente animado do Ibovespa durante o primeiro trimestre de 2025, os investidores em companhias abertas não têm do que se queixar.
Os proventos – dividendos e Juros Sobre Capital Próprio (JCP) foram generosos nos três primeiros meses do ano. Segundo o levantamento da Elos Ayta, as 292 companhias listadas em bolsa pagaram R$ 94,33 bilhões em proventos nos três primeiros meses do ano. É o maior valor – sem considerar a inflação – desde o recorde de R$ 152,63 bilhões pagos no terceiro trimestre de 2022, resultado inflado pela retomada da economia no pós-pandemia (Observe o Gráfico 1).
Dividendos desembolsados trimestralmente em R$ Bilhões - 293 empresas listadas na B3
Fonte: Estudo exclusivo Elos Ayta - elosayta.com.br
Há uma característica específica que tende a distorcer os resultados: a Petrobras (PETR4). Maior empresa brasileira por qualquer métrica, em tempos de alta no petróleo (como agora) seus lucros empanam os resultados invariavelmente pujantes das instituições financeiras. Por isso, qualquer avaliação sobre proventos tem de ser realizada com e sem os números da estatal.
Porém, os resultados sem a Petrobras são melhores ainda. Os proventos pagos no primeiro trimestre somaram R$ 77,6 bilhões. Foi o segundo melhor resultado nos últimos cinco anos, perdendo apenas para os R$ 82,55 bilhões distribuídos pelas empresas abertas sem a Petrobras no terceiro trimestre de 2021 (Observe o Gráfico 2).
Dividendos desembolsados trimestralmente em R$ Bilhões - 292 empresas listadas na B3 - sem Petrobras
Fonte: Estudo exclusivo Elos Ayta - elosayta.com.br
Analisemos esses números. A remuneração dos investidores cresceu no período por uma razão endógena e por uma razão exógena. A razão endógena foram os bons resultados da maioria das companhias abertas ao longo de 2024. Os resultados cresceram pelo aumento de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado e pelo fato de que os juros demoraram um pouco para subir. Isso permitiu números melhores na última linha do demonstrativo de resultados, o que eleva o percentual distribuído.
A razão exógena foi a discussão, no âmbito da reforma tributária, da taxação dos dividendos, atualmente isentos de imposto. Atualmente, os dividendos distribuídos pelas empresas são isentos de Imposto de Renda na pessoa física, um regime que permanece inalterado desde 1996. Além de a proposta de tributação sobre grandes fortunas poder colocar esse dinheiro ao alcance do Fisco, o temor de que uma eventual inclusão de todos os proventos entre os rendimentos tributáveis estimulou os gestores a distribuírem proventos contabilizados há muito tempo como sobras de capital.
As campeãs da consistência: 12 ações venceram todas as janelas móveis anuais
O investidor atento sabe que dividendos realmente valem mais quando estão acoplados à consistência de desempenho no mercado. O levantamento da Elos Ayta comprova que essa junção é possível — e já está acontecendo na carteira do Ibovespa.
A pesquisa considerou janelas móveis de 12 meses em quase dois anos, entre maio de 2023 e abril de 2025. Isso reproduz o resultado obtido por investidores que compraram as ações em qualquer momento, desde que tenham permanecido investidos por pelo menos um ano. O primeiro período considerado no estudo da Elos Ayta vai de 31 de maio de 2023 a 31 de maio de 2024. O último começa em 30 de abril de 2024 e vai até 30 de abril de 2025 (Observe a Tabela 1).
Ações da carteira do Ibovespa, com retornos positivos dem 12 meses nos últimos 12 meses
Fonte: Estudo exclusivo Elos Ayta - elosayta.com.br
Esse método permitiu observar a consistência dos retornos ao longo do tempo, captando ciclos de alta e baixa, sazonalidade e eventos pontuais. Ações que geram retornos somente quando o investidor acerta o momento perfeito de entrar e sair não são tão boas assim. Porém, uma ação que proporciona retornos consistentes ao longo do tempo é mais confiável.
