Estratégia

VI$ÃO ESG: NEGÓCIOS RESILIENTES

Em meio à crescente volatilidade e à combinação de riscos potencializados por complexas condições macroeconômicas e dinâmica geopolítica, é crucial moldar a estratégia das organizações, visando o enfrentamento e tomada de decisões com velocidade e estratégia integrada ao modelo de negócio que proporcione alta resiliência.

Observando os últimos anos, operamos num mundo em que devemos esperar o inesperado. Como tomar decisões assertivas, especialmente de longo prazo, diante de tantas incertezas?

Neste canário, é notável que velejar não consiste simplesmente em controlar o vento, e seguir o mapa cartográfico, mas é vital seguir ajustando habilmente as velas para navegar através da tempestade com baixa viabilidade do horizonte. Num mundo moldado pela aceleração da mudança, a resiliência emergiu como a capacidade essencial para a sobrevivência e o sucesso, enfrentando as crises, e se desafiando a prosperar diante delas.

“O futuro já chegou – só está mal distribuído.” A frase do autor de ficção científica William Gibson, conhecido por seus livros visionários sobre revoluções tecnológicas, reflete-se nos resultados da 28ª Global CEO Survey da PwC, realizada com base nas respostas de mais de 4.700 líderes empresariais em mais de 100 países, incluindo o Brasil, que trouxe o seguinte cenário: “Alguns CEOs avançam rapidamente para explorar o potencial de crescimento e geração de valor das forças que definem a era atual. Eles investem em inteligência artificial generativa, atuam para aproveitar as oportunidades e enfrentar as ameaças trazidas pelas mudanças climáticas e reinventam suas operações e modelos de negócios para gerar valor, inovação e garantir sustentabilidade. Mas muitos ainda avançam lentamente, limitados por visões de liderança e processos que levam à inércia”.

Ainda de acordo com a Survey, muitos líderes reconhecem a necessidade de reinventar seus modelos de negócios: 45% dos CEOs no Brasil e 42% no mundo acreditam que suas empresas não serão viáveis por mais de 10 anos se mantiverem o rumo atual.

Diante de tal realidade, os desafios estão postos. As organizações enfrentam riscos sem precedentes, com tecnologia (cibersegurança, inteligência artificial), mudanças regulatórias, mudanças no mercado (inflação, políticas comerciais), adaptação visando reduzir os impactos e riscos climáticos, emergindo como as principais preocupações. A resiliência deve tornar-se um elemento central do planejamento estratégico de longo prazo, ao invés de ser tratada como um problema independente.

A consciência da resiliência, necessariamente, passará pela governança dos Aspectos Socioambientais – ESG, apresentando a continuidade de uma crescente atenção das empresas. As organizações devem mapear como esses aspectos precisam e devem, de forma pragmática, serem inseridos no modelo de negócio, sentir-se preparadas para perturbações atuais e futuras, transformando o jeito de fazer negócios de forma estrutural, possibilitando uma estratégia para negócios sustentáveis, sem distrações em direção a resiliência econômica.

De acordo com o Fórum Econômico Mundial (WEF), cerca de 44 trilhões de dólares em geração de valor econômico global, mais de metade do PIB global em 2019, dependem moderada ou altamente dos ativos naturais e dos seus serviços ecossistêmicos. Uma nova análise da PwC divulgada em abril de 2023 atualizou esse número, concluindo que 55% do PIB global, equivalente a cerca de 58 trilhões de dólares, é moderada ou altamente dependente da natureza.

Desde a virada do século, a economia verde cresceu de US$ 1,3 trilhão para quase US$ 8 trilhões em capitalização de mercado. Se considerado um setor independente, seria o quarto maior em capitalização de mercado. Apresentou uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 15% na última década, perdendo apenas para o crescimento do setor de Tecnologia.

Dados da LSEG mostram que as receitas com produtos e serviços verdes sob sua cobertura ultrapassam US$ 5 trilhões pela primeira vez. A economia verde global foi avaliada em US$ 7,9 trilhões no primeiro trimestre de 2025, ou 8,6% dos mercados de ações listados. Em renda fixa, o mercado de títulos verdes de US$ 2,9 trilhões permaneceu robusto, com novas emissões recordes de US$ 572 bilhões em 2024 – um aumento de 10% ao ano.

