Liderança

COMO EMPRESAS REVOLUCIONÁRIAS ESTÃO MOLDANDO O NOVO CAPITALISMO GLOBAL?

Vivemos uma revolução silenciosa - e inexorável. A globalização, que por décadas foi sinônimo de expansão e eficiência operacional, hoje enfrenta um questionamento profundo: qual é, de fato, o papel das empresas na sociedade? Não se trata mais apenas de gerar lucros, mas de criar valor compartilhado. De ir além do compliance para assumir um compromisso tangível com um mundo mais justo, sustentável e interconectado. E, nessa equação, a governança corporativa emerge como o grande diferencial estratégico — não como mera formalidade regulatória, mas como alicerce de empresas que inspiram, inovam e lideram pela relevância.

É uma transformação sem precedentes no ambiente corporativo. A globalização, que antes era sinônimo de expansão e ganhos de escala, hoje pede algo além: um propósito alinhado com a função social das empresas. A sociedade clama por organizações capazes de gerar valor compartilhado, que transcendam a busca por lucros e contribuam de forma ativa para a construção de um mundo mais justo, sustentável e interconectado. É nesse contexto que a governança corporativa ganha um novo protagonismo, transformando-se em um vetor essencial para empresas que desejam verdadeiramente fazer a diferença.

A Nova Era da Governança: mais que compliance, uma estratégia de impacto
A governança deixou de ser apenas um conjunto de normas para mitigação de riscos e cumprimento regulatório. Hoje, ela é o alicerce das organizações que buscam relevância no cenário global e local. No século XXI, a boa governança é aquela que integra sustentabilidade, inovação e responsabilidade social ao DNA da empresa.

É fundamental que líderes, executivos e conselheiros que compreendem: a) que o futuro pertence a organizações que alinham desempenho financeiro a impacto socioambiental; b) que a Governança não é custo — é o motor da perenidade e da reputação corporativa; c) que a próxima fronteira competitiva será definida por quem souber integrar ética, inovação e propósito.

O investidor contemporâneo já não observa apenas os números do balanço patrimonial. Ele quer saber qual é o papel daquela organização na sociedade e como ela contribui para a construção de comunidades resilientes e inclusivas. Empresas que incorporam práticas ESG (Environmental, Social and Governance) e governança efetiva ampliam sua atratividade para stakeholders de todos os setores — de clientes e colaboradores a parceiros estratégicos e fundos internacionais.

Conectando valor: quando tecnologia e propósito se unem
Ferramentas inovadoras, como inteligência artificial, blockchain e big data, tornaram-se protagonistas na reinvenção da função social das empresas. Mais do que automação ou eficiência operacional, essas soluções estão sendo utilizadas para conectar culturas, economias e pessoas de maneira ética e sustentável.

A tecnologia, quando bem aplicada, cria pontes entre o propósito e a prática. Startups e corporações globais já utilizam plataformas digitais para garantir cadeias de suprimentos mais transparentes, rastrear impactos ambientais e sociais em tempo real e oferecer serviços de saúde, educação e finanças de maneira acessível e escalável.

É a partir dessa convergência entre inovação e propósito que surgem negócios exponenciais, que não apenas transformam mercados, mas também criam soluções para problemas complexos da sociedade contemporânea.

Globalização com propósito: a nova fronteira da competitividade
A interconexão global nunca foi tão intensa e estratégica. As fronteiras físicas já não limitam mais a atuação das empresas. No entanto, a competitividade do século XXI não reside apenas na capacidade de acessar novos mercados, mas em construir relações genuínas e de valor com diferentes culturas, respeitando as singularidades e fortalecendo economias locais.

Empresas com forte compromisso social e governança sólida atuam como agentes de transformação, gerando impacto positivo em todas as geografias onde estão presentes. Organizações que entendem que seu papel vai além da performance financeira constroem pontes entre países, pessoas e ecossistemas — criando cadeias de valor resilientes e contribuindo para o desenvolvimento sustentável global.

O papel dos líderes: catalisadores da transformação
Nenhuma transformação estrutural acontece sem liderança. CEOs, conselhos de administração e gestores precisam ser os primeiros a internalizar essa nova mentalidade. O líder do século XXI é aquele que inspira, conecta e gera confiança. Ele sabe que a governança moderna é colaborativa e que os resultados sustentáveis nascem da integração entre propósito, inovação e capital humano.

Organizações que se destacam na criação de valor social e econômico são aquelas que fomentam uma cultura de inovação inclusiva, que respeita a diversidade e investe no desenvolvimento contínuo de seus profissionais.

Movimentos globais na área da Saúde que estão moldando o setor e impulsionando transformações profundas
1. Adoção massiva da saúde digital e da telemedicina: Nos últimos anos, a saúde digital evoluiu de um recurso emergencial para um pilar essencial dos sistemas de saúde globais. A pandemia acelerou a implementação de teleconsultas, monitoramento remoto de pacientes e plataformas de prontuário eletrônico interoperáveis, promovendo inclusão e acesso em regiões remotas ou desassistidas.

