Ponto de Vista

A NOVA ERA DO PROFISSIONAL DE RI: DO MERCADO DE CAPITAIS À CONSTRUÇÃO DE ECOSSISTEMAS DE CONFIANÇA

Cada vez mais valorizado, o profissional de Relações com Investidores amplia sua atuação para gestoras, fintechs e plataformas de investimento, tornando-se peça-chave na conexão entre transparência, reputação e crescimento sustentável.

Durante muito tempo, o profissional de Relações com Investidores foi visto quase como um burocrata do mercado de capitais. O "porta-voz dos balanços", o tradutor dos relatórios financeiros e das assembleias, responsável por relatar resultados e cumprir obrigações regulatórias. Essa visão é ultrapassada e, sinceramente, limitadora. O amadurecimento do mercado financeiro e o crescimento do investimento alternativo vêm transformando essa função em algo muito mais abrangente e estratégico.

Hoje, o RI é um estrategista da confiança, alguém que entende de mercado, reputação, comportamento e propósito. E essa transformação está acontecendo não apenas nas companhias abertas, mas também em gestoras, fintechs e plataformas de investimento que descobriram algo simples, mas essencial: sem confiança, não há captação, não há crescimento, não há futuro. O RI contemporâneo atua em um ecossistema complexo, onde informação, credibilidade e experiência do investidor são ativos tão estratégicos quanto os financeiros.

Muitos ainda tratam a área de RI como uma exigência regulatória ou um item de checklist de governança. Isso é um erro. O RI é a linha de frente da reputação corporativa, um ativo que leva anos para ser construído e segundos para ser destruído. Quando o mercado passa por incerteza, é o RI quem segura a narrativa. Quando há turbulência, é ele quem mantém o investidor informado e o humor do mercado sob controle. E, em tempos de redes sociais e informações em tempo real, a ausência de um RI ativo e bem-posicionado é um risco estratégico.

Hoje, o profissional de RI não se limita a intermediar a comunicação entre empresa e acionistas. Ele se torna guardião da confiança e agente de construção de reputação em um ecossistema cada vez mais conectado, no qual informação, credibilidade e experiência do investidor são ativos tão valiosos quanto os financeiros.

Nas gestoras, o RI passou a exercer um papel essencial na construção de relacionamento com investidores qualificados e institucionais. Ao traduzir linguagem técnica em informação compreensível e transparente, ele reduz assimetrias e fortalece a percepção de segurança sobre produtos complexos, como fundos estruturados, FIDCs e ativos alternativos. É aqui que o RI se torna, de fato, o elo entre a técnica e o humano.

Não se trata apenas de reportar rentabilidade, mas de construir narrativa de valor que faz a ponte entre o racional e o emocional. Gestoras que comunicam com clareza suas teses de investimento, processos de governança e propósitos de impacto têm maior capacidade de atrair e reter investidores. E esse é o território natural do profissional de RI: traduzir performance em propósito e propósito em confiança. Tudo isso exige didática, transparência e empatia com o investidor.

A digitalização dos investimentos também abriu novas frentes para o profissional de RI. Em um mercado que vive a digitalização dos investimentos, o RI também se tornou o elo entre tecnologia e reputação. Plataformas e fintechs, por mais inovadoras que sejam, entenderam que tecnologia sem confiança é apenas código. O investidor de hoje é informado, exigente e atento a fatores como ESG, governança e coerência institucional e cabe ao RI garantir que o discurso da empresa seja compatível com sua prática.

Esse novo contexto exige um perfil multidisciplinar: o profissional de RI precisa entender de finanças, comunicação, tecnologia, comportamento e regulação. É alguém que dialoga com investidores, órgãos reguladores, imprensa especializada e, cada vez mais, com o público final. Essa amplitude de atuação torna o RI uma figura-chave na estratégia de posicionamento e de crescimento sustentável das instituições.

Nesse contexto, o RI atua como curador de informação e mediador de reputação, equilibrando o discurso institucional e as demandas sociais. Ele é quem garante coerência entre o que a empresa comunica e o que efetivamente entrega, uma tarefa cada vez mais complexa em tempos de alta exposição digital e volatilidade informacional. Mais do que cumprir uma função de bastidor, o RI é o curador da credibilidade corporativa. O mercado não perdoa ruídos, e a ausência de um RI ativo e bem-posicionado representa, hoje, um risco estratégico.

Em um cenário de fragmentação e desconfiança, o RI deixou de ser uma função de bastidor para ocupar papel central na estratégia corporativa. Ele dialoga com investidores, regulações, imprensa especializada e, cada vez mais, com o público final. A credibilidade construída nesse processo é um ativo intangível que pode reduzir custo de capital, atrair parcerias e abrir portas para novos mercados.

O futuro do mercado financeiro será definido pela capacidade de gerar confiança em escala, integrando dados, narrativa e propósito em um fluxo contínuo de transparência. E é o profissional de Relações com Investidores quem está melhor posicionado para liderar essa transformação. Seja em uma grande companhia listada na B3, em uma gestora de ativos alternativos ou em uma fintech que busca atrair novos investidores, sua missão é a mesma: construir pontes sólidas entre capital, propósito e sociedade.

Em um cenário de fragmentação e desconfiança, o RI se torna um dos poucos profissionais capazes de sustentar pontes sólidas entre o capital e a sociedade. Como sintetiza uma máxima cada vez mais verdadeira no mercado: dados constroem gráficos, mas relações constroem valor.


Vicente Guimarães
é Relações com Investidores da IOX, boutique de crédito especializada na originação e estruturação de teses de crédito high yield combinando rigor técnico, inovação e gestão de risco.
vicente@iox.com.vc


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