Diversidade | Educação Financeira | Em Pauta | Enfoque |
Espaço Apimec Brasil | Filantropia | Governança | Homenagem |
IBGC Comunica | IBRI Notícias | Opinião | Orquestra Societária |
Ponto de Vista | Registro | Voz do Mercado |
Principal mecanismo de investimento filantrópico nos EUA, Donor Advised Fund (DAFs) avançam no Brasil ao envolver consultores financeiros na gestão de recursos.
Construir caminhos sólidos a fim de estabelecer uma cultura de doação tem sido o norte - e também o maior desafio - do setor filantrópico global. Nos Estados Unidos, onde a mentalidade e as iniciativas voltadas à filantropia se encontram em estágio mais maduro, fortemente impulsionadas por sistemas descomplicados e robustos incentivos fiscais, alguns mecanismos destacam-se pela capacidade de mobilizar recursos em prol de causas e ações sociais.
Não por acaso o sexto colocado entre os países que mais doam no mundo pelo World Giving Index 2024, elaborado pela Charities Aid Foundation, os Estados Unidos transformaram os Donor Advised Fund (DAFs) em seu meio predominante de investimento filantrópico. De acordo com a mais recente edição do Donor-Advised Fund Report, realizado pela National Philanthropic Trust (NPT), a principal fonte norte-americana sobre o tema, os DAFs responderam por nada menos do que US$ 52,16 bilhões em doações em 2022, um aumento de 9% em relação ao ano anterior. Ainda segundo o relatório, as contribuições têm crescido ano a ano desde 2009 e, nos últimos 5 anos, mais do que dobraram. O número total de DAFs superou 1,9 milhão no período analisado, destaca o levantamento.
Criado por doadores, sejam eles indivíduos, famílias ou empresas, e gerenciado por instituições comprometidas em conectar os interessados na promoção da equidade social e de oportunidades com as organizações da sociedade civil (OSCs) capazes de criar impacto social duradouro, o Donor Advised Fund atende a objetivos filantrópicos de médio e longo prazo dos interessados em contribuir.
Na prática, os doadores fazem a recomendação de qual organização ou causa pretendem apoiar. Caso prefiram, podem contar com o apoio de instituições que se responsabilizam por essa intermediação e pela análise de projetos, além da administração completa do fundo, oferecendo alternativas de investimento, demonstrativos com o histórico de movimentações e mais importante: possibilitando que os doadores se concentrem em seus objetivos filantrópicos sem as complexidades de gerenciar uma fundação privada.
Ampliando as oportunidades para a criação de um legado filantrópico, uma modalidade de DAF que desde os anos 90 desempenha papel fundamental para o desenvolvimento de fundos filantrópicos nos Estados Unidos, o Advisor Managed Fund, acaba de chegar ao Brasil. Ele elimina um entrave até então crucial para que pessoas, famílias e empresas de alto patrimônio pudessem apoiar organizações da sociedade civil no país. Por meio de um fundo administrado por consultores, os gestores de investimentos de indivíduos, famílias e empresas enquadradas nesse perfil podem gerenciar as doações de seus clientes, garantindo aos filantropos que profissionais de sua total confiança serão os responsáveis pela gestão de seus recursos.
Demanda antiga do setor social brasileiro, os Advisor Managed Fund começam a se popularizar localmente porque capacitam os profissionais do segmento financeiro a ampliar o contingente de indivíduos, famílias e empresas de alto patrimônio envolvidos com as causas filantrópicas a partir do seu aconselhamento.
Ainda que a conscientização acerca da filantropia tenha avançado enormemente nos últimos cinco anos, principalmente após a pandemia, existe um grande potencial para expansão dos resultados. Para se ter uma ideia, segundo a recente pesquisa Famílias de Alto Patrimônio no Brasil - Investimento de Impacto e Filantropia, realizada pela Sitawi Finanças do Bem, apenas 33% das famílias ouvidas estão envolvidas em filantropia de forma regular e estruturada e estudam continuamente para melhorar suas práticas - 17% relataram estar envolvidas de forma regular e estruturada, mantendo interesse e conversas sobre o tema.
Assim, em que pese o considerável papel da filantropia empresarial no Brasil - números do Monitor das Doações, atualizados diariamente pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), revelam que até o momento, neste ano, pouco mais de 63% das doações foram feitas por empresas -, o setor social entende que a mobilização de recursos tende a crescer entre os diferentes perfis de investidores com a aproximação dos gestores de investimento.
E o melhor: beneficiando não apenas organizações e projetos sociais com poder de transformar a vida de comunidades em todo o país, mas também o portfólio desses profissionais, já que estabelecido esse vínculo com as organizações que intermediam os fundos, eles passam a ter contato com outros filantropos, em outras palavras, potenciais novos clientes.
Tem-se aí um verdadeiro círculo virtuoso.
Rebecca Tavares
é presidenta e CEO da BrazilFoundation.
newyork@brazilfoundation.org