A Inteligência Artificial não é o futuro, é o presente que aprendeu a aprender! A forma como a humanidade responderá aos seus desafios pode definir novos rumos nesta jornada incrível da vida dos seres humanos e das organizações. Para falarmos sobre o impacto da IA nas pessoas e cultura das organizações, convidamos os craques Rafaela França e Paulo Grigorovski, profissionais altamente qualificados, cujos currículos falam por si. Sócios-fundadores da XP8NENTIAL, eles têm muito a dizer sobre o enfrentamento dos desafios supracitados.
Rafaela França (Rafa) é empresária, executiva, conselheira de empresas, investidora e educadora, com mais de duas décadas de atuação na saúde, com inovação e tecnologia. Formada em Administração de Sistemas de Informação, com especializações nacionais e internacionais em Gestão de Projetos, Negócios e Disrupção Digital (UNA, IBMEC, FDC, FAU e Cambridge), é conselheira certificada pelo IBGC e pela Board Academy. Atuou em organizações de referência como Rede Mater Dei de Saúde, AMMG, Grupo Bringel, Salux Technology, Biomecânica, Centro Universitário São Camilo, SUCESU MINAS e ABCIS, como executiva, conselheira, investidora e educadora.
Idealizou programas pioneiros como Lean Governance, Conselho Empresarial da Saúde e IA na Saúde, que formam conselheiros, executivos e empresários preparados para os desafios da inovação e da governança digital. É autora e coautora das obras Lean Governance – Como Levar sua Startup ao Futuro (edições nacional e internacional), Os Conselheiros, Mulheres no Conselho e Legado – O Valor de uma Vida, sempre com o propósito de compartilhar caminhos práticos que elevam a trilha do leitor e inspiram novas lideranças.
Acredita que nada se compara à Inteligência Humana - mas ela pode e deve ser elevada à potência da Inteligência Artificial.
Paulo Grigorovski (Grigo) é economista com dignidade acadêmica magna cum laude pela UFRJ, mestre em administração de empresas, com ênfase em estratégia corporativa pelo Coppead/UFRJ. Conselheiro de Administração certificado pelo ICSS, integra o Conselho Deliberativo da VisãoPrev (2023-2026), entidade de previdência de todos os funcionários das empresas da Telefônica Brasil (Vivo, Fibrasil, Terra etc), responsável por mais de R$9 bi em patrimônio. É advisor na Arista Tecnologia e atuou em diversas startups e empresas familiares (Nubbi, LeveEduca, Angelus entre outras).
Em sua trajetória profissional, de mais de 23 anos como executivo de empresas multinacionais e familiares, foi Diretor e Chief Marketing Officer (CMO) na VR Benefícios, Superintendente na Vivo e Telefónica, além de ter atuado no Banco do Nordeste e BNDES. É coautor das obras “A hora e a vez do ESG”, “O BNDES e a Agroindústria nos anos 90” e “Reskilling Hub: o novo RH para uma era de ultra transformações”.
Foi criador de diversos programas em Inteligência Artificial, como AI on Board e IA na Saúde, bem como professor de Governança, Inovação e Transformação Digital na Board Academy.
Ambos, Rafa e Grigo, são fundadores da XP8NENTIAL, consultoria de educação corporativa, de reskilling e cultura corporativa, que prepara líderes e empresas para prosperarem na era da Inteligência Artificial, na qual capacitaram mais de 4.000 profissionais, lideranças e dezenas de empresas em novas habilidades de inteligência artificial generativa. Acompanhe a entrevista.
RI: Rafa e Grigo, vocês vieram de mundos acadêmicos bem distintos e juntos orquestram magistralmente múltiplos projetos. Rafa veio de Ciências Exatas, Tecnologia, e tem grande experiência no complexo setor da saúde. Grigo, de Ciências Sociais, Economia, inclusive com mestrado em Estratégia, e atuação em Comunicação & Marketing. Ambos atuam em startups, como conselheiros, e com inovação e inteligência artificial em empresas públicas e privadas. Qual é o segredo desta sinergia?
