Conselho de Administração

O PERFIL IDEAL DE PRESIDENTE DO CONSELHO BASEADO NOS DA APPLE, MICROSOFT E NVIDIA

Em Lisboa, a Nova School of Business & Economics (SBE) promove um Programa de certificação avançada em Governança Corporativa no qual me certifiquei em 2024. Na SBE, o Advanced Corporate Governance Certificate é concedido mediante a elaboração de um artigo apoiado por um orientador. Procurei extrair os aspectos mais relevantes do artigo que desenvolvi na SBE, focando no papel, perfil e nas características ideais de Presidente do Conselho. A análise tomou como referência presidentes de Conselho das três maiores companhias em valor de mercado atualmente: Apple, Microsoft e NVIDIA.

O sucesso dessas empresas está diretamente relacionado ao crescimento acelerado da inteligência artificial (IA) e à crescente demanda por infraestrutura digital. Além de seus produtos, estas companhias operam com uma agenda global baseada em estratégias de longo prazo, alto nível de inovação e recursos financeiros robustos para aquisições e expansão. Esse planejamento é liderado pelos Presidentes de Conselho, implementado pelos CEOs e aprovado por três acionistas majoritários — Vanguard Group, BlackRock e State Street Corporation — que, juntos, detêm cerca de 19% das ações da Apple, 20% da Microsoft e 20% da NVIDIA.

A confiança desses investidores institucionais nas BigTechs está ligada a fatores como liderança tecnológica, estabilidade financeira, crescimento sustentável, resiliência em cenários de incerteza e diversificação dos negócios.

A análise dos perfis dos Presidentes de Conselho e da composição dos respectivos Conselhos de Administração — que se caracterizam por serem colegiados diversos, com equilíbrio de gênero e mandatos de longa duração — contribui para traçar o modelo ideal de liderança no Conselho. Esse modelo pode inspirar as companhias que compõem o IBrX100.

Os atuais Presidentes de Conselho das BigTechs — Arthur Levinson (Apple), Satya Nadella (Microsoft) e Jensen Huang (NVIDIA) — apresentam perfis com importantes semelhanças e distinções:

Semelhanças:

  • Orientação para a inovação
  • Capacidade de transformação
  • Liderança de longo prazo

Diferenças:

  • Formação acadêmica e trajetória profissional
  • Estilos de liderança
  • Impacto em áreas específicas

Arthur Levinson guiou a Apple na diversificação de produtos e no fortalecimento de iniciativas nas áreas de saúde e sustentabilidade, o que contribuiu para consolidar a marca em mercados emergentes. Satya Nadella transformou a Microsoft em referência global em computação em nuvem e serviços de inteligência artificial. Jensen Huang, por sua vez, posicionou a NVIDIA como líder em IA e computação de alto desempenho, atuando em mercados que moldam o futuro da tecnologia global.

Estes três líderes demonstram como diferentes abordagens e experiências podem ser igualmente eficazes na condução ao sucesso em grandes companhias de tecnologia. Levinson traz uma perspectiva científica e ética que impulsiona a inovação na Apple; Nadella atua como um transformador cultural e tecnológico; e Huang é um visionário técnico que colocou a NVIDIA na vanguarda da revolução da IA.

As diferenças em formação e estilo de liderança refletem trajetórias únicas em cada empresa. No entanto, todos compartilham compromissos fundamentais: foco em inovação, capacidade de adaptação e visão estratégica de longo prazo.

Estrutura dos Conselhos de Administração das BigTechs
Os Conselhos de Administração das BigTechs possuem atualmente as seguintes características: 

Big Tech Membros Equidade de gênero Prazo médio mandato
APPLE 08 50% 9 anos
MICROSOFT 11 45% 6 anos
NVIDIA  12 33%  14 anos

Apple: expansão de ecossistemas e serviços; inovação em saúde digital e wearables; liderança em sustentabilidade; foco em segurança e privacidade de dados.

Microsoft: transformação digital e inovação; expansão global e diversificação de portfólio; foco em inteligência artificial, governança e sustentabilidade.

NVIDIA: liderança em IA e computação de alto desempenho; expansão estratégica e crescimento global; inovação contínua em hardware e software; foco em pesquisa e desenvolvimento (P&D).

Impactos Geopolíticos e Estratégias dos Conselhos
Em relação aos potenciais impactos da nova política tarifária proposta pelos EUA e suas implicações geopolíticas, observa-se que entre as três BigTechs, a Microsoft possui menor exposição direta por ter como foco principal o desenvolvimento de software e soluções em nuvem.

Por outro lado, Apple e NVIDIA apresentam alta exposição, devido à forte dependência de suas cadeias produtivas instaladas na China. A resposta estratégica dos Conselhos de Administração dessas companhias deve incluir, no caso da Apple, a diversificação da produção e a expansão das receitas via serviços; e, no caso da NVIDIA, a realocação geográfica e a adaptação às políticas de exportação dos EUA.

Conclusões
À exemplo dos Presidentes de Conselho da Apple, Microsoft e NVIDIA, os Presidentes de Conselho devem ser dotados de um conjunto único de habilidades, como o compromisso com a inovação, promoção do desenvolvimento sustentável, capacidade de adaptação em cenários de incerteza, resiliência, liderança e visão de longo prazo.

A composição diversa dos Conselhos, com pelo menos 33% de equidade de gênero, certamente tem contribuído para o sucesso destas empresas. Destaca-se o caso da Microsoft, cujas cinco conselheiras não possuem formação em tecnologia ou engenharia, mas agregam valor por meio de suas trajetórias profissionais.

Uma característica comum aos três Presidentes de Conselho das BigTechs é a capacidade de adaptação, aspecto que será ainda mais relevante diante dos desafios impostos pela nova política tarifária norte-americana. Além disso, as três BigTechs contam com investidores institucionais de peso, como Vanguard, BlackRock e State Street, que atuam com foco em estratégias de longo prazo.

Apesar de a inovação ser o principal motor dessas companhias, nenhuma delas possui um Comitê de Tecnologia e Inovação em seus Conselhos. A criação desse comitê poderia fortalecer o vínculo entre inovação e governança, aproximando ainda mais essa pauta estratégica das instâncias de decisão corporativa.


Anna Guimarães
é presidente do Conselho Consultivo do 30% Club Chapter Brazil.
30percentclubbrazil@30percentclubbrazil.org


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