A desigualdade de gênero nos conselhos de administração das empresas brasileiras continua sendo um desafio persistente. O 30% Club, movimento criado na Inglaterra com a missão de aumentar o número de mulheres em cargos de liderança, especialmente em conselhos, possui capítulos em diversos países. Seu Brazil Chapter acaba de dar um passo decisivo rumo a uma mudança estrutural. Por meio de seu Comitê de Educação, o grupo estabeleceu parcerias com nove instituições de ensino renomadas para oferecer bolsas de estudo em cursos de gestão, governança, liderança e soft skills.
A primeira edição do Programa de Bolsas 30% Club Brazil conta com a parceria das instituições ANEFAC, Anjos do Brasil, Board Academy, CMJ - Conselho do Futuro, Eduardo Estrela – Comunicação e Mídia Training, FIA Business School, IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, Insper e Linguagem Direta - Comunicação Profissional , os cursos oferecidos, os requisitos de aplicação e demais informações úteis para mulheres que desejam ocupar espaços de decisão nas organizações.
A realidade brasileira revela avanços, mas também reforça a necessidade de ações como esta. Segundo o IBGC, em 2022 as mulheres representavam 15,2% dos profissionais que atuam em conselhos de administração, conselhos fiscais e diretorias de empresas de capital aberto. No mesmo sentido, o estudo da Deloitte Women in the Boardroom 2024 aponta que, no Brasil, a participação feminina em conselhos de administração subiu de 8,6% em 2018 para 15,9% em 2023. Entre as empresas que compõem o IBrX 100, algumas já atingiram ou superaram a meta de 30% de mulheres em seus boards, como Magazine Luiza, Totvs e Vivo. No entanto, ainda há companhias nesse índice que não possuem nenhuma mulher em seus conselhos.
Um dos mitos frequentemente usados para justificar essa baixa representatividade é o da suposta escassez de mulheres com formação adequada. No entanto, os dados sobre o ensino superior no país mostram que essa afirmação não se sustenta. De acordo com as informações mais recentes publicadas pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o número de mulheres matriculadas no ensino superior brasileiro supera o de homens há mais de uma década.
Fonte: Instituto SEMESP, base INEP (dados de 2023 ainda não publicados).
O que se constata é uma desproporção de representatividade não apenas em relação aos dados demográficos do país, mas também à formação já consolidada do público feminino.
O 30% Club atua para influenciar presidentes de conselho e CEOs a adotarem medidas concretas que promovam a diversidade de gênero na alta liderança e nos conselhos de administração de empresas listadas nas bolsas de valores dos países do G20. No Brasil, o capítulo local estabeleceu metas claras: alcançar 30% de mulheres nos conselhos das empresas do IBrX 100 até 2026 e 50% até 2030.
Para atingir esses objetivos, o movimento mantém comitês liderados por voluntários que se relacionam com lideranças empresariais, organizam eventos e promovem um prêmio anual para as companhias que alcançam os índices propostos.
Entre as principais iniciativas, destaca-se o Comitê de Educação, responsável por promover o acesso de mulheres à formação executiva por meio de parcerias com instituições renomadas de negócios. Essas instituições, alinhadas à missão do 30% Club, oferecem bolsas de estudo exclusivas em programas de gestão, governança e liderança.
Para o mercado de capitais, a representatividade de gênero deixou de ser apenas uma pauta social e tornou-se um diferencial competitivo, associado à governança, reputação e desempenho organizacional. À medida que iniciativas como essa ganham escala, o objetivo é não apenas aumentar o número de mulheres em conselhos, mas também transformar a cultura corporativa e inspirar futuras gerações de líderes.
Diversos estudos comprovam que a presença feminina em cargos de liderança está associada a melhores resultados empresariais. Relatório da Harvard Business Review (2025) mostra que equipes com maior equilíbrio de gênero mantêm padrões mais altos de integridade e qualidade de decisão. A pesquisa global Diversity Matters Even More, da McKinsey (2023), indica que empresas com maior diversidade executiva têm até 39% mais chances de superar financeiramente seus pares. No Brasil, estudos da FGV (2023) e da MSCI (2023) reforçam que conselhos com presença feminina adotam práticas de governança mais sólidas, maior transparência e melhor desempenho em ESG.
Essas evidências demonstram que a diversidade de gênero é, além de uma questão de equidade, um fator de competitividade e sustentabilidade corporativa comprovado por dados.
Ana Paula Candeloro, Isabela Salton, Jane Aparecido e Marina Gelman
são integrantes do Comitê de Educação do 30% Club Brazil.
30percentclubbrazil@30percentclubbrazil.org