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Um mês antes de Belém do Pará tornar-se o centro das atenções do mundo ao sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 30), que começa em 10 de novembro, São Paulo terá um evento também relevante. Nos dias 8 e 9 de outubro, realiza-se o 26º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Um dos seus painéis discutirá como o setor privado e os conselhos de administração podem e devem contribuir para que o Brasil cumpra suas metas climáticas.
O foco da entidade no tema enfatiza que o engajamento empresarial será decisivo para que os compromissos assumidos pelos governos traduzam-se em resultados concretos. Afinal, sem a participação ativa do setor privado, a meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais corre o risco de permanecer apenas como um ideal distante.
Lembro que as empresas nacionais devem comprometer-se de modo mais enfático com os compromissos do Brasil. Porém, em julho de 2025, o governo brasileiro propôs uma revisão mais ambiciosa, visando reduzir as emissões líquidas em 48% até 2025 e 53% até 2030, comparado ao ano de 2005, e busca uma neutralidade climática até 2050. A COP30, será um marco para a avaliação dessas metas. Ao se engajarem de modo cada vez mais profundo nessas metas as empresas atendem de modo mais efetivo aos anseios da sociedade, de seus stakeholders e dos investidores, cada vez menos dispostos de colocar seus recursos em organizações pouco focadas em sustentabilidade.
É nesse aspecto que a governança corporativa assume protagonismo. Mais do que um arcabouço de boas práticas, ela é a engrenagem que transforma intenções em realidade, dando forma e consistência às políticas de sustentabilidade. O papel dos conselheiros de administração é determinante nesse processo. Cabe a eles assegurarem que as empresas adotem estratégias claras, com metas factíveis, métricas de acompanhamento e, sobretudo, coerência entre discurso e prática. Por essa razão, o IBGC estará presente à COP 30, acompanhando tudo in loco e disseminando a visão de que a governança é instrumento essencial para alinhar o setor privado às urgências climáticas.
Não à toa, a sexta edição do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC inclui “sustentabilidade” entre seus princípios, ao lado de integridade, transparência, equidade e responsabilização. Não há como dissociar negócios de seus ecossistemas natural, social e econômico.
O desafio é que CEOs, conselhos e diretorias executivas incorporem essa visão, transformando boas intenções em políticas concretas e métricas de impacto. Isso exige, mais do que relatórios bonitos ou prêmios, ambientes colaborativos de confiança, diálogo e corresponsabilidade, nos quais a diversidade, a integridade e a inclusão sejam valores vividos no cotidiano.
Porém, se houve avanços, ainda há muito a caminhar. O estudo mais recente do IBGC sobre relatórios de sustentabilidade de companhias abertas mostra avanços relevantes, mas também lacunas que precisam ser preenchidas. Quase todas as empresas (95%) seguem as normas da Global Reporting Initiative (GRI), um padrão internacional que define critérios para que as informações sobre sustentabilidade sejam comparáveis, consistentes e auditáveis. Isso revela maturidade, mas também a necessidade de ir além do cumprimento formal.
A maior parte das informações publicadas concentra-se nos planos ambiental (38,3%) e social (37,0%), enquanto a governança corporativa recebe menor atenção (24,7%), embora seja justamente a dimensão que sustenta as demais.
No viés ambiental, há pontos positivos: 91% dos relatórios tratam de temas como gestão de resíduos e efluentes, energia e mudanças climáticas. Entretanto, temas cruciais como poluição e meta de desmatamento zero ainda recebem baixa atenção. O estudo também revela nuances relevantes: empresas estatais dão maior ênfase à governança (29,6% do conteúdo de seus relatórios), mas são as que menos reportam sobre meio ambiente (33,1%).
As companhias privadas apresentam maior reporte ambiental (39%). Setores de alto impacto, como embalagens (54,7%), agricultura (53,8%) e mineração (52,3%), lideram a divulgação sobre questões ambientais, enquanto o saneamento destaca-se no uso da matriz de materialidade, presente em 63,6% de seus relatórios. Esses dados mostram que, embora a agenda ESG esteja presente, ainda falta integração plena entre discurso e prática.
Esse quadro ganha mais relevância a partir de 2026. Todas as companhias registradas nas categorias A e B da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deverão adotar no ano que vem as normas IFRS S1 e S2, definidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB) e adaptadas ao Brasil pelo Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade, conforme determina a Resolução 193.
Vale explicar: companhias de categoria A são aquelas que podem emitir ações e outros valores mobiliários negociados em bolsa; as de categoria B estão autorizadas a emitir apenas títulos de dívida. Ou seja, a exigência alcança tanto organizações com capital aberto em bolsa quanto aquelas que recorrem ao mercado para captar recursos via emissão de dívidas.
Isso significa que o reporte de informações socioambientais deixará de ser uma prática opcional e se tornará obrigação. O IBGC e o Chapter Zero Brazil anteciparam-se, elaborando o Guia para conselheiros: normas de sustentabilidade IFRS S1 e S2, ferramenta fundamental para orientar os líderes empresariais e conselheiros nesse processo.
O Brasil tem a chance de mostrar ao mundo, na COP 30, que o setor privado pode ser protagonista na luta contra o aquecimento da Terra. Isso significa uma oportunidade para as empresas de todos os ramos se engajarem, especialmente junto às suas respectivas cadeias de valor, de modo mais amplo e acentuado na agenda do clima e natureza. Para as companhias listadas em bolsa, as iniciativas no campo da sustentabilidade significam fortalecer sua confiança no cenário do mercado de capitais e perante os investidores. Cabe aos conselhos de administração liderarem essa transformação, lembrando que cada decisão tomada em sala de reunião pode repercutir muito além dos muros das organizações, somando-se aos fatores que definirão o futuro do planeta.
Sandra Morales
é gerente de Impacto Socioambiental do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
comunicacao@ibgc.org.br