Impacto na transformação: Vem trazendo democratização do acesso à saúde em comunidades distantes e populações vulneráveis, redução de filas e aumento da eficiência dos serviços públicos e privados, bem como melhoria na continuidade do cuidado e gestão de doenças crônicas à distância.

2. Valorização de modelos de saúde integrativa e personalizada: Há uma crescente valorização dos modelos que integram saúde física, mental e emocional, aliados à personalização do atendimento com base em dados e perfis genéticos. As práticas de medicina integrativa e a expansão da medicina de precisão estão ganhando força nas políticas de saúde globais.

Impacto na transformação: Pacientes mais engajados e tratamentos mais eficazes, alinhados ao estilo de vida e histórico individual, redução de custos com tratamentos preventivos mais eficazes, diminuindo hospitalizações e enfoque ampliado no bem-estar e na qualidade de vida, e não apenas no tratamento de patologias.

3. Avanço de parcerias globais em saúde pública: Iniciativas internacionais têm unido governos, universidades e organizações de saúde em prol de vacinas acessíveis, programas de combate às desigualdades em saúde e controle de pandemias e epidemias globais. A colaboração global se intensificou com a urgência de respostas conjuntas frente às crises sanitárias.

Impacto na transformação: Trouxe aumento da cooperação entre países para garantir acesso equitativo a medicamentos e imunizações, criação de redes globais de dados e pesquisa para resposta rápida a emergências de saúde pública e estabelecimento de mecanismos mais ágeis e transparentes de governança em saúde pública.

4. Integração do ESG na saúde: Hospitais, clínicas e operadoras de saúde vêm incorporando práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) de maneira estruturada. Isso inclui desde o uso de energia limpa em unidades hospitalares até a gestão ética das cadeias de suprimentos, garantindo responsabilidade socioambiental em todas as operações.

Impacto na transformação: Ocorre com a redução da pegada de carbono e mitigação de riscos ambientais do setor de saúde, fortalecimento da confiança junto à sociedade e aos investidores e melhoria do ambiente de trabalho e valorização dos profissionais de saúde.

5. Fortalecimento da cultura de dados e analytics para a saúde populacional: O uso crescente de big data e inteligência artificial permite mapear determinantes sociais da saúde, prever surtos de doenças e personalizar políticas públicas de acordo com necessidades locais.

Impacto na transformação: Decisões mais precisas e baseadas em evidências na gestão de saúde pública e privada, maior eficiência na alocação de recursos, com foco em comunidades de maior vulnerabilidade e criação de ecossistemas de inovação que unem tecnologia e saúde para resolver desafios históricos.

Esses movimentos refletem uma transformação sistêmica, em que a saúde passa a ser vista como um elo estratégico para o desenvolvimento sustentável global, conectando bem-estar, inovação e responsabilidade social.

Conclusão: mais do que empresas, movimentos globais
Ao conectar propósito, tecnologia e governança, as empresas deixam de ser meras participantes do mercado e se tornam movimentos globais de transformação. Na nova economia, organizações que abraçam sua função social com autenticidade e visão estratégica não apenas prosperam financeiramente, mas deixam um legado perene para as futuras gerações.

Em um mundo onde o capital financeiro já não é o único indicador de sucesso, o verdadeiro diferencial competitivo reside em gerar valor compartilhado — impactando positivamente pessoas, comunidades e o planeta.

Até 2030, empresas serão julgadas por três principais aspectos: Como trataram seus colaboradores (não apenas acionistas); Que problemas resolveram (não apenas produtos que venderam); Que legado deixaram (não apenas lucros que geraram).

"Nossa governança está preparada para esse novo mundo — ou ainda é reflexo de uma era que já acabou?"

A governança do século XXI não é sobre controlar riscos, mas sobre construir futuros. Não é sobre atender reguladores, mas sobre inspirar gerações. As empresas que entenderem isso não apenas sobreviverão — liderarão a próxima onda de valor compartilhado.

"O maior risco não é mudar e falhar. É não mudar e se tornar irrelevante."

As perguntas que deixamos para você: Sua empresa está construindo um legado ou apenas relatórios trimestrais? Ela está preparada para ser protagonista dessa nova era?

Fabiola Fressato Hecke
é Presidente do Conselho Superior do Hospital Filantrópico Policlínica, Diretora de Operadora de Plano de Saúde.
www.linkedin.com/in/fabiola-hecke

Fabrini Muniz Galo
é Advogado Empresarial, Professor, Conselheiro, Mentor. Especialista em Governança Corporativa e Mestrando em Direito, com Foco em Inovação e Sustentabilidade.
fabrinigalo@yahoo.com.br


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