A união entre resiliência de preços e distribuição de dividendos indica as ações “ideais”: as que protegem o capital do investidor em cenários adversos, geram renda recorrente e permitem esperar um potencial expressivo de valorização.
Essas ações são o caminho para o investidor que busca uma carteira capaz de resistir ao tempo e ainda gerar retornos satisfatórios. Em um mercado tão instável quanto o brasileiro, essa combinação é mais do que desejável — é uma das chaves para a tranquilidade financeira no longo prazo.
Entre maio de 2023 e abril de 2025, apenas 12 ações do índice conseguiram entregar rentabilidade positiva em todas as 12 janelas móveis de 12 meses. Esse tipo de análise é fundamental para o profissional de RI que deseja demonstrar solidez e visão de longo prazo para seus investidores: mais do que vencer no acumulado anual, trata-se de vencer sempre, independentemente do momento de entrada.
A líder absoluta da amostra foi a Embraer (EMBR3). A mediana de retorno foi de 145,62%. Mesmo no seu pior momento, o ganho foi de 90,48%, quase duplicando o capital investido. É sem dúvida um resultado fora da curva, especialmente quando lembramos que a empresa não distribuiu dividendos, preferindo reter o lucro para investimento.
Logo em seguida, aparecem três representantes do setor de proteína animal: BRF (BRFS3), Marfrig (MRFG3) e JBS (JBSS3). A força da exportação, o dólar valorizado e a reestruturação operacional de algumas dessas empresas explicam em parte o bom desempenho. Como o levantamento encerrou-se em abril de 2025, não consideramos a proposta de fusão entre Marfrig e BRF que será discutida pelos conselhos em meados de junho.
As seguradoras também marcam forte presença: Caixa Seguridade (CXSE3), Porto Seguro (PSSA3) e BB Seguridade (BBSE3) mostraram que a combinação de baixo risco, receitas recorrentes e bons dividendos ainda é uma receita eficaz para gerar valor ao investidor. Combinando receitas previsíveis, riscos controlados e dividendos generosos, essas empresas representam o que muitos gestores definem como “ativos antifrágeis”. Apesar de estar entre as líderes, a Santos Brasil (STBP3) deve sair da B3, o que impede sua comparação em pesquisas futuras.
As ações resilientes também foram, em sua maioria, boas pagadoras de proventos. A Marfrig entregou um dividend yield (DY) de 29,99%; a JBS, 21,33%; a Direcional (DIRR3), 14,28%; a Cemig (CMIG4), 12,25%; e a BB Seguridade, 11,50%.
Esse resultado é notável, considerando que o IDIV — índice de dividendos da B3 — teve um DY de 10,71% no mesmo período e que o CDI ficou abaixo disso, essas empresas combinaram preservação de capital e distribuição de lucros, dois pilares que ganham cada vez mais importância em um cenário de alta complexidade macroeconômica.
Itaú Unibanco supera Petrobras
A Petrobras costuma remunerar bem seus acionistas. Porém, no início de 2025 sua liderança foi contestada por um dos maiores pagadores de proventos da B3, o Itaú Unibanco (ITUB4). O banco distribuiu R$ 7,89 bilhões aos acionistas no trimestre, superando os R$ 6,98 bilhões pagos pela Petrobras. Este é um movimento simbólico e estratégico. Indica que, mesmo em meio ao ambiente de crédito desafiador, o setor bancário segue gerando caixa robusto e remunerando seus acionistas com regularidade (Observe a Tabela 2).