Muitas organizações permanecem focadas em atender às necessidades imediatas, favorecendo ações defensivas de curto prazo em detrimento estratégias voltadas para o futuro. Em todos os setores, esforços de resiliência tendem a priorizar recursos financeiros e estratégias digitais, muitas vezes criando uma certa miopia intencional para temas fundamentais, como a previsão e prontidão para redefinir ou recalcular a rota com foco na perenidade do negócio. Esse desequilíbrio cria vulnerabilidades que podem prejudicar as organizações e sua capacidade de navegar pela incerteza prolongada.

A liderança desempenha um papel fundamental na construção da resiliência, e deve ser fortalecida em todos os níveis. Os CLevels e conselheiros, devem avaliar diversas perspectivas para impulsionar a tomada de decisão equilibrada, com disponibilidade e preparo para calibrar a direção e a velocidade por meio de visão de futuro planejamento de cenários que contemplam estrategicamente os aspectos ESG e sua influência no modelo de negócio.

Por todos esses temas aqui compartilhados, surgiu a construção de um livro com a ambição de instigar a intencionalidade de uma Vi$ão ESG capaz de pavimentar o caminho rumo a uma Economia Resiliente, para a liderança empresarial, que deseja compreender como o ESG deixa de ser uma pauta abstrata e passa a se consolidar como um critério estratégico de sobrevivência e competitividade no mundo corporativo. Esse projeto surgiu a partir da inquietação de profissionais que, como eu, mesmo atuando em setores distintos, perceberam um desafio comum: a distância entre o discurso e a prática nas estratégias ESG adotadas por empresas brasileiras. Dessa forma, o livro foi idealizado em parceria com meus colegas Filipe Alvarez, Gustavo Loiola, Orlando Nastri. Baseado em uma série de entrevistas exclusivas com CEOs, conselheiros e executivos de alto escalão, o livro oferece uma visão profundamente pragmática, aplicada e ancorada na realidade vivida por quem toma decisões críticas em setores estratégicos como energia, aviação, alimentos, serviços financeiros e infraestrutura. A partir de mais de uma dezena de conversas realizadas entre 2024 e 2025, os autores revelam os dilemas, aprendizados, resistências e avanços que moldam a implementação do ESG no Brasil.

O livro abstraiu do contexto os discursos teóricos ou manuais genéricos. Ao contrário, oferece insights baseados em experiências concretas: como lidar com riscos materiais relacionados à mudança climática? De que forma métricas ESG afetam decisões de crédito e alocação de capital? Qual o papel da governança na prevenção de crises reputacionais e legais? Como grandes empresas transformam externalidades em oportunidades estratégicas? As respostas surgem da escuta ativa de líderes que, com coragem e método, têm reconfigurado suas operações para alinhar crescimento econômico com responsabilidade social e ambiental.

À medida que as empresas se concentram em abordar riscos imediatos, a resiliência de longo prazo, muitas vezes, é levada no banco traseiro, como mera carona, revelando uma lacuna crítica na sustentação, preparação e esforços para construir negócios resilientes.

A construção de resiliência requer liderança unificada de diretores executivos, conselhos e formuladores de políticas. Enfrentar eficazmente estes desafios depende nos esforços coletivos para mobilizar recursos, aproveitar experiência e incentivar a inovação em escala. Ao trabalharem em conjunto, as partes interessadas garantem que resiliência se torna uma base para prosperar em um mundo cada vez mais complexo e interligado.

A Visão ESG, focada na Resiliência do negócio, requer apoio da liderança em todos os níveis, com ênfase em agilidade, preparo para navegar em mar aberto,  lidar com cenários imprevísíveis, planejar e aproveitar uma cultura de inovação, com capacidade de gerar impacto positivo (inovabilidade).

O caminho sustentável e resiliente, não se trata de uma corrida de 100m, ele exige preparo e musculatura necessária para a jornada, sem linha de chegada, que se conecte com futuro, como um farol alto no longo prazo, é uma responsabilidade compartilhada que requer coragem, liderança protagonista e ação em todos os níveis e setores. O compromisso para impulsionar essas transformações e incorporar a resiliência no cerne da estratégia, possibilitam mitigar os riscos futuros e alcançar novas oportunidades para o desenvolvimento econômico consistente.

Onara Lima
é executiva de Sustentabilidade ESG. Formada em Engenharia Ambiental/Sanitária e Engenharia de Segurança do Trabalho, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, Especialização em Gestão de Pessoas pela FIA, Sustainable Business Strategy - pela Harvard Business School, ESG Risk Management – pela University of Cambridge, Conselheira de Administração formada pelo IBGC. Empreendedora/Fundadora da marca ESG Advisory Onara Lima.
www.onaralima.com.br


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