Governança

COMO A GOVERNANÇA DOS PAÍSES AFETA O VALOR DAS EMPRESAS DO SETOR DE ENERGIA por Marina Mitiyo Yamamoto e Wander Morresque

A governança corporativa tem sido amplamente reconhecida como um elemento essencial para melhorar o valor das empresas de forma geral, bem como atrair investimentos. As práticas de governança corporativa são essencialmente importantes em todos os setores da economia, especialmente o de energia, em que a transparência, a responsabilidade e a conformidade regulatória impactam de forma decisiva o funcionamento do setor; sem contar que afeta diretamente a confiança dos investidores.

A implementação de boas práticas de governança corporativa fortalece a imagem corporativa das organizações, garante uma gestão mais eficiente e fomenta um ambiente de negócios mais confiável para o mercado e, consequentemente, para os investidores.

No campo acadêmico, diversos estudos corroboram este conceito e tem apresentado interessantes conclusões como a conclusão de que níveis diferenciados de governança corporativa impactam a atratividade de investidores, pela percepção de risco menor e maior eficiência na gestão.

Não obstante à governança da própria empresa, é essencial entender como o ambiente institucional pode exercer influência no comportamento, na forma de operar, na rentabilidade e, principalmente, na atratividade dos investidores, devendo ser objeto de análise quando se trata de fluxo de investimentos globais. Assim, a investigação acerca da influência do país onde está sediada a empresa e são realizadas suas operações deve ser levada em conta em qualquer processo decisório.

Em recente pesquisa, Wander Morresque analisou a influência da governança do país na avaliação das empresas do setor de energia em 56 países e concluiu: “é possível aferir que há influência das variáveis de governança do país nos múltiplos de valuation das empresas do setor de energia”.

Os indicadores de governança pública são os conjuntos de processos, políticas, estruturas e práticas adotadas pelos países, de modo a tomar as melhores decisões sociais e econômicas de forma eficiente, transparente, responsável e participativa, sendo justa para todos os indivíduos. Para fins da pesquisa, foi utilizado como variáveis de governança do país os indicadores estabelecidos pelo Banco Mundial, são eles: Voz e Responsabilidade, Estabilidade política e ausência de violência, Eficácia do governo, Qualidade regulatória; Estado de Direito e Controle de Corrupção.

A pesquisa concluiu que as variáveis Controle de Corrupção, Voz e Responsabilidade e Estado de Direito afetam os valores das companhias, ou seja, empresas com mesmo desempenho financeiro tem seu valor afetado em função do ambiente sistêmico em que estão inseridas, fortalecendo a ideia da importância de se observar os impactos que as políticas e gestões públicas podem exercer direta ou indiretamente sobre as empresas, o desenvolvimento econômico e o bem-estar da população.

Nestes termos, para exemplificar os resultados da pesquisa, em um recorte considerando apenas o continente americano, com dados de sete países: Argentina, Brasil, Barbados, Canadá, México, Peru e Estados Unidos, em uma amostra de 21 anos e contendo um total de 24 empresas resultados dos modelos apontam para uma influência significativa de três indicadores de governança dos países: Voz e Responsabilidade, Estabilidade Política e, diferente do resultado global, a Eficácia do Governo surgiu como fator de governança, com influências negativas sobre os múltiplos de valuation das instituições.

Ressalta-se que para o Brasil a variável que mais afetou negativamente foi a Eficácia do Governo, com as empresas tendo seus múltiplos de valuation variando quase em paralelo às oscilações do indicador.

Para termos melhor percepção visual, o gráfico abaixo demonstra o valor médio das empresas brasileiras e americanas, em dólar, em relação ao comportamento dos indicadores de governança dos países. Complementando o resultado do modelo, é possível verificar que quando há uma oscilação da governança pública o mercado de energia reage de forma rápida sobre o valor das empresas.

Nota: EV - Enterprise Value Médio | EG - Efetividade do Governo

É possível observar que os Estados Unidos, por ter características de um mercado mais eficiente e estruturado, as oscilações do indicador de governança país não impactam significativamente o valor das empresas. Por outro lado, o que se observa no Brasil é que as quedas nos indicadores refletem imediatamente nos valores das empresas.

Dessa forma, podemos entender que os indicadores da governança pública constituem o conjunto de processos, políticas, estruturas e práticas adotadas pelos países em prol da sociedade, e são essenciais para nortear as melhores decisões sociais e econômicas, de forma eficiente, transparente, responsável para a sociedade. As decisões tomadas pelas lideranças do país afetam diretamente o desenvolvimento do setor de energia estimulando ou não os investimentos no setor. Mitigando a percepção de risco, estabilidade política e respeito aos contratos estabelecidos.

Neste importante momento vivenciado pelo Brasil, marcado pela crise de abastecimento de energia, em que se tem discutido os contratos existentes, a forma como o setor atende à população em termos de qualidade, preço entre outras variáveis, é necessário levar em conta que os investimentos neste setor tendem a ser volumosos, de longo prazo e necessitam de bons índices de governança pública para o sucesso de qualquer parceria entre os diversos players, incluindo não apenas investidores como também fornecedores e o próprio poder público. É preciso levar em conta que a percepção dos investidores é bastante sensível à variável Eficácia do Governo conforme resultados da pesquisa apresentado por Morresque.

Podemos concluir que a relevância do país sobre as empresas vai além de fatores como tarifação, regulação ou legislação. As empresas acabam sendo impactadas diretamente pelos riscos do país, como instabilidade econômica e corrupção que podem ter como consequência a fuga de capitais de investimentos, prejudicando não só o valor de mercado como o programa de desenvolvimento social, ambiental e econômico. 


Marina Mitiyo Yamamoto
é Professora - Livre Docente e Coordenadora da Câmara de Pós-Graduação da UNIFESP - EPPEN -DCC.
prof.marinamy@gmail.com

Wander Morresque
é Mestre em Administração com Ênfase em Governança Corporativa pela UNIFESP.
wandermorresquehenrique@gmail.com