Rafa: A nossa sinergia nasce da convergência de valores e propósito. Acreditamos que inovação sem sentido humano é apenas tecnologia sem razão – ferramenta sem alma. Eu trago a prática, o método e a disciplina de transformar visão em execução, com governança, dados e indicadores que comprovam resultado. Tenho obsessão por tangibilizar impacto: eficiência, cultura viva e valor percebido pelo cliente. O Grigo traz a visão que amplia. Ele conecta economia, cultura e tecnologia, com uma sensibilidade rara para captar o que chamo de downloads do além – aquelas intuições que viram ideias poderosas e mobilizam pessoas. Ele cria narrativas que conectam e inspiram, que dão linguagem ao intangível. Enquanto eu estruturo o caminho, ele desperta o sentido. E é nesse encontro entre método e inspiração que a inovação acontece de verdade: com propósito, coerência e alma!
Grigo: Uma vez me falaram que mais importante do que ter um bom negócio, é ter um ótimo sócio. Negócio você ajusta e pivota várias vezes se for necessário, mas sócio não. E para ser um ótimo sócio, precisa pelo menos ter três ingredientes: Em primeiro lugar, compartilhar o propósito e os valores mais centrais, em segundo lugar ser complementar em habilidades, conhecimentos e visões e, por fim, tem que te inspirar a cada dia a ser uma pessoa melhor. A Rafa é tudo isso e muito mais... Daí vem uma sinergia exponencial!
RI: Por que, na visão de vocês, IA não é sobre Tecnologia, e sim sobre PESSOAS e CULTURA? O que é, afinal, este movimento AI FOR ALL?
Rafa e Grigo: A verdadeira transformação digital nunca foi sobre tecnologia – é sobre cultura. Sistemas mudam em meses, mas mentalidades levam anos. A inovação só acontece quando as pessoas estão preparadas para aprender, desaprender e reaprender continuamente. A tecnologia é meio e não o fim. Se você não prepara as pessoas e a cultura da empresa para o uso da IA, está condenando-a a uma profecia autorrealizável da não geração de valor. A IA é, acima de tudo, um movimento de expansão humana. Centralizar a IA na área de TI ou em especialistas é criar um gargalo enorme e dar à tecnologia uma importância exagerada, quase uma tecEGOlogia. Os clientes, acionistas, líderes e profissionais são pessoas! A IA, como tecnologia, é uma ferramenta que amplia as capacidades humanas, e precisa estar em todas as áreas das empresas para resolver as dores dos colaboradores, clientes, fornecedores... das pessoas! E para tanto, as pessoas precisam de novos conhecimentos, habilidades e competências em IA. É além de upskilling, é sobre reskilling. E é sobre cultura, pois só desenvolver e trazer novos profissionais não adianta. Vivemos uma era de ultra transformações, e o maior diferencial competitivo é a cultura de reskilling — a capacidade de formar continuamente novas habilidades humanas para interagir com essa nova era. Precisaremos preparar as lideranças para aceitarem a nova forma de trabalho com a IA e a impulsionarem essa transformação. Para tanto, o RH precisa ser um Reskilling Hub, liderando essa transformação, junto com o CEO, que passa a ser um Chief Education Officer, o grande maestro do reskilling organizacional. Pesquisas da Gartner e da Deloitte já mostram essa fusão entre RH e Tecnologia como uma possível tendência: mais de 70% das empresas líderes em IA integram equipes de RH e TI na transformação cultural. A TI, por sua vez, assume papel estratégico – coautora da jornada humana de ressignificação do trabalho. Nesse sentido, a IA não é para a TI, nem para especialistas, é para todos: AI FOR ALL. Quando dizemos AI for All, estamos afirmando que a transformação digital é, de fato, uma transformação cultural – porque só a cultura sustenta o uso responsável e escalável da tecnologia potencializada pela IA.
RI: Em um mundo INFOxicado, como apresentam Walter Longo e Deivid Bitti em suas palestras, o que diferencia as empresas que estão investindo alto em IA?
