Opinião

O PROTAGONISMO DO BRASIL NA AGENDA ESG E A RELEVÂNCIA DA ASSEGURAÇÃO INDEPENDENTE

A confirmação do Brasil como sede da COP 30 em Belém colocou o país sob os holofotes de um novo tipo de responsabilidade: mostrar que é possível conciliar metas ambientais com governança, transparência, crescimento econômico e competitividade. Para que essa equação funcione, não bastam compromissos. É preciso que a agenda ambiental dialogue com o mercado, integre decisões de investimento, defina padrões de desempenho e gere valor para os diversos stakeholders de forma sustentável. E isso só acontece quando as informações sobre sustentabilidade têm credibilidade, comparabilidade, rastreabilidade e base técnica sólida.

Esse debate tomou corpo no evento “Rumo à COP 30: A Contabilidade como Pilar de Transparência e Sustentabilidade”, realizado em Brasília no último dia 14 de outubro pelo Conselho Federal de Contabilidade e o Ibracon. Reguladores, auditores independentes e representantes de organismos nacionais e internacionais reuniram-se para discutir como a profissão contábil está se preparando para esse novo ciclo. A mensagem foi clara: o Brasil tem condições de liderar, não apenas participar, da transição para uma economia sustentável, desde que continue a fortalecer os pilares de credibilidade da informação corporativa de sustentabilidade.

Já estamos na vanguarda desse movimento. Somos o primeiro país do mundo a adotar voluntariamente, desde 2024, as normas internacionais de divulgação de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade (IFRS S1 e S2) e o primeiro a emitir uma norma contábil específica para registro e contabilização de créditos de carbono. Tais medidas reforçam o compromisso nacional com a transparência e a comparabilidade das informações de sustentabilidade, oferecendo às empresas e aos investidores um ambiente regulatório estável e previsível para avançar com confiança.

E não é por acaso que a contabilidade está no epicentro dessa mudança. O contador é o profissional mais preparado para realizar a asseguração dos relatórios financeiros de sustentabilidade por dominar a integração entre dados financeiros e não financeiros (ou pré-financeiros). Quando essa competência técnica se alia à ética e independência que guiam a profissão, a narrativa corporativa sobre a agenda de sustentabilidade deixa de ser retórica e se transforma em compromisso. 

Os dados da pesquisa “Panorama das Divulgações de Relatórios de Sustentabilidade no Brasil – Edição 2025”, realizada pelo Ibracon, confirmam essa arrancada: 77% dos relatórios de sustentabilidade divulgados por companhias abertas que compõem o IBrX 100 foram submetidos a algum tipo de asseguração, e em 74% desses casos o trabalho foi conduzido por auditorias independentes. Trata-se de um avanço expressivo, que reflete a crescente maturidade do mercado brasileiro e sua aderência às boas práticas internacionais.

Olhando para frente, a cobrança aumenta. Em 2027, as companhias abertas e maiores instituições financeiras do país terão de apresentar de forma mandatória seus relatórios financeiros de sustentabilidade de 2026 em conformidade total com as IFRS S1 e S2, e deverão ser assegurados por auditores independentes registrados na CVM. A norma busca elevar o padrão e fortalecer a confiança dos investidores. A razão é simples: a profissão de auditoria independente, regida por uma estrutura regulatória robusta e por princípios de rigor e independência, traz uma experiência consolidada em validar informações financeiras – base que agora se estende à análise de informações financeiras de sustentabilidade.
Além disso, a profissão é uma das poucas submetidas a um rigoroso processo de regulação e supervisão, um nível de escrutínio ao qual praticamente nenhuma outra categoria profissional está sujeita. São diferenciais que reforçam serem os profissionais mais aptos para assegurarem os relatórios de sustentabilidade.
No setor empresarial, companhias que já avançaram nos relatórios, como a Renner e a Vale, também reafirmam que o verdadeiro ganho acontece quando o ESG se integra à estratégia e às decisões de investimento. Há uma agregação real de valor na construção de um futuro sustentável, ligada a uma responsabilidade corporativa e social que precisa ser genuína. Ou seja, é fundamental que as empresas deixem de olhar a sustentabilidade como custo e reconheçam, de fato, que essa é uma mudança que o mercado e a sociedade exigem.

A convergência ética, normativa e técnica em torno da sustentabilidade, como vista nos debates do evento “Rumo à COP 30”, representa um importante avanço civilizacional. Em outras palavras, a contabilidade consolida-se como o idioma universal que traduz compromissos em informações verificáveis e comparáveis, necessárias para tomar decisões responsáveis e transparentes. E nesse cenário, vale ressaltar, o investimento em capacitação técnica e em atualização contínua dos preparadores, fiscalizadores, auditores e a academia é decisivo para que o país avance com consistência e consolide um padrão de transparência à altura de suas ambições.

O mundo está de olho no que faremos. A COP 30 será nosso palco para reafirmar que nosso protagonismo não é apenas uma questão de sorte geográfica, mas sim uma escolha institucional de olhar para o futuro e fazer certo, com ética profissional e rigor técnico. A sustentabilidade não se declara – se demonstra. E essa demonstração depende da transparência e credibilidade das informações que orientam empresas, investidores e a sociedade.

O caminho até 2025 já começou, e temos todas as condições de liderar essa jornada com qualidade e confiança.


Sebastian Soares
é o presidente do Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil.
ibracon@ibracon.com.br


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