Empresas que desembolsaram mais de R$ 1 bilhão no 1Q25 |
|||
Empresa |
Classe |
mar/24 |
mar/25 |
ItauUnibanco |
Bancos |
16.164 |
20.589 |
Petrobras |
Exploração refino e distribuição |
17.464 |
16.737 |
Vale |
Minerais metálicos |
11.722 |
11.365 |
Ambev S/A |
Cervejas e refrigerantes |
12 |
6.611 |
Banco Brasil |
Bancos |
4.374 |
5.014 |
BBSeguridade |
Seguradoras |
2.493 |
4.504 |
Bradesco |
Bancos |
504 |
3.996 |
JBS |
Carnes e derivados |
4 |
2.223 |
Suzano |
Papel e celulose |
1.309 |
2.193 |
Eletrobras |
Energia elétrica |
0 |
2.192 |
Weg |
Motores compressores e outros |
1.725 |
1.809 |
BTG Pactual |
Bancos |
1.445 |
1.720 |
Santander BR |
Bancos |
1.653 |
1.582 |
Isa Energia |
Energia elétrica |
137 |
1.336 |
Energisa |
Energia elétrica |
406 |
1.116 |
Fonte: Estudo exclusivo Elos Ayta - elosayta.com.br
A ascensão do Itaú ao topo do ranking confirma algo comum a outras líderes de mercado, como a Vale (VALE3) e a Eletrobras (ELET3), maiores pagadoras do período. Parte disso se explica pelo temor da proposta de tributação dos dividendos que tramita no Congresso Nacional. Para muitos conselhos de administração, o momento foi ideal para antecipar distribuições de lucros acumulados, gerando dividendos robustos.
Quem vence o CDI?
O terceiro destaque do estudo da Elos Ayta analisa quem conseguiu superar os juros de mercado medidos pelo CDI, algo difícil considerando-se os níveis atuais da Selic.
Poucas ações conseguiram entregar um desempenho tão bom de forma recorrente. Entre as 87 ações do Ibovespa e os papéis do IDIV e do índice Small Caps, apenas três companhias conseguiram bater o CDI em todas as janelas móveis de 12 meses entre abril de 2022 e abril de 2025: Petrobras PN (PETR4), Petrobras ON (PETR3) e CSN Mineração (CMIN3).
Elas são as mesmas protagonistas que aparecem entre os líderes em dividendos e resiliência — reforçando a robustez desses ativos para o investidor de longo prazo. Mesmo assim, esse grupo seleto reforça a tese de que é possível, sim, construir portfólios de renda variável vencedores em horizontes de tempo realistas.
Ações da carteira do Ibovespa, Small Caps, e IDIV com DY superior ao CDI nos últimos anos
Fonte: Estudo exclusivo Elos Ayta - elosayta.com.br
Implicações estratégicas para o RI e para a governança corporativa
Para os profissionais de Relações com Investidores (RI), esses dados mostram que dividendos continuam sendo um poderoso instrumento de comunicação com o mercado, especialmente quando associados a decisões estratégicas e a previsibilidade em seu pagamento.
Além disso, a resiliência demonstrada por um grupo seleto de ações do Ibovespa indica que há espaço para aprofundar a narrativa de consistência nos materiais de RI. Mostrar que um papel venceu todas as janelas móveis de 12 meses, mesmo com oscilações macroeconômicas, é construir confiança junto a acionistas, analistas e stakeholders institucionais.
Por fim, superar o CDI — mesmo em um ambiente de juros elevados — é a métrica que deve constar em todas as apresentações de desempenho. Ela permite mostrar que a companhia não apenas entrega valor absoluto, mas também relativo, sendo superior à alternativa mais segura do mercado.
Conclusão: dividendos são muito mais que números
O primeiro trimestre de 2025 confirmou aquilo que investidores atentos já sabiam: em tempos de instabilidade, os dividendos são mais do que retorno — são um selo de confiança. E quando vêm acompanhados de consistência e desempenho superior aos benchmarks, tornam-se uma das mais eficazes ferramentas de geração de valor para o investidor e para a companhia.
Em um cenário de mudanças regulatórias iminentes e de disputa por atenção no mercado de capitais, o profissional de RI tem, nos dividendos, uma ponte direta entre performance, transparência e narrativa institucional.
Afinal, como diria Warren Buffett, reinvestir dividendos pode ser uma boa escolha. Mas recebê-los, em meio à incerteza, pode ser ainda melhor.
Einar Rivero
é CEO e sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria - especialista em dados financeiros, referência no mercado devido aos seus insights inovadores provenientes do cruzamento de dados econômicos.
einar@elosayta.com.br