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O NOVO MUNDO DOS MINERAIS CRÍTICOS É SOLUÇÃO PARA UMA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO?

Estamos no limiar de acontecer a COP-30 em Belém e o tema minerais críticos estará na pauta dos debates. Pelos resultados das discussões na Pré-COP, a relação economia - meio ambiente está sendo debatida sob uma ótica mais abrangente, indo além de um esforço global de reduzir as emissões de GHG, com cada país estabelecendo sua Contribuição Nacionalmente Determinada - NDC. Afinal, as cadeias produtivas são globais e interdependentes e os impactos são de diversas ordens.

O futuro da substituição de recursos humanos por recursos eletrônicos está criando um outro tipo problema: o aumento da demanda por minerais críticos. A realidade é que a economia do século XXI continua usando combustíveis fósseis e cada vez mais minérios. Como diz a gíria: “está difícil largar o osso”. Falando dos minérios chamados de críticos, assim são classificados por serem importantes para o processo de inovação tecnológica.

Fica a pergunta, quais são esses minerais críticos? Por que chamamos de críticos? Considerando que a atividade econômica é movida pela teoria do crescimento, o conceito de crítico está se estendendo para todos os minerais. Por exemplo, qual o mineral mais importante para a indústria computacional na era da Inteligência Artificial (“IA”)? Todos os minérios estão sendo importantes, mas pela quantidade exigida, a água deve ser o mais importante. Não duvido que a IA se transformará em um competidor de peso para a produção de alimentos, indústria e consumo humano. Qual a ordem de prioridades com esse novo player? O que sabemos é que se consome muita água, está consumindo muita energia (escopo 2).

A IA é também fortemente dependente de areia (silício). E o consumo global de areia está alcançando o notável número de 50 bilhões de toneladas/ano. Concorrem com a IA, telecomunicações, construção civil e pesada e produção de ilhas artificiais (um fenômeno de nossa época). Podemos acrescentar ainda lítio, cobre, ferro, manganês, níquel, índio, grafite, nióbio, cobalto, terras raras, ouro, platina, etc. E a extração de todos esses elementos contribuem para a emissão de carbono estando na base das cadeias produtivas modernas.

O mundo está atrás de todos os minérios – energia limpa, indústria militar, produtos eletrônicos, robôs, indústria automotiva, telecomunicações, saúde e até brinquedos, utilizam. Nossa vida é dependente dos minerais, que têm uma baixíssima capacidade regenerativa e não raro exigem desmatamento de áreas e elevado consumo de água. Infelizmente, todas as iniciativas atreladas a novas oportunidades de negócios continuam ignorando os problemas da base da cadeia produtiva e de geração de resíduos.

Os minérios raros convivem com as águas, as areias, as florestas, com outros minérios, com a biodiversidade e todos em seus processos extrativos queimam carbono. Os modelos de negócios tendem a ignorar esses novos riscos desde o escopo 1 até o escopo 3 onde se encontram os segredos de emissão da cadeia produtiva. O escopo 3 é uma caixa preta.

Por essas razões, por falta de visão integrada, todos somos culpados. Não podemos colocar na conta dos Estados Unidos eventuais frustações devidas à sua ausência da COP 30 e saída do Acordo de Paris, pois muitos países, inclusive o Brasil, não estão dando bons exemplos. No nosso caso, queremos definir um caminho para a redução dos combustíveis fosseis, mas não desistimos de explorar o petróleo da margem equatorial. Temos uma legislação ambiental moderna, mas o Poder Legislativo deseja a derrubada dos vetos de artigos aprovados pelo Congresso Nacional, no PL 2159/21, que fragmenta o Licenciamento na proposta de Lei Geral do Licenciamento Ambiental. Precisamos desburocratizar sim, mas isso não significa fragmentar padrões.

Se o Meio Ambiente tem de ser visto de forma integrada, a visão política não pode reduzir o controle público a uma visão simplista baseada no princípio da autodeclaração e compromisso, ausência de um arcabouço legal para licenciamento ambiental em setores de médio impacto ambiental (o que é médio impacto?), além da liberdade para definir critérios para licenciamento a nível de Estados e Municípios. Temos municípios que têm mais de 100 mil km², uma Amazonia, um Cerrado, uma Mata Atlântica que vivem em constante pressão de desmatamento. Todos sabemos a importância da umidade gerada pelos rios suspensos da Amazonia para o setor agropecuário e que permite o ciclo de chuvas até o Sudeste. Só nos resta repetir.

