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O universo de Relações com Investidores (RI) atravessa por uma das transformações mais profundas de sua história. Se antes a principal ferramenta era o Excel, hoje a área vive um processo de digitalização acelerado, impulsionado pela adoção de Business Intelligence (BI), Inteligência Artificial (IA) e automações que reconfiguram a maneira como a informação é produzida, analisada e compartilhada com o mercado. Esta mudança vai muito além da tecnologia: está redefinindo o papel do RI como articulador estratégico dentro das companhias.
Por décadas, o Excel foi o fiel escudeiro dos profissionais de RI. Fácil de usar, flexível e versátil, ele sustentou modelos de valuation, planilhas de guidance, controle de Q&As e projeções financeiras. À medida que os investidores exigem informações mais frequentes, personalizadas e em tempo real, os limites dessa ferramenta começam a aparecer. A digitalização trouxe o BI como alternativa mais robusta e escalável. Com plataformas como Power BI, Tableau e Qlik, os dados financeiros e operacionais passaram a ser visualizados em dashboards interativos, conectados diretamente às bases internas das companhias.
Isso elimina erros de atualização manual, acelera análises e promove autonomia para o investidor interno navegar em diferentes camadas de informação, do consolidado à granularidade por unidade de negócio. O BI não substitui o analista, mas o potencializa. Permite que o profissional de RI se concentre menos em operacional e mais na narrativa estratégica: o que os números contam sobre o presente e o futuro da companhia?
Outro pilar dessa transformação é a Inteligência Artificial. O que parecia distante já faz parte da rotina de muitas áreas de RI: ferramentas de linguagem natural para escrita de relatórios, análise preditiva de comportamento de investidores e até robôs que respondem perguntas frequentes com base nos dados públicos da empresa. A IA também apoia o monitoramento de mercado. Softwares já são capazes de rastrear menções em redes sociais, mídias e fóruns de investimento, identificar tendências e possíveis riscos reputacionais, tudo isso em tempo real.
Em vez de reativos, os times de RI podem se antecipar. Outro uso crescente da IA é na análise de múltiplos, comparáveis e peers. Com poucos comandos, é possível cruzar dados de players listados, observar movimentos setoriais e gerar insumos para apresentações mais estratégicas à diretoria e ao conselho.
Apesar dos avanços, a transição digital no RI não é isenta de obstáculos. Um dos maiores desafios é a integração entre sistemas internos (ERP, CRM, dados contábeis, RH) e as ferramentas de BI e IA. Muitas empresas ainda enfrentam bases de dados fragmentadas, informações duplicadas ou desatualizadas e processos pouco padronizados.
Outro ponto sensível é a capacitação da equipe. A adoção de tecnologia exige profissionais com mentalidade analítica, domínio de ferramentas e, sobretudo, entendimento do negócio. O novo perfil do profissional de RI é híbrido: conhece finanças, tecnologia e comunicação. Além disso, há o fator cultural. A confiança cega em planilhas antigas, o receio da automação e a resistência à mudança ainda são barreiras presentes. A transformação digital deve ser gradual, combinando capacitação, suporte da liderança e pequenas entregas de valor que comprovem os benefícios do novo modelo.
Com a digitalização, o RI deixa de ser apenas uma ponte entre empresa e mercado para se tornar um hub de inteligência estratégica. As ferramentas permitem entender o que os investidores querem saber, como percebem a empresa, e o que pode ser ajustado na narrativa para melhorar o valor da empresa, liquidez e reputação.
Além disso, a automação libera tempo precioso. Tarefas como conciliação de dados, elaboração de bases para apresentações, controle de compromissos e até geração de relatórios podem ser totalmente automatizadas. Isso abre espaço para o RI atuar junto à alta liderança, contribuindo para decisões de alocação de capital, expansão e gestão de riscos com informações atualizadas e relevantes.
Outro ganho está na integração com outras áreas. Quando o BI e a IA conectam RI com Controladoria, Sustentabilidade, Planejamento Estratégico e Jurídico, cria-se um ecossistema de informação confiável, acessível e acionável. Isso fortalece a governança e aumenta a confiança do mercado.
A transformação digital no RI é inevitável e positiva. As ferramentas já existem, e o mercado valoriza cada vez mais companhias que se comunicam com transparência, agilidade e inteligência.
O Excel, embora ainda útil, perde espaço para soluções mais completas e conectadas à realidade do mercado atual. O desafio não é apenas técnico, mas estratégico e cultural. Exige liderança, capacitação e, acima de tudo, visão. As empresas que conseguirem integrar dados, tecnologia e propósito sairão na frente. E os profissionais de RI que abraçarem essa transformação terão um papel ainda mais relevante nos próximos anos.
Suelen Hames
graduada em Ciências Contábeis pela UFSC, com MBA em Auditoria, Controladoria e Finanças pela FGV, é coordenadora de Relações com Investidores, Inteligência de Mercado e Automatização do Portobello Grupo.
suelenhames1983@gmail.com