Orquestra Societária

EXTREMOS CLIMÁTICOS: É PRECISO RESPOSTAS EFETIVAS IMEDIATAS DE CURTO, MÉDIO E LONGO PRAZOS

Nesta edição da Revista RI, chegamos ao sexto e último artigo de um trabalho jornalístico em solidariedade e humanidade aos gaúchos, dedicado a entender os impactos da tragédia ambiental ocorrida no Estado do Rio Grande do Sul, neste ano de 2024, e discutir possíveis soluções. Antes desta edição, 47 páginas, compiladas de um total de 68, sem contar os relatórios e pesquisas analisados, trataram das terríveis enchentes ocorridas no Sul do País, de seus desdobramentos e sobre o que era possível e necessário fazer, mesmo depois dessas questões deixarem de ocupar as manchetes dos meios de comunicação.

Esperamos que a breve navegação em destaques não exaustivos dos cinco artigos publicados, desde a edição no. 282 desta Revista RI, estimule os nossos leitores a (re)ler os variados conteúdos publicados e a refletir sobre a gravidade do que houve no Rio Grande do Sul, sobre a conduta de muitos cidadãos gaúchos anônimos, que se comportaram como heróis, bem como sobre a solidariedade dos brasileiros e das organizações públicas e privadas, que têm tido capital importância nesses acontecimentos catastróficos.

Após os destaques abaixo, apresentaremos algumas estatísticas fornecidas pelo Movimento Rio Grande do Brasile breves reflexões, à luz das dimensões da Orquestra Societária e dos desafios climáticos do Brasil; após o que, registramos uma palavra final sobre esta série de seis edições e deixamos (e reforçamos) algumas sugestões de links para consulta dos interessados. Assim sendo, pedimos aos leitores sua preciosa atenção.

Alguns destaques das edições anteriores
No primeiro artigo da série sobre a tragédia ambiental que devastou o RS em grande medida, denominado Enchentes no Rio Grande do Sul – tragédia anunciada: Como evitar que aconteça novamente? (edição 282, jun/jul 2024), com base em informações da Defesa Civil (25/5/2024), apontamos a dimensão da tragédia: 469 de 497 municípios afetados (94%), 165 óbitos confirmados, 64 desaparecidos, mais de 2,3 milhões de pessoas impactadas e perdas econômicas estimadas em R$ 8 bilhões naquele momento. Esta seria a ponta de um iceberg que abrange muitas outras perdas. O último balanço atualizado pela Defesa Civil foi expedido em 20/08/2024, apresentando aumento do número de municípios afetados para 478 (96%) e dos óbitos para 183 (aumento de 11% comparado a 25/05).

No mesmo artigo, tratamos das enchentes sob a perspectiva da Constituição Federal e mencionamos alguns instrumentos infraconstitucionais, destacando o dever do Poder Público de zelar pelo meio ambiente e proteger a população. Referimo-nos à questão das políticas públicas preventivas e reforçamos a necessidade de medidas emergenciais e estruturais, com diagnósticos independentes e investimentos de curto, médio e longo prazos, visando a uma gestão eficiente frente às mudanças climáticas e à necessidade de prevenir novas tragédias.

Comentamos neste artigo também sobre a atuação do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sinpdec), que tem o objetivo de congregar todas as competências para a gestão dos riscos e desastres, sempre com ênfase na prevenção, que requerem processos diferenciados. Abrangendo, na gestão de desastres, recuperação e resposta, planejamento, processos táticos e operacionais; e na gestão de riscos, prevenção, mitigação e preparação, em bases estratégicas e operacionais.

No segundo artigo, publicamos a entrevista com o especialista Sérgio Akira Sato – Como a gestão estratégica de riscos pode prevenir tragédias como o Rio Grande do Sul? (edição 283, ago/24). Akira enfatiza a necessidade de uma abordagem abrangente, que considere riscos internos e externos, protegendo pessoas, processos e patrimônios. Defende ainda uma gestão contínua e sistemática, com avaliações periódicas e planos de ação claros para mitigar ou eliminar riscos, além de destacar os desafios enfrentados pelas organizações públicas, diante das mudanças climáticas.