Infelizmente, tenho de ser austero, pois tenho de escolher um caminho. E aqui vamos abordar sobre o Novo Mundo dos Minerais Críticos, mas vamos nos ater aqui aos minerais Terras Raras (17 elementos).

Falamos sobre os impactos gerados pela IA, mas existem vários outros setores, os celulares por exemplo. No mundo de hoje não temos direito a não ter celular, pois tudo passa por ele e sua obsolescência é programada para no máximo 3 a 4 anos. Imagine um celular funcionando muito bem, mas sua operadora lhe informa que o sistema operacional não será mais atualizado. O resultado é simples: substituição por novos, gerando mais pressão sobre os minerais. O seu fornecimento se tornou um problema latente, o que está forçando o Ocidente a voltar a produzi-los.

O Brasil já explorou Terras Raras, mas diminuiu ao longo dos anos até desistir porque outros países do Ocidente deixaram de explorar. Estados Unidos e França, por exemplo, deixaram de explorar devido a pressões sociais protestando contra o elevado impacto social e ambiental que a sua exploração exige.

Quando a sociedade ocidental passou a questionar o impacto ambiental e social da exploração mineral e industrial, os países desenvolvidos transferiram a produção poluidora para outros países que também tinham baixo custo da mão de obra. Definida a tendência da nova configuração geoeconômica dos anos 70, a política chinesa acolheu esse setor de braços abertos.

As enormes reservas de Terras Raras da China facilitaram a visão estratégica de que era fundamental a busca do domínio do seu ciclo produtivo, ciente dos impactos sociais e ambientais. Resultado: é responsável pela produção de 90%. O mundo ficou dependente dela. E a energia limpa pode acontecer. Será? Existem outros exemplos de forte concentração de metais nobres. No caso do Brasil, detemos 90% da produção de nióbio no mundo. A assimetria na produção está transformando o setor de minerais em um complexo jogo de xadrez.

Não basta extrairmos as Terras Raras, temos de enviar para a China para separar cada um dos 17 elementos que costumam estar associados a outros minerais, exigindo uma técnica complexa em que são usados solventes que justificam a existência de alto impacto social e ambiental.

Estamos construindo uma economia cada vez mais tecnológica, fortemente dependente de Terras Raras e outros minerais críticos. Como elas são elementos fundamentais na produção de energia limpa, deixamos algumas perguntas para aprofundamento:

  1. As energias renováveis e suas cadeias produtivas são de fato limpas como se prega? Como comparar as emissões com as praticadas na indústria do petróleo e gás a partir das emissões de toda as respectivas cadeias produtivas.
  2. O que sabemos dos métodos de produção das Terras Raras? Seria importante que a APIMEC Brasil promovesse visitas de analistas a empresas produtoras de terras raras. Até o momento a maioria está no nível pré-operacional, sendo essencialmente empresas estrangeiras.
  3. O que o Brasil está fazendo para dominar a cadeia produtiva das Terras Raras e outros minerais críticos e desenvolver modelos baseados na Responsabilidade ESG.
  4. O que sabemos sobre a exploração desses minerais no leito dos oceanos, lembrando que eles representam ¾ da superfície da Terra.

A corrida pelos minerais está começando. Se eles têm capacidade de gerar emissões (E) e impactar a saúde da população (S), no nível microeconômico, ações de governança (G) são importantes para mitigar os efeitos, mas os três poderes soberanos têm de fazer a sua parte, Governo, Congresso e Supremo. Manter os vetos no PL 2159/21 seria um passo importante.

Não é mais possível sonhar que poderemos resolver o problema dos minerais críticos explorando a Lua ou Marte. É só motivo para pressionar o consumo de mais Terras Raras. Se o Ocidente quer voltar para o mercado das Terras Raras, levando em conta o tempo que a China demorou para dominar o ciclo, temos no mínimo 25 anos, se o Brasil quer levar a sério a absorção de tecnologia.

Reitero a importância dos analistas e gestores de investimentos entrarem nesse debate, pois esses ETR terão peso decisivo nas avaliações de conjuntura e de cenários geo-econômicos.


Eduardo Werneck
é Economista e ex-presidente do Conselho de Administração da APIMEC Brasil.
eduardo.werneck@outlook.com.br


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