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A cada dia, mercado e sociedade esperam das empresas algo além do lucro. O mundo corporativo, cada vez mais, é chamado a responder por seu papel no enfrentamento de desafios sociais, ambientais e climáticos. Nesse contexto, os relatórios de sustentabilidade precisam deixar de ser entendidos apenas como documentos para atender às exigências legais e normativas, meras formalidades ou peças de marketing institucional. Eles precisam se tornar ferramentas centrais de construção de credibilidade e engajamento.
Um bom relatório de sustentabilidade diz muito mais sobre uma empresa do que suas campanhas publicitárias. Ele revela prioridades, práticas e, sobretudo, disposição para o diálogo com seus públicos estratégicos, como por exemplo: consumidores, governos, colaboradores, acionistas, investidores e a sociedade.
O estudo “Relatórios de sustentabilidade de companhias de capital aberto: compreendendo as práticas de divulgação de informações”, realizado este ano pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), demonstra que esses documentos ainda têm bastante a evoluir, ainda que estejam avançando como um conteúdo de prestação de contas sobre temas muito tangíveis para os negócios e para a sociedade.
Segundo a pesquisa, cuja amostra é composta por 296 relatórios de sustentabilidade (dos quais 161 são referentes a 2021 e 135 a 2022) de 209 empresas, quase a totalidade (95%) dos documentos declara seguir as normas da Global Reporting Initiative (GRI) em seus relatos de sustentabilidade. A maior parte das informações divulgadas, considerando as citações presentes nos relatórios analisados, concentra-se nas dimensões ambiental (38,3%) e social (37%). O item referente à governança corporativa é relatado em apenas 24,7% dos documentos.
No recorte ambiental, temas como gestão de resíduos e efluentes, energia e mudanças climáticas aparecem em 91% dos relatórios, enquanto questões como poluição e metas de desmatamento zero ainda recebem atenção reduzida. Na dimensão social, a categoria “relações com empregados” está presente em todos os relatórios analisados, seguida por “saúde e segurança no trabalho” (94%).
A governança corporativa, por sua vez, é abordada principalmente com foco em “ética, integridade” e canais de denúncia, presentes em cerca de 94% e 93% dos documentos, respectivamente, sendo o tema “anticorrupção” o que apresenta maior volume de informações.
O estudo revela, ainda, diferenças significativas entre empresas de distintas naturezas jurídicas. As estatais, por exemplo, dedicam maior atenção à governança corporativa, que responde por 29,6% do conteúdo de seus relatórios, mas são as que menos abordam aspectos ambientais (31,1%), em comparação às empresas de capital privado, que apresentam maior destaque à dimensão ambiental (39,0%). No caso das estatais, observa-se a incorporação das diretrizes do Tribunal de Contas da União (TCU) para elaboração de relatórios integrados, mas com pontos de melhoria, especialmente no que diz respeito à divulgação de informações sobre “governança, estratégia e alocação de recursos”, tema presente em apenas 53% das estatais analisadas.
Outro ponto que merece atenção é o pouco destaque à estratégia de longo prazo nos relatórios: tópicos como compromissos sustentáveis e reporte de progresso ainda têm presença tímida, indicando desafios no alinhamento com metas de longo prazo.
No recorte setorial, segmentos com maior impacto ambiental, como embalagens (54,7%), agricultura (53,8%) e extração mineral (52,3%), são os que mais reportam sobre questões ambientais. Além disso, todos os setores analisados apresentam informações sobre a matriz de materialidade, com destaque para o setor de saneamento, água e gás, que lidera com 63,6% das citações.
A confiança é cada vez mais um ativo valioso, e ainda mais escasso. Por isso, àqueles que ainda veem esses documentos como peças burocráticas ou de marketing, é importante mudar de perspectiva. O relatório de sustentabilidade precisa ser, cada vez mais, um exercício de escuta e prestação de contas. Nele pode estar em jogo a reputação empresarial.
Ao tornar mais visíveis suas escolhas, dilemas e avanços, a organização convida todos à participação, sobretudo à confiança e ao engajamento.
Luiz Martha
é diretor de Conhecimento e Impacto no IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
comunicacao@ibgc.org.br