Rafa e Grigo: Em um mundo INFOxicado, o que diferencia as empresas que realmente evoluem com Inteligência Artificial é foco e maturidade. As que prosperam saem da euforia tecnológica e constroem uma base sólida, combinando modelo de gestão sustentável, alicerçado por governança, cultura de aprendizado,propósito e sustentabilidade, a base da Orquestra Societária. Segundo IBM CEO Study 2025, embora 91% dos líderes considerem IA prioridade, 77% das empresas investem menos de 2% do orçamento no tema. Apenas 3% alcançaram vantagem competitiva real. O paradoxo é claro: a IA é prioridade declarada, mas o investimento em capital humano ainda é mínimo. 52% dos executivos apontam que o obstáculo principal não é a tecnologia, mas a dificuldade de executar a estratégia e preparar pessoas. Faltam profissionais qualificados (43%) e integração entre áreas (41%). E, de acordo com o relatório McKinsey – Superagency in the Workplace (2025), 48% dos colaboradores citam o treinamento formal como fator mais relevante para ampliar a adoção de IA, enquanto 44% afirmam receber apenas suporte moderado para aprender e aplicar IA no dia a dia. Esses dados revelam a grande oportunidade de amplificar o uso da IA com direção estratégica e foco em pessoas. As empresas que lideram essa transformação têm três comportamentos em comum: Definem métricas de valor claras – conectando IA a produtividade, satisfação, geração de receita, com retorno; Criam jornadas de aprendizado contínuo – treinam, testam, medem e reaprendem de forma disciplinada e com tração; e Integram RH e TI como parceiros na transformação cultural, unindo tecnologia, cultura e propósito. As organizações que estão focando na IA para atingir o seu propósito conseguem tangibilizar resultados, pois integram a IA com sua estratégia e entendem que é muito mais do que definir a tecnologia, e sim, preparar pessoas e transformar a cultura da empresa.
RI: Considerando as dimensões ampliadas da Orquestra Societária – Estratégia & Modelo de Negócios, Estrutura, Processos & Tecnologia, Projetos e Pessoas, Cultura e Recompensas, instrumentalizadas pelo MGS – Modelo de Gestão Sustentável (link ao final do artigo), qual a ordem de prioridade para a jornada bem-sucedida de inovação com o uso de IA nas organizações? E o que é imprescindível?
Rafa e Grigo: Essa é a pergunta de U$1bi que o Board nos faz, e que por meio da qual mais notamos erros de estratégia e implantação. Em primeiro lugar, é preciso avaliar a cultura e o ambiente competitivo da empresa, para customizar a sua jornada. Mas em linhas gerais sempre será uma jornada ambidestra. Em que sentido? Tem que ser top-down e bottom-up orquestrados. Se você faz só top-down, demora muito e perde o timing. Se faz só bottom-up, perde a direção. Então precisa top-down definir o nexo da IA com o propósito e a estratégia da empresa, como priorizar casos de uso e como criar incentivos extrínsecos (desafios com premiação) e intrínsecos (promoção e reconhecimentos por habilidades) ao uso da IA. E em paralelo, precisa bottom-up, criar trilhas de aprendizado e novas competências em IA para as lideranças e profissionais da empresa, com ativações múltiplas, e mostrar como a IA pode melhorar a vida dos colaboradores e clientes na prática. A cultura só muda quando líderes e profissionais veem o resultado da IA nas suas vidas. Na XP8NENTIAL, estruturamos essa transformação por meio da Jornada de Multiativações de IA, que inicia com o AI MAP – diagnóstico de maturidade que analisa a cultura organizacional, o estágio de adoção e o nexo entre IA e o propósito da empresa. Essa jornada é conduzida por um time multidisciplinar estratégico (RH, TI, Governança, Comunicação e Marketing), garantindo alinhamento entre tecnologia, pessoas e negócio. Começamos com o AI SPRINT, um movimento de sensibilização e prática que desperta o senso de urgência e o engajamento real. Depois, avançamos para os AI BOOTCAMPS, que podem ser setoriais ou integrados com toda a liderança, promovendo cocriação de soluções tangíveis. A sequência segue com o AI NEXUS, mentorias online especializadas, e o AI CHALLENGE, que transforma conhecimento em ação, com desafios reais e resultados mensuráveis. Toda a jornada é metrificada, traduzindo o aprendizado em indicadores práticos de evolução cultural e operacional. Cada empresa tem dores únicas – e a força da XP8NENTIAL está em customizar o método, tornando o aprendizado uma solução real. E não poderíamos deixar de falar da importância da comunicação interna e externa nessa jornada de transformação. É imprescindível que as áreas de RH, Comunicação Corporativa e marketing trabalhem juntas, pois cultura e marca são o lado interno e externo da empresa. E a transformação começa de dentro para fora, mas precisa ir para fora e ser percebida da cultura para a marca.
