Tudo começou há três décadas, em uma sala improvisada de um andar do edifício World Trade Center, em São Paulo, praticamente sem funcionários. Ali, nascia o IBGC.
Os Avanços para Governança Corporativa e para o Mercado de Capitais no Brasil
Em 2002, Bengt Hallqvist um de nossos fundadores, escreveu: "O Instituto prestou uma grande contribuição ao colocar a governança corporativa na linha de frente dos debates gerais. Agora, é praticamente impossível abrir as páginas de negócios de qualquer jornal ou revista do Brasil, sem encontrar alguma referência ao tema governança corporativa".
Isso é verdade. Ninguém imaginaria que, em 2025, essa frase pudesse ser tão atual. Se o Brasil hoje discute governança com naturalidade e profundidade, é porque o instituto nunca deixou de trabalhar com muito empenho e entusiasmo pela sua disseminação e fortalecimento.
Em 1995, quando surgimos como Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração, o IBCA, debatia-se mundialmente, especialmente no Reino Unido, como aprimorar relatórios financeiros e medidas de accountability. Era recente a publicação do primeiro código de governança corporativa no mundo, o Relatório Cadbury, publicado em 1992, três anos antes de nossa fundação.
Em 1999, já com o nome atual, o IBGC lançou o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, publicação que se tornaria referência para o mercado de capitais e que hoje está em sua sexta edição. A parceria com a Bolsa de Valores, hoje a B3, vinha desde os primeiros anos de instituto, lançamos o primeiro Código em seu pregão e realizamos por lá o 1º Congresso Brasileiro de Governança Corporativa, em 2000.
Trabalhamos com contribuições nas reformas da Lei das S.A. (2001) e de normas de contabilidade alinhadas a padrões internacionais (2007), passando pelo debate da Lei Anticorrupção (2013) e da Lei das Estatais (2016). Fortalecemos parcerias com os mais importantes órgãos do mercado brasileiro, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
O IBGC coordenou o grupo de trabalho Interagentes, que deu origem ao Código Brasileiro de Governança Corporativa – Companhias Abertas. O documento é um marco na história do mercado de capitais do Brasil e adota a abordagem “pratique ou explique”, que foi incorporado à regulação com a edição da Instrução 586 da CVM, de 2017. Entretanto, nenhum desses avanços teria acontecido sem o componente humano que o IBGC sabe cultivar. O instituto sempre entendeu que governança começa pelas pessoas e continua nelas.
Sabemos que as preocupações são um pouco diferentes daquelas de 1995, quando tudo começou. Com a digitalização acelerada, os riscos climáticos, a inteligência artificial, o contexto geopolítico exercendo grande influência, a pressão por propósito exige conselhos de administração mais preparados do que nunca.
Por isso, temos trabalhado em temas como o avanço das agendas de governança de dados, cibersegurança, diversidade cognitiva e impacto socioambiental, intensificando nossa participação inclusive nas Conferências das Partes, as COPs, como a última ocorrida em Belém. Atuamos em 12 regionais no Brasil articulando e renovando uma cultura de tomada de decisão no país. E trouxemos a família empresária para todo esse debate como pilar estratégico, já que grande parte das empresas no Brasil são familiares.
Há muito a se fazer. Os próximos 30 anos, certamente, trarão novos desafios, na esteira das mudanças climáticas, com imprevisibilidade econômica, tensões políticas e disrupção tecnológica. Porém, o IBGC chega a essa nova etapa com algo que não se improvisa: refiro-me à maturidade, reputação e uma rede de pessoas profundamente comprometidas com um propósito claro.
A energia que nos impulsiona é a convicção de que uma governança corporativa eficaz é essencial para fortalecer o mercado de capitais, promover o desenvolvimento econômico sustentável e contribuir para uma sociedade mais sólida e próspera. Celebrar o nosso hoje é também inspirar o futuro.
Que venham os próximos 30 anos.
Valeria Café
é diretora-geral do IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
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