Na visão de Sérgio Akira Sato, a falta de infraestrutura adequada e políticas públicas ineficazes contribuem para a recorrência de enchentes, sendo essencial investir em infraestrutura urbana, desenvolver políticas eficazes e promover ações conjuntas entre os setores público e privado. O especialista ainda ressalta a importância de diagnósticos e medidas concretas para mitigar os riscos climáticos.

O terceiro artigo, Tragédias ambientais: Grandes riscos resultantes (edição 284, set/24), reforça a necessidade de gestão estratégica de riscos climáticos, na visão de quatro entrevistadas gaúchas. Em colaboração com Márcia Sobotyk, secretária-geral do Portal Acionista, que assinou conosco este artigo, foram entrevistadas Cátia Chagas (jornalista), Cíntia Martin Figueiredo (arquiteta), Luciane Superti Fogazzi (aposentada) e a própria Márcia, que vivenciaram a tragédia do Rio Grande do Sul sob diferentes perspectivas – perdas e danos materiais, emocionais e outros, bem como serviços voluntários.

Esses depoimentos ressaltam os impactos econômicos, as falhas da Administração Pública e a importância de planos de contingência eficazes. Os relatos destacam a ausência de prevenção e manutenção por parte das autoridades e os prejuízos de pequenos e médios negócios, que ainda se recuperavam da pandemia Covid. Enfatizando os impressionantes esforços dos voluntários na tragédia, as entrevistadas sugerem medidas concretas para mitigar futuros desastres, abrangendo a preservação da vegetação, a redução da impermeabilização urbana, a adaptação das cidades às mudanças climáticas e as assistências física e emocional necessárias, entre outras.

No quarto artigo, Enchentes no Rio Grande do Sul: Lições aprendidas são aceleradores em situações de calamidade pública (edição 285, out/24), as entrevistas foram realizadas com Flávia Soares, gerente de Fomento Econômico na Reparação de Brumadinho, da Vale S.A., e Paula de Freitas Candido, Governance Officer da Prodesp, certificada pelo IBGC.

Suas relevantes opiniões abrangem gestão de crise, tendo sido enfatizada por Flávia Soares a necessidade de medidas emergenciais imediatas, como resgates e evacuações coordenadas por especialistas, além de uma sala de crise bem estruturada para evitar desperdício de recursos, focada no cuidado com as pessoas. Paula de Freitas Candido, por seu turno, analisa o cenário sob a ótica da governança corporativa, traçando paralelos muito relevantes com a tragédia ocorrida em Nova Orleans, nos EUA (2005), e destacando a importância de implementar ações efetivas baseadas em lições aprendidas, sob o império de melhores práticas de governança.

Por fim, o quinto artigo, Movimento Rio Grande do Brasil: O que é possível fazer de concreto quando se tem propósito? (edição 286, nov/24), apresenta a iniciativa liderada por Débora Oppitz Giacomet, presidente (anteriormente coordenadora) da Comissão Temática de Inovação, Investimentos em Startups e Scale Ups da Board Academy, que assina conosco este artigo. Além de Débora, foram entrevistados os conselheiros extraordinários, altamente qualificados e muito experientes, que integram a Comissão, em ordem alfabética: Gustavo Machado, Dr. Hélio Osmo, Ingrid Paola Stoeckicht, José Emílio Barros, Dr. Marcos Leandro Kazmierczak, Pedro Junqueira, Rafaela França,Regina Castellari, Sergio da Motta e Vanessa Carvalho..

Os conselheiros extraordinários têm empreendido formidáveis esforços em prol de soluções concretas para a recuperação do Rio Grande do Sul. Por seu intermédio, o Movimento Rio Grande do Brasil mapeou os problemas enfrentados por comunidades afetadas e identificou os desafios críticos que dificultam a recuperação. Além disso, focou na reconstrução pós-catástrofe com ações estruturadas e planejadas, integrando soluções inovadoras e que promovem resiliência e desenvolvimento sustentável. O Movimento também estabeleceu conexões estratégicas com especialistas em catástrofes e gestão de riscos, agentes do governo, empresários, instituições e a sociedade civil, fomentando a colaboração entre setores para implementar medidas efetivas.

O artigo inicial e as 18 entrevistas subsequentes sobre a tragédia ambiental do Rio Grande do Sul apontam, de diferentes ângulos, os impactos devastadores de um desastre de grande magnitude e a necessidade de mudanças estruturais na gestão de riscos climáticos e políticas públicas, com parcerias Público-Privadas (PPP).

Desde a análise inicial da tragédia até as soluções propostas pelo Movimento Rio Grande do Brasil, evidencia-se que a união entre setor público, privado e sociedade civil é fundamental. A ausência de políticas eficazes e de infraestrutura adequada reforça a urgência de ações preventivas e estruturadas para que o futuro seja diferente. E isso não se trata de mera retórica, já que estamos tratando de direitos humanos e fundamentais, previstos na Constituição Federal.

Algumas estatísticas adicionais do Movimento Rio Grande do Brasil
As estatísticas seguintes agregam mais informações relevantes sobre o trabalho do Movimento:

Volumetria do Movimento 

Resultados Gerais

Tecnologias Embarcadas

Para iniciarem a implementação dos conselhos estratégicos, foi realizado autodiagnóstico com um grupo preliminar de sete empresas, cujos resultados reforçam a necessidade urgente de medidas estruturais para a solução dos problemas causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul:

Conselhos Estratégicos: Autodiagnóstico das Empresas

Quais são as principais dores

Tipos de Riscos

Se sim, quais são as principais componentes

Principais dores enfrentadas

Principais Necessidades de apoio técnico

A empresa

Diagnósticos dessa natureza trazem perguntas críticas muito importantes para que empresas possam se autoavaliar após grandes tragédias climáticas. Seu conteúdo pode e deve resultar em planos de ação para lidar com as consequências do ocorrido.

Breves reflexões à luz das dimensões da Orquestra Societária
Tudo o que escrevemos ao longo das cinco últimas edições desta Revista RI nos permite tecer algumas reflexões à luz das dimensões da Orquestra Societária. Resumidamente, tal Orquestra é uma organização que tem um propósito e opera com base em princípios éticos e melhores práticas de governança corporativa e de sustentabilidade.

Recapitulando, as seis dimensões da Orquestra Societária são: 1) estratégias e modelos de negócio; 2) estruturas; 3) processos; 4) projetos; 5) pessoas, sistema de recompensas e cultura; e, 6) Modelo de Gestão Sustentável (MGS), o sexto elemento, considerado a chave de ignição, das demais dimensões (fundamento do mestrado de Cida Hess). Nas presentes reflexões, não exaustivas e contendo alguns insights pertinentes para fins deste artigo, tratamos brevemente das seis dimensões em questão, discriminando as organizações do Estado e as demais organizações da economia.

Importante: tratar de tópicos que se apliquem a amplos conjuntos de organizações do País é uma tarefa impraticável. Isto porque as dimensões mencionadas integram a arquitetura das organizações (o seu desenho ou projeto) e a arquitetura de uma organização de qualquer natureza depende da visão dos dirigentes organizacionais. Mesmo assim, procuramos abaixo apresentar reflexões genéricas, com vistas à finalização da nossa série de artigos sobre a tragédia climática e seus impactos no Rio Grande do Sul.

1. A Orquestra Societária e as organizações do Estado

No caso das organizações do Estado, as pessoas, ou seja, os cidadãos, cujos direitos fundamentais estão presentes da Carta Magna, devem ser a principal preocupação dos esforços empreendidos. Eles, os cidadãos, necessitam de um meio ambiente saudável para viverem e disso resulta que cuidar do meio ambiente é, no fundo, cuidar dos seres humanos e de toda a vida que existe no Planeta.

Dito isso, passemos às seis dimensões da Orquestra Societária para as organizações do Estado, iniciando pelo sexto elemento, o Modelo de Gestão Sustentável (MGS):

a) Modelo de Gestão Sustentável – com fulcro nos cidadãos, o modelo de gestão deve orientar as estratégias, os processos, projetos e as pessoas (servidores públicos) para prevenir tragédias, bem como para lidar com eventos climáticos catastróficos. Diferentemente das organizações privadas, o povo está na base das ações do Estado. Afinal, conforme dispõe o artigo 1º da Constituição Federal:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Esta é a premissa basilar que orquestra as demais dimensões.

b) Estratégias e modelos de negócios – destacamos a necessidade de uma visão de longo prazo, para evitar que o dinheiro arrecadado pelo Estado se perca em iniciativas de curto prazo. E destacamos a importância da observação e gestão estratégica de riscos climáticos, no plano das organizações do Estado, atentando aos aspectos mencionados por Sérgio Akira Sato na edição 283 desta Revista RI.

c) Estruturas – elas são fundamentais, não apenas nos mapas de distribuição de poder (organogramas) das organizações do Estado, mas também para fins de uma resposta eficaz a desastres, em momentos de grave crise. Como enfatizado por Flávia Soares, na edição 285, a existência de salas de crise bem coordenadas, comandadas por especialistas, é muito importante para a tomada de decisões rápidas e eficazes em momentos críticos, pois não há tempo para dúvidas e nem mesmo perguntas; a execução é imediata, pois vidas estão em jogo. A falta das salas de crise e de especialistas no comando torna o socorro imediato mais difícil e menos eficiente.

d) Processos – é preciso melhorar continuamente o processo de planejamento e expansão das cidades, distanciando pessoas das áreas de risco e criando mais espaços verdes para minimizar os impactos de eventos extremos. Ademais, investimentos contínuos em manutenção preventiva são necessários para reduzir os riscos de perdas de vidas. Soluções de preservação ambiental, sistemas de drenagem, tecnologias de monitoramento contínuo do clima e muito mais é necessário para preservar vidas. Adicionalmente, o processo de aprendizado é fundamental. Paula de Freitas Candido, na edição 285, chama a atenção sobre o imprescindível aprendizado capturado de tragédias como a de Nova Orleans (2005), e as organizações do Estado precisam atentar às lições aprendidas.

e) Projetos – os projetos, em prol da gestão climática precisam observar, tanto quanto possível, as melhores práticas globais existentes. Adicionalmente, as organizações do Estado necessitam apoiar os bons projetos egressos do ambiente não estatal, a exemplo do Movimento Rio Grande do Brasil entre outros. Outra questão importante é: os líderes dessas organizações necessitam refletir sobre como usar os mutirões e o voluntariado, para resolver problemas onde essas alternativas façam sentido. No enfrentamento da tragédia em território gaúcho, o voluntariado foi fundamental e mesmo heróico, como enfatizam as quatro entrevistadas gaúchas da edição 284.

f) Pessoas, sistemas de recompensas e cultura – referimo-nos aqui aos servidores públicos. É fundamental que o Estado conte com quadros adequados em número e qualificação, assegurando capacitação contínua para preparar os servidores para desafios complexos, como a gestão de riscos climáticos e a resposta a desastres. Além disso, sistemas de recompensas devem valorizar o compromisso com os cidadãos (o povo), promovendo culturas organizacionais baseadas em ética, responsabilidade social e transparência.

2) Considerando as organizações privadas e demais

Quando se consideram as organizações privadas, os desafios são distintos. No capitalismo de stakeholders, as empresas devem buscar o retorno econômico, mas não a qualquer custo. Delas se requer que busquem tal retorno com um propósito associado a necessidades planetárias, operando, ademais, com princípios éticos, governança corporativa e sustentabilidade entre outros requisitos.

Neste ponto, cabe indagar: os princípios e demais requisitos não seriam também aplicáveis às organizações do Estado? A resposta é positiva, com um ponto de atenção: o conjunto de stakeholders das organizações estatais é muito mais amplo, de maneira consistente com a Constituição Federal.

No que se refere às seis dimensões da Orquestra Societária, especificamente, muito tem sido dito sobre elas e aqui destacamos, com respeito às catástrofes climáticas e de modo certamente incompleto:

a) Modelo de Gestão Sustentável – com fulcro no propósito organizacional e nos stakeholders - e os sócios da organização estão entre eles – o modelo de gestão deve orientar as estratégias, os processos, projetos e as pessoas (empregados e demais prestadores de serviços) para que estes absorvam o conceito de sustentabilidade, o qual deve permear a organização.

b)
Estratégias e modelos de negócios – novamente, destacamos a necessidade da visão de longo prazo, já que o curto-prazismo pode inviabilizar a longevidade das organizações. E destacamos a importância da gestão estratégica de riscos, incluindo não apenas os riscos climáticos, mas aqueles que podem prejudicar as operações. Primeiramente, porque muitas organizações operam em áreas de riscos e, em segundo lugar, porque seus mercados consumidores podem sofrer fortes impactos com as tragédias ambientais.

c) Estruturas – as estruturas internas das organizações devem estar alinhadas com a gestão de processos e projetos, a fim de que, em situações de dificuldades ou franca crise, o desalinhamento não produza confusão, perda de fluidez e de controle.

d) Processos e projetos – Eles devem estar alinhados com as estruturas, como dito; ademais, devem introjetar em profundidade a ideia de sustentabilidade. E devem se basear em indicadores de eficiência (fazer o que se espera) e eficácia (fazer bem).

e) Pessoas, sistemas de recompensas e cultura – espera-se que nas organizações privadas bem administradas, a importância das pessoas esteja internalizada, com sistemas de recompensas e culturas alinhados ao propósito e aos objetivos estratégicos organizacionais.

Por fim, destacamos que se há aspectos que distinguem a Administração Pública das demais organizações da economia, isso não significa, em absoluto, que ambas são estanques e não se comuniquem. Ao contrário, é imprescindível que exista integração e benchmarking, a fim de que o aprendizado seja disseminado, e a sociedade, beneficiada.

Uma palavra final
O que aconteceu no Rio Grande do Sul nos espantou e entristeceu, assim como a muitos brasileiros. No entanto, talvez o espanto não devesse ser tão grande. Afinal, o Brasil tem convivido com tragédias e problemas ambientais ao longo de sua história e os desastres climáticos do Rio Grande do Sul tinham sido anunciados por climatologistas.

Crescemos lendo obras nacionais que retratam essa realidade, como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, obra que expõe com crueza a luta de retirantes em meio à seca. Trata-se de um texto imperdível, sem deixar de enaltecer vários outras publicados sobre o sofrimento causado por condições ambientais adversas. E neste ano de 2024, vimos estampado nos rostos de cidadãos gaúchos o sofrimento, não pela falta, mas pelo excesso de água.

Adicionalmente, secas severas têm assolado a Região Norte neste mesmo ano de 2024, afetando comunidades que enfrentam, silenciosamente, seus próprios desafios climáticos. Esses eventos conduzem a uma triste constatação: o Brasil está muito vulnerável aos extremos do clima. E é pertinente fazer uma indagação: quando serão adotadas soluções eficazes e eficientes, com a devida emergência, imprescindível para lidar com os riscos climáticos?

A falta de planejamento, políticas públicas ineficazes e a indiferença às mudanças climáticas terminam por cobrar altíssimo preço. As perdas não são apenas materiais, incluem vidas, histórias interrompidas, memórias apagadas, sonhos desmanchados e muito mais. E é muito preocupante a possibilidade de muitos tratarem essas tragédias como fatalidades inevitáveis, quando na verdade elas são sinais claros da necessidade premente de gestão & controle com inteligência.

Acreditamos que a gestão & controle com inteligência só será possível com um esforço coletivo. Os extremos climáticos que têm ocorrido com mais frequência requerem respostas efetivas. É imperativo que os três níveis da República — municipal, estadual e federal — liderem o que precisa ser feito na esfera pública, considerando seus respectivos deveres constitucionais. As empresas e organizações, por seu turno, têm um papel a desempenhar: atuar com propósito, de forma ética e sustentável. Ambos, especialmente, por meio de Parcerias Público-Privadas (PPP), podem buscar soluções imediatas e de curto, médio e longo prazos.    

Quanto aos cidadãos, eles são atores importantes ao desenvolvimento sustentável. Sobre eles, especificamente, temos uma consideração importante a fazer. Em nossa visão, não há como dissociar os riscos ambientais da desigualdade social. Desastres ambientais afetam desproporcionalmente as populações vulneráveis que, geralmente, vivem em áreas de risco, sem infraestrutura adequada. Esses eventos agravam a pobreza e pioram a exclusão e desigualdade.

Enfrentar os riscos ambientais de forma isolada é ignorar a realidade de que a desigualdade socioeconômica reduz a resiliência das comunidades. Abordar os desafios climáticos sem enfrentar a desigualdade pode ampliar ainda mais as disparidades existentes. É essencial que políticas públicas, os projetos em prol da sustentabilidade e os investimentos contemplem tanto a proteção ambiental quanto a justiça social, assegurando que comunidades, independentemente de sua renda, tenham condições de viver com dignidade e segurança.

Apesar do cenário preocupante, temos esperança! Que a recente tragédia no Rio Grande do Sul desperte em muitos cidadãos um senso de solidariedade e responsabilidade. Que o sofrimento dos cidadãos gaúchos – e de muitos outros pelo nosso território continental – não seja em vão, mas fortes impulsionadores da busca de um Brasil mais preparado, consciente dos desafios climáticos que o presente e o futuro impõem.

A reconstrução no Rio Grande do Sul será longa e difícil, mas o valoroso povo gaúcho demonstra sua força e capacidade de superação a cada dia, com o apoio da Federação e dos brasileiros. Mais do que cumprir os ditames da Constituição, será essencial exercitar o amor ao próximo e o respeito à vida como um compromisso coletivo e inadiável.

Finalizamos esta edição agradecendo a todos aqueles que nos ajudaram a cada etapa dessa jornada de seis edições, cuja boa vontade, simplesmente, não tem preço. Agradecemos também aos nossos leitores pelo seu precioso tempo de leitura e feedbacks.

Desejamos a todos um Feliz Natal e um 2025 próspero! Lembrando que a primeira edição do novo ano será aberta com a conclusão do projeto “ESG: Uma partitura que está sendo escrita”, resultado do doutorado de Cida Hess.

Alguns links sugeridos sobre as enchentes no Rio Grande do Sul e possíveis soluções:

Cida Hess
é Assessora da Presidência da Prodesp para Negócios Estratégicos. Sócia fundadora da Orquestra Societária Business. Palestrante e mentora. Doutora em Engenharia de Produção, com foco em Sustentabilidade, pela UNIP/SP, mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUCSP, economista e contadora, com MBA em finanças pelo IBMEC. Conselheira fiscal e coordenadora do Comitê Econômico e Auditoria (CEA) da FNQ. Coordenadora da Comissão Temática de Finanças e Contabilidade, professora de Finanças para Conselhos da Board Academy e do Legado e Família. Head do Comitê de Inovação e Tecnologia do 30% Club Brazil e Embaixadora da Board Academy. Colunista da Revista RI desde 2014 e do Portal Acionista desde 2019 e conselheira editorial da RI desde 2023. Coautora dos livros Inovação na Gestão Pública (Ed. Saint Paul, 2012) e Orquestra Societária – a Origem (Editora Sucesso, 2018).
cidahessparanhos@gmail.com

Mônica Brandão
é Assessora da André Mansur Advogados Associados e tem atuado como executiva financeira, conselheira administrativa, fiscal e consultiva (presentemente, da Orquestra Societária Business), engenheira e professora universitária. Certificada como CNPI-P pela APIMEC Nacional, é mestre em Administração, graduada em Engenharia Elétrica e graduanda em Direito pela PUC Minas. Tem pós-graduação e especialização na UFMG e no IBMEC, respectivamente, e treinamentos nacionais e internacionais, especialmente em Finanças Corporativas, Gestão da Estratégia e Governança Corporativa. É colunista da Revista RI, desde 2008, e do portal Acionista, desde 2019, integrando o Conselho Editorial da RI, desde 2023. Coautora dos livros Visões da Governança Corporativa (Editora Saraiva, 2010) e Orquestra Societária – a Origem (Editora Sucesso, 2018).
mbran2015@gmail.com


Continua...