RI: Tivemos a oportunidade de assistir o vídeo de Joanne Wright, Senior Vice President da IBM – Transformation and Operations, que apresenta os resultados da pesquisa com 2.000 CEOs no mundo e o ROI dos investimentos em AI de US$ 3,5 bi obtido pela própria IBM, como Client Zero (links ao final do artigo). Vocês estão ajudando empresas a implantarem AI nos seus negócios. Quais são os principais resultados que vocês estão observando nas empresas brasileiras?
Rafa e Grigo: Em termos gerais, as empresas estão entendendo que é um caminho sem volta e que precisam preparar as pessoas e a cultura para utilizarem a tecnologia. Em uma perspectiva macro, os principais impactos são: Mudança cultural estrutural – equipes que antes viam IA como ameaça agora a incorporam, transformando medo em protagonismo e estimulando inovação bottom-up; Liberação de tempo – automação libera pessoas para o que gera valor e inovação; Eficiência e redução de custos – ganhos em produtividade; Decisões mais rápidas e assertivas – redução do ciclo decisório de semanas para horas; e Novos modelos de negócio – IA passa a gerar diferenciação e novas fontes de receita. Como resultados tangíveis, após uma jornada de implantação da IA realizada pela XP8NENTIAL, notamos crescimento de mais de 55% na média das habilidades em IA dos profissionais e lideranças. Estou me referindo a habilidades como engenharia de prompt, criação de agentes de IA, uso de novas ferramentas de eficiência de IA etc. Além disso, verificamos a criação de dezenas de Agentes de IA, que automatizam atividades e processos, gerando eficiência ao negócio. Por fim, são gerados projetos multiáreas, que buscam resolver dores dos clientes e do negócio com uso de IA. De dentro para fora, notamos o reskilling acontecer, a organização se transformar e a geração de valor florescer.
RI: Com base em suas experiências e em pesquisas analisadas, o que deu certo e o que deu errado na jornada de inovação com uso de IA e quais são as principais razões de ambos?
Rafa: O que deu certo e o que deu errado nas jornadas de IA segue uma lógica simples: o sucesso está nas pessoas, não nas plataformas. A tecnologia é apenas o meio; o verdadeiro diferencial está em como a organização se estrutura, aprende e evolui com ela. Nas dezenas de projetos que já acompanhamos, observamos padrões claros – boas práticas que sustentam resultados consistentes e lições aprendidas que mostram onde os caminhos se perdem. Boas Práticas - o que deu certo: As empresas que prosperaram entenderam que IA não é um projeto de tecnologia, mas um movimento estratégico e cultural; Começaram com propósito claro, método estruturado e ciclos curtos de teste, aprendizado e ajuste; A liderança foi protagonista – comunicando, patrocinando e engajando times – e criou uma cultura de governança e aprendizado contínuo, conectando tecnologia, estratégia e propósito; e Essas empresas mapearam oportunidades reais do negócio, definiram guardiões da IA por área, responsáveis por impulsionar a cultura, e estruturaram planos contínuos de execução e reconhecimento para quem aplica IA de forma prática. Lições Aprendidas - o que deu errado: As organizações que fracassaram trataram a IA como moda ou vitrine de inovação; Compraram tecnologia sem cultura, implementaram sistemas sem propósito e ignoraram o elemento humano; A falta de integração entre RH, TI, Governança e Negócio gerou iniciativas desconectadas e pouco escaláveis; e Quando a tecnologia chega antes da cultura, ela se torna vazia. E quando os projetos não estão alinhados à estratégia da empresa, acabam sendo esforços isolados, sem continuidade nem impacto. A maturidade em IA não se mede pela quantidade de ferramentas, mas pela capacidade de gerar aprendizado e valor real. Empresas que tratam IA como cultura transformam o negócio; as que tratam como moda apenas automatizam o passado. O futuro – que já começou – pertence a quem une propósito, método e pessoas, porque a verdadeira inteligência transformadora continua sendo a humana, potencializada pela tecnologia.
Grigo: Se tivesse que resumir principais erros e acertos, destacaria os top 3: 1) Achar que é apenas sobre tecnologia: CEOs, C-levels e o Board estão adotando o Ms Copilot integral ou parcialmente e acreditando que na sequência tudo se resolve. Tecnologia é apenas meio. É preciso preparar pessoas e a cultura para a adoção da IA. O valor só é capturado quando as pessoas entendem e usam: treinamento e reskilling. Ação: Crie uma Jornada de Implantação da IA. 2) Achar que é apenas sobre casos práticos de uso: CEOs e Board estão cobrando casos de uso em IA para seus times, buscando resultados práticos, sem dar a direção. É sobre PROPÓSITO e ESTRATÉGIA. É preciso definir o NEXO da IA com o propósito e com os drivers estratégicos do negócio, para os times capturarem valor. Ação: Crie uma Jornada Ambidestra. O Board precisa dar a direção e a governança e, ao mesmo tempo, estimular a preparação das pessoas. 3) Dar demasiado poder e liderança à área de Tecnologia: CEOs e Board estão dando total ou demasiado poder à área de TI para liderar a transformação de suas organizações. É sobre PESSOAS e CULTURA! O RH precisa liderar essa transformação, trazendo novas competências, uma nova estrutura organizacional e nova cultura. Ação: Empodere o RH. Ele precisa ser o grande propulsor da adoção da IA na organização para gerar valor. Além de transformar a empresa com reskilling, novos profissionais e uma nova estrutura. Aproxime o RH de TI e das áreas de negócios.
RI: Qual é o principal conselho que vocês dariam para os Conselheiros e C-Levels na implantação da IA?
Rafa e Grigo: Não é uma corrida de 100 m2, é uma maratona. Criem uma jornada de implantação da IA ambidestra, em pelo menos dois blocos: Estratégia, Tecnologia e Governança (top-down) e Pessoas e Cultura (bottom-up). Empoderem o RH e aproximem-no da área de TI para que tanto a direção, o reskilling, como a nova governança e cultura sejam convergentes. Criem incentivos para que as pessoas usem IA e que as novas competências sejam desenvolvidas e valorizadas dentro da organização. Premiações e incentivos monetários são um bom primeiro passo, mas as competências em IA só se consolidarão se forem percebidas como atributos da cultura e necessários para promoção e crescimento na organização. Por fim, sejam incansáveis no princípio de IA para todos, sejam eles colaboradores, clientes e demais stakeholders. Adotar a IA é um movimento de sustentabilidade; é garantir que o negócio continue competitivo, humano e relevante na próxima década.
RI: “Bora” lá, Rafa e Grigo, concluir esta entrevista! Qual é a previsibilidade de vocês sobre o verdadeiro impacto da inovação com uso de AI no mundo? Quais serão as principais evoluções?
Rafa: Nos próximos dez anos, as empresas serão AI-first por natureza. A Inteligência Artificial deixará de ser um diferencial competitivo para se tornar infraestrutura essencial – tão fundamental quanto energia e conectividade. Veremos o avanço de modelos emergentes baseados em cointeligência homem-máquina, nos quais humanos e algoritmos colaboram em tempo real; plataformas modulares, que combinam dados, automação e aprendizado adaptativo; e a monetização de ativos criados por IA transformando conhecimento, processos e até conteúdo em novos fluxos de receita. E os desafios serão grandes: regulação, ética e confiança se tornam temas centrais de governança. A transparência e o uso responsável da IA definirão a reputação e o valor das empresas no futuro. Por isso, a liderança precisará evoluir. Teremos o desafio das novas funções e das novas estruturas organizacionais e, consequentemente, isso provoca uma disrupção aos novos modelos de negócios. As organizações que souberem combinar velocidade tecnológica com sabedoria e intuição humanas criarão vantagem sustentável. O futuro da IA não é sobre substituir pessoas, mas sobre criar ecossistemas onde humanos e máquinas ampliam juntos o valor dos negócios.
Grigo: Seja na perspectiva das ondas de inovação schumpeterianas ou nas obras contemporâneas de Yuval Harari (Sapiens e Homo Deus), percebemos que a vida não evolui de maneira linear. De tempos em tempos, existem transformações exponenciais, frutos de mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas. Estamos no meio de um desses períodos exponenciais de ultra transformações, o qual chamamos de sexta onda de inovação, na qual a IA está no centro, combinada com outras tecnologias. Qual o tamanho dessa transformação? Relatórios da PwC e McKinsey mostram mais de U$ 15 trilhões adicionais ao PIB mundial até 2030. Isso equivale a mais de um Brasil por ano. Se quisermos ser conservadores e adotarmos 20 a 30% desse valor, estamos falando de uma Noruega adicionada a cada ano ao PIB mundial. Mas a grande questão, e mais importante, a meu ver, não é o tamanho do impacto da IA e suas transformações. As perguntas que todos deveriam estar se fazendo são: 1) Qual o risco da IA disruptar o meu negócio em 1 a 2 anos? O que fazer para mitigar esse risco? 2) Quais são as oportunidades de geração de valor com a IA ao meu negócio e até de entrada em novos negócios? Ao invés de tentar descobrir, ou prever o futuro, meu convite é se adaptar a ele, de maneira ágil, e sempre conectada aos seus valores e propósito. Nessa linha, já estamos vivendo uma invasão de Agentes de IA nas Empresas. Ao invés de tentar adivinhar se isso é tendência ou não, busque entender do tema, faça brainstorms de uso com seus times, capacite equipes, pilote, veja resultados e siga em frente. Se você der um passo por dia na direção correta e esse passo significar apenas 1% de melhoria, após um ano, você terá evoluído 38 vezes o seu patamar atual. É sobre avançar, se adaptar, sempre na direção certa, ou seja, usar a tecnologia como meio, conectado aos valores e ao propósito da empresa. Afinal, a IA menor será commodity ao longo do tempo. E o que gerará vantagem competitiva será a IA maior. Chamamos a IA menor de inteligência artificial. Já a IA maior, chamamos de inteligência da alma das empresas. Se profissionais e lideranças passarem a utilizar o tempo que está sendo devolvido pela IA em automações e eficiência para realizarem projetos e iniciativas estratégicas, conectadas ao propósito da empresa, elas crescerão e se perpetuarão.
Caros leitores, após estes preciosos insights dos nossos entrevistados, indagamos: como a IA vem sendo tratada nas organizações onde vocês exercem atividades profissionais, são conselheiros ou sócios – como uma questão de pessoas e cultura ou de TI? E como a IA pode agregar efetivo valor aos negócios?
Deixamos essas perguntas para sua reflexão profunda. Suas contribuições sobre o tema desta entrevista são importantes para a nossa coluna e teremos satisfação em recebê-las.
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Nota: Links citados na entrevista:
Cida Hess
é Assessora da Presidência da Prodesp em Negócios Estratégicos. Head do Comitê de Inovação e Tecnologia do 30% Club Brazil. Conselheira certificada pela Board Academy, palestrante, professora e mentora. Doutora em Sustentabilidade (UNIP/SP), Mestre em Ciências Contábeis (PUCSP), economista e contadora, com MBA em Finanças (IBMEC). Atua há mais de 30 anos em multinacionais europeias e grandes empresas nacionais, liderando projetos de transformação dos negócios, com estratégias de inovação e sustentabilidade. Coautora de diversos livros. Colunista (desde 2014) e Conselheira Editorial (desde 2023) da Revista RI.
cidahessparanhos@gmail.com
Mônica Brandão
é Assessora da André Mansur Advogados Associados (BH/MG). Tem atuado como conselheira administrativa, fiscal e consultiva em várias organizações, gerente de planejamento corporativo e engenheira de distribuição de energia (Grupo Cemig/MG), bem como professora. Certificada como CNPI-P pela Apimec. Editora do site espacogovernanca.com.br para universitários e demais interessados. Mestre em Administração pela PUC Minas e graduada em Engenharia Elétrica e Direito pela mesma Instituição, com cursos no Brasil e no exterior. Coautora de diversos livros. Colunista (desde 2008) e Conselheira Editorial (desde 2023) da Revista RI.
mbran2